RIOEC881IN65I_768x432A conquista da primeira medalha de ouro do Brasil na Olimpíada do Rio deve servir de reflexão de toda a sociedade que ainda hoje é preconceituosa e enormemente falsa. Uma sociedade que idolatra atletas que estão nos mais altos patamares do seu esporte, mas que não representam o país como deveriam, como no caso do futebol. Em contraposição aos milhões gastos com Neymar e companhia, a vitória mais importante da nação nos jogos foi de uma negra, pobre e Silva.

A história da judoca Rafaela Silva, moradora da Cidade de Deus, uma das mais perigosas favelas do Rio de Janeiro, é um exemplo do quanto negro, pobre e Silva são obrigados a lutar neste país. Na Olimpíada de Londres, em 2012, ela foi desclassificada por um golpe irregular e amargou uma perseguição racista sem tamanho que quase a fez desistir. Não é à toa que desabafou aos microfones da Globo após a conquista: “O macaco, que tinha de estar na jaula, hoje é campeão”.

Mas ela não se ilude com a sociedade que rejeita e que depois vira sua fã por conta do que mostrou, tanto que evitou receber ligações e falar com as pessoas que não fossem da sua família. Muita gente foi abraçá-la querendo ver a sua medalha e o seu Instagram pulou de 10.000 seguidores para 90.000 após a conquista. Até Neymar e Marta foram cumprimentá-la como que reconhecendo que o esforço e a dedicação dela foram capazes de mudar a sua própria história.

Na verdade, o grande reconhecimento deve ser dado ao Instituto Reação, projeto social de Flavio Canto, medalhista de bronze em Atenas 2004, que atende mais de 1.200 alunos desde 2003. Foi lá que Rafaela encontrou amparo e força para construir a sua carreira de atleta, mesmo que tenha ganho um quimono de presente bem maior que o seu corpo. Foi lá que os seus professores tiravam do próprio bolso para que ela pudesse viajar para competir até chegar à medalha agora.

E o que é mais importante é que Rafaela Silva não viajou na vitória. Em vez disso ficou pensando no quanto é bom para as crianças que estão assistindo ao judô agora. “Ver alguém como eu, que saiu da Cidade de Deus, que começou o judô com cinco anos como uma brincadeira, ser campeã mundial e olímpica, é algo inexplicável”, disse. São atletas como ela que inspiram crianças e adultos, em país carente de heróis, a continuar sonhando que é possível e sempre é.

Muito diferente do futebol.

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