Antes era o nada! Depois surgiu a explosão em toda a sua magnitude, e aí apareceu a ideia de um Deus, criando o homem, e, ao mesmo tempo, fazendo surgir a palavra. E o homem, contente consigo mesmo, começou a falar e a conquistar o seu mundo por intermédio da palavra. E conquistou a mulher, dando-lhe filhos.

Utilizou-se da palavra para se maravilhar com as suas descobertas, perpetuar  a sua experiência, acumular seu conhecimento. E para não deixar se perder tudo isso  acabou criando a palavra escrita. E ele fez da palavra escrita e da palavra falada os instrumentos para conquistar fieis, dominar territórios, exercer o poder.

E estando no poder o homem sempre se utilizou da palavra para enganar os seus governados, justificar cargos para os seus amigos, esconder a corrupção e as mordomias, aprisionar seus inimigos, dar as várias bolsas que servem para manter  pobre na pobreza, retendo e dominando o seu voto.

E o homem foi criando novas palavras para velhas coisas, traduzindo-as em  idiomas novos, diversificando-as na torre que buscava a própria palavra em sua origem.

Mas a palavra sempre se impôs ao homem, sempre perdurou  além de qualquer discurso. E quando não há mais a presença do homem, ainda assim seu nome é perpetuado para além da sua efemeridade, pois continua existindo as renitentes palavras, marcando a sua passagem pela vida: AQUI JAZ…

E quando a palavra é transformada em impulso eletrônico, em onda magnética, em painel luminoso, concretiza-se na matéria etérea do significado da qual é feita, sempre buscando na ausência da verdade uma realidade mentirosa e medíocre que diariamente se apresenta na televisão.

Dominá-la ou entregar-se ao domínio que ela impõe eis o sentido último do encanto, do jogo, da paixão, e da devoção e vício, ainda mais quando são juntadas na formulação de uma mensagem semanal, mesmo suspeitando-se sem leitor nenhum.

Quanta grandeza na palavra que defende ou acusa, ou que sentencia! E nessa sentença, infelizmente,  nem sempre se fazendo justiça, ofendendo e desacreditando os do povo. Mas é a palavra que incentiva e conduz à mudança, como naquela linda canção: “nada muda se você não mudar”.

E no último momento na jornada aqui na terra, é a palavra que prepara para a caminhada ao eterno, ao desconhecido. É a extrema-unção, quase sempre, a palavra final.

A palavra, sempre a palavra, tão importante que mesmo quando não há voz, o homem se faz entender nas suas alegrias e nas suas tristezas, escrevendo-a ou traduzindo-a em sinais feitos pelas mãos. A palavra, sempre a palavra, diminuindo ou elevando  o homem diante de Deus, notadamente quando ela, pequenina, se alicerça naquele sentimento maior e mais nobre da  alma humana, o perdão…

PS = Esta crônica é publicada a pedido de um leitor. Pretende o mesmo entregá-la ao seu amigo italiano de Rímini, traduzida.

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