“Os lobos”, de Rainer Opolka – empresário e escultor alemão que combate o ódio racial, com esculturas que simbolizam o pior do ser humano. Berlim, 2016

UMA ONDA DE INTOLERÂNCIA e ódio se espalha pelo planeta, como uma corrente elétrica subterrânea que, aos poucos, se projeta para fora. O ódio é um dos filhos da paixão que cega e ensurdece, mas não emudece. Ao contrário, destrava a língua e amplia o som das palavras.

O ódio desperto se materializa em ações brutais, cometidas em nome de “Deus”, da “Justiça”, da “Fé” ou de qualquer outra coisa.

Toda ideologia que retira do indivíduo a capacidade de enxergar, ouvir, refletir e fazer a sua própria escolha, tende a levar ao ódio. Seja contra os cristãos, na Antiguidade, contra as mulheres, na Idade Média, contra negros, judeus, homossexuais, sírios e até partidos políticos de hoje. Tanto faz. O alvo é móvel e cíclico, mas invariavelmente aponta para as diferenças.

Há alguns anos, quando professora de História de uma renomada escola da capital, propus uma experiência a cinco alunos do terceiro ano do curso médio. O tema em questão era a migração em massa e os seus desdobramentos, como a xenofobia.

Chamei particularmente cinco alunos e pedi que, a partir do dia seguinte e ao longo de quinze dias, usassem durante todas as aulas uma bandana colorida na cabeça e mais: que sob qualquer pretexto contassem aos colegas que participavam de um experimento. Se questionados sobre a novidade, fossem vagos nas respostas.

No início, o lenço colorido despertou a curiosidade dos demais. Na primeira semana passou a incomodar a classe, que se referia a eles como “os da bandana”. Num crescendo, o pequeno grupo foi hostilizado e, para culminar, tornou-se alvo de briga na hora do intervalo. A experiência terminou ali, bem antes do prazo estabelecido.

Eram apenas cinco bandanas no meio de uma centena de bonés e cabeças descobertas – mas significavam a diferença que, segundo os resultados obtidos, deve ser achincalhada, combatida e, por fim, eliminada.

O caminho para vencer a intolerância passa pelo acesso à informação e à educação. O mundo é colorido e lindo, e pouco importa se você gosta mais ou menos de uma das sete cores principais. São elas que individualmente ou misturadas, compõem a diversidade da gigantesca paleta da criação.

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