Anita Liberalesso Neri vê a passagem do tempo como uma aliada
Presidente da Academia Saltense de Letras, a escritora, professora e psicóloga chega aos 77 anos realizada com o que fez e animada ainda com o que fará, pois se considera uma incansável
Presidente da Academia Saltense de Letras, a escritora, professora e psicóloga Anita Liberalesso Neri encara o tempo como um espaço de realizações. Sob esse aspecto, não perder tempo é realizar mais. Talvez seja por isso que ela tenha começado a ler aos cinco anos. “Eu li tudo o que me passou por perto e gostava de estudar”, lembra.
A menina que só comia para não morrer de fome como reclamavam os pais, se dedicou a conquistar uma formação sólida e se tornou professora e psicóloga, fez mestrado e doutorado em psicologia na USP, livre docência em educação na Unicamp e dedicou a maior parte de sua carreira aos estudos sobre a velhice, suas perdas e ganhos, seus limites e possibilidades em sociedades plurais.
Incansável
Hoje, aos 77 anos, completados no domingo (9), formalmente aposentada desde 2016, ela continua trabalhando como professora colaboradora no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unicamp, embora em um ritmo mais lento e sem tantas exigências como durante o período de vida ativa, em que se espera de um professor em fase avançada de carreira que dê aulas, oriente, pesquise, publique, exerça atividades administrativas, realize trabalhos de extensão universitária, vá a congressos e compareça a eventos variados em sua área.
Suas atividades se refletem em seus relatórios de atividades, que registram, ao longo da carreira, desenvolvida principalmente na PUC Campinas e na Unicamp, que ela orientou 111 teses de doutorado e dissertações de mestrado e publicou 203 artigos científicos, 146 capítulos de livros e 28 livros, todos na modalidade de literatura científica.
Atualmente está envolvida com a análise de dados e com a escrita de mais três artigos e com a orientação de um doutorado sobre solidão e isolamento social na velhice. “E estou vivendo o desafio de escrever um texto ficcional para submeter à publicação na antologia da Academia de Letras neste ano”. Para Anita, que hoje preside a Academia Saltense de Letras, fundada há 15 anos por seu pai, Ettore Liberalesso, e por outros 15 defensores da literatura e da cultura em Salto, escrever crônicas e contos é um desafio que está na sua alça de mira como escritora, recuperando um projeto abandonado na juventude.
Empenho
“Na Unicamp, de 1984 a 2016, eu dei aula, coordenei curso de pós-graduação e grupos de pesquisa, pesquisei, orientei, fui a congressos no Brasil e no exterior, fiz parte de sociedades científicas no Brasil e fora do Brasil e, em dois períodos, fui pesquisadora visitante na Alemanha”, relata. E continua: “na carreira científica, é necessário buscar constante aprimoramento, pois as mudanças são rápidas e exigentes. Por exemplo, as teses de doutorado de antigamente eram calhamaços de 300 páginas. Hoje o indicador de produtividade é a publicação de artigos científicos enxutos, mas informativos, em periódicos científicos, preferencialmente em inglês”, conta Anita. De acordo com a escritora, por artigo científico enxuto entenda-se algo com 6 mil palavras, cinco figuras ou tabelas e 35 referências bibliográficas, sendo pelo menos 50% dos últimos cinco anos e, dentre estas, 25% dos últimos dois anos. “Nossos artigos passam por revisões de outros cientistas que nem conhecemos”, disse ela.
Frutos
Se o trabalho de pesquisadora e docente exige muito, ao menos gera frutos importantes para a carreira e idealmente para a sociedade. Entre os livros que Anita Liberalesso Neri produziu podem ser citados os mais recentes “Fragilidade em idosos brasileiros: Estudo Fibra Campinas e Ermelino Matarazzo” (FCM Unicamp, 2023) e “Octogenários em Campinas. Dados do Fibra 80 +” (Alínea, 2019); os mais antigos: “Palavras-Chave em Gerontologia” (Alínea, 2014), “Idosos no Brasil. Vivências, desafios e expectativas na Terceira Idade” (SESC SP/Fundação Perseu Abramo, 2002), “Maturidade e velhice” (Papirus, 2001) e “Envelhecer em um país de jovens. Significados de velho e velhice, segundo brasileiros não idosos” (Ed. da Unicamp, tese de Livre Docência, 1991), e o primeiro deles: “Aprendizagem de leitura e escrita: pesquisa e ensino” (Símbolo, 1978).
Anita afirma que seu trabalho ao longo da vida foi um prólogo para o mais importante e o que a realiza hoje: viver junto com sua família, ver o desenvolvimento e estar com os filhos e netos, rir e conversar com os amigos, viajar, tocar piano (que aprendeu na infância) e orientar alunos e seguidores a partir do que aprendeu, do que conheceu e do que viveu.