Autor de quatro livros mesmo com paralisia motora, empresário se tornou membro honorário da Academia Saltense de Letras
Liderados pela vice-presidente da ASLe, Marilena Matiuzzi (2ª à esq), acadêmicos entregam o título de membro honorário ao empresário João Marcos Andrietta
O desespero que se poderia sentir ao olhar o mundo como se os olhos fossem uma janela com grades, de onde não se pode sair, se transforma rapidamente em um olhar intenso de fé, de esperança e de vida para quem se defronta com João Marcos Andrietta.
Essa foi a impressão que um grupo de seis integrantes da Academia Saltense de Letras viveu, na segunda-feira (21), durante a cerimônia oficial que introduziu o empresário do ramo de artefatos de borracha como membro honorário da instituição.
Preso a uma cama há 12 anos, vítima da Esclerose Lateral Amiotrófica que o acomete há 14 anos, doença causadora de paralisia motora 18 meses após o seu surgimento e que mata em três anos, João Marcos Andrietta é um exemplo de resistência.
Mais que isto, ele transformou a sua condição em uma motivação para criar e produzir literariamente. Mesmo mexendo apenas os lábios, os olhos e as sobrancelhas, ele escreve dez horas por dia. E consegue ver, ouvir e entender tudo que se passa ao seu redor.
Nesse tempo de enfermidade já são quatro livros escritos com o auxílio de programas de computador, adaptados pelo irmão Paulo e o sobrinho Lucas, que permitiram escrever apenas com a pressão dos lábios em um mouse adaptado ao programa Grid2.
Produção literária
No início, João Marcos utilizou o programa de computador Mytobii, que captava o movimento da íris e o combinava com um piscar de olhos para estabelecer a comunicação. Mas, como usa óculos, a calibração do equipamento ficou cansativa e improdutiva.
Hoje usa o novo programa e uma tabela alfanumérica, com a qual auxiliares, de áreas multidisciplinares, interpretam o movimento de sobrancelhas dele, formando letra por letra até a construção da frase inteira e ao longo do tempo o texto de todo o trabalho.
O livro em que conta passo a passo como adoeceu, como vive com a doença e como espera a cura, intitulado “Momento de viver” vendeu 2 mil cópias na primeira edição e outras 3 mil na segunda e toda a renda foi revertida para entidades beneficentes.
João Marcos escreveu também “Reflexões das Cartas de Frederico Ozanam”, “Servir com simplicidade” e “Sinal de vida” (este último será lançado em 2023), além dos volumes 1 e 2 da revista “Esperança na dor”, e em todos fala sempre de fé, vida e esperança.
Novo imortal
“São a sua resiliência, amor à vida e vocação para a defesa do semelhante, que sempre pautaram a sua vida e produziram essas obras, que fizeram a Academia Saltense de Letras escolhê-lo”, discursou Marilena Matiuzzi, cadeira 39, patronesse Cora Coralina.
Representando a presidente Anita Liberalesso Nery, cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel, que não pôde estar presente, Marilena reforçou que agora João Marcos se tornava imortal e que passará a participar de todas as reuniões da Academia.
Em retribuição, o empresário pediu que a esposa Cirlene Andrietta, companheira há 37 anos e com quem tem duas filhas, entregasse à comitiva uma carta que redigira, na qual diz da sua alegria em integrar o grupo de acadêmicos e da sua fé e esperança.
Ele fez questão de mostrar ao grupo como opera o computador, deixando a todos impressionados, e a cada fala de cada membro da comitiva, se manifestava interagindo com a ajuda de uma enfermeira e construía a resposta no movimento de sobrancelhas.
Rapidamente, com a destreza que adquiriu na prática diária, João Marcos revelou que fez vários cursos online e que consegue escrever e ler e-mails e até reproduzir voz usando toques suaves no mouse adaptado: “Sou muito grato a Deus”, concluiu.
Emoção e fé
A comitiva de acadêmicos que levou o título de membro honorário foi formada também por Valter Lenzi, cadeira 6, patrono Mário Dotta, e Jorge Duarte Rodrigues, cadeira 29, patrono Pablo Neruda, proponentes do título, aprovado unanimemente em 3 de setembro.
Ainda integraram o grupo o ex-presidente da Academia Saltense de Letras Antônio Oirmes Ferrari, cadeira 7, patrono Machado de Assis; Alberto Manavello, cadeira 9, patrono José de Alencar; e Eloy de Oliveira, cadeira 31, patrono João Cabral de Mello Neto.
Em suas falas, os acadêmicos enalteceram a luta pela vida e a intensa fé e devoção de João Marcos Andrietta, tendo como destaque a confissão de Manavello, que se emocionou ao dizer que o homenageado reforçou a sua fé em Deus.
Alberto Manavello (à dir.), cadeira 9, patrono José de Alencar, presenteia João Marcos com seus livros entregues à esposa dele Cirlene
“Sempre fui um homem de oração. Todos os dias peço as graças de Deus para mim, para minha família e para a minha comunidade. Na minha comunidade, você brilha sempre. Por isto, quero te confessar que cresci muito na oração por você”, disse ele.
Ao final, a vice-presidente disse que a cerimônia foi a posse mais bonita que a Academia já fez. Os acadêmicos deixaram a casa do empresário encantados com a sua resiliência. “Quando achar que as coisas estão ruins, pensarei nele”, disse Antônio Oirmes Ferrari.
Médico diz que sua vida foi mudada por João Marcos Andrietta
O professor doutor Acary Souza Bulle Oliveira, neurologista da Escola Paulista de Medicina, diz que a sua vida foi modificada pela experiência que viveu com João Marcos Andrietta e sobre como ele enfrenta a doença degenerativa, que o imobilizou há 12 anos.
“Quando fiz o curso de medicina e residência médica, em 1981, e depois no pós-doutorado, sempre tive para mim que uma doença com a qual eu não queria lidar era a Esclerose Lateral Amiotrófica e, em uma pesquisa, seis em cada dez não querem também”.
O médico classifica a doença como dramática, porque vitima o paciente, seus familiares e a equipe de cuidadores. “Todos são afetados. Além disso, ela é rápida. O diagnóstico sai em 12 meses. A paralisia ocorre em 18 meses e a morte em 36 meses”.
Mas ele diz que se surpreendeu com João Marcos Andrietta, pois ele convive com a doença há 14 anos. Para se ter uma ideia da dificuldade, ele respira por traqueostomia (corte na garganta) e com a ajuda de respirador e se alimenta por sonda ligada ao estômago.
Até metade do tempo de enfermidade, João Marcos mexia o pé direito. Hoje são só os olhos, as sobrancelhas e a boca. Mesmo assim, ele tem toda a capacidade cognitiva saudável. Consegue ver, ouvir e perceber tudo o que ocorre ao seu redor, mas não fala.
O técnico da Seleção Brasileira, Tite, então no Corinthians, se impressionou com a perseverança de João Marcos
O que o mantém vivo, já que a doença mata em 18 meses? A pergunta é do médico e ele mesmo responde: “É a força de vontade de viver. João Marcos Andrietta foi o paciente que mais me impressionou. Ele não quer viver para ele e sim para o próximo”.
Essa missão a que se incumbiu é o que ele mais tem feito. Em seus livros mostra a sua fé e a sua esperança. Revela a sua conformação com a doença. E coloca a importância de se pensar no próximo sempre para que o outro cresça na fé.
“Aprendi com ele, com a doação que faz do seu talento para escrever e do esforço para viver, que a vida é muito importante. João Marcos Andrietta me fez gostar mais da minha vida. Não só ele, a família, os cuidadores. Muito obrigado a todos”, diz o médico.
Outro que se impressionou muito com João Marcos Andrietta foi o hoje técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Tite, quando dirigia o Corinthians, em 2015, e o recebeu em uma cama de UTI em pleno estádio em Itaquera para conhecê-lo e para torcer, fanático que é.
João Marcos Andrietta não mediu esforços para estar lá no jogo contra o Joinville pelo Campeonato Brasileiro. Ele sempre acompanhava o time do coração. Só parou por causa da doença e não conhecia a nova Arena Itaquera. Nem Tite pessoalmente.
O encontro emocionou o treinador, os jogadores e todos que estavam no estádio naquele dia. Mais ainda porque o Corinthians venceu por 3 a 0. Tite o homenageou com algumas páginas da sua biografia escrita por Camila Mattoso e com autógrafos.
No livro, o técnico da seleção conta a troca que fez com João Marcos Andrietta: além de toda a emoção do encontro, ele recebeu do torcedor um terço de São Vicente de Paulo, de quem os dois são devotos, e Tite lhe deu uma pulseira com seus santos de proteção.
Novo membro da Academia é engenheiro de produção e empresário
O novo membro honorário da Academia Saltense de Letras, João Marcos Andrietta, tem 62 anos, mestrado em engenharia de produção e é empresário do ramo de artefatos de borracha.
Entre 1985 e 2012, comandou a Elastotec Artefatos de Borracha Ltda, da qual foi sócio-fundador e que funcionava em Sorocaba. Por causa da doença, ele se aposentou e vendeu a empresa.
Casado com a pedagoga Cirlene Andrietta há 37 anos, teve as filhas Maria Amábile, hoje advogada e contadora, e Maria Paula, que se tornou enfermeira em razão da sua doença.
É fundador da Conferência Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Salto, área do Conselho Metropolitano de Jundiaí da Sociedade de São Vicente de Paulo.
Foi coordenador da Comissão de Jovens e presidente da Obra Unida Lar Frederico Ozanam, em Salto. E um dos principais responsáveis pela construção do prédio da entidade.
Também foi vice-presidente do Conselho Metropolitano de São Paulo em três mandatos consecutivos e diretor de comunicação do Conselho Nacional Brasileiro em dois mandatos consecutivos.
Ainda foi segundo-presidente do Conselho Brasileiro e, com a esposa, fez parte das Equipes de Nossa Senhora (Movimento da Igreja Católica que busca viver em santidade no matrimônio).
O novo membro honorário da Academia Saltense de Letras, João Marcos Andrietta, produz os seus livros usando um mouse adaptado, operado a partir da pressão dos seus lábios. Vítima da Esclerose Lateral Amiotrófica, o acadêmico sofreu paralisia motora. Hoje só mexe os olhos, as sobrancelhas e a boca.
Uma comissão de escritores da Academia Saltense de Letras fez a primeira avaliação dos 1.432 trabalhos concorrentes da 30ª edição do Prêmio Moutonnée de Poesia. Os vencedores serão conhecidos em um evento da Prefeitura de Salto, promotora do concurso, às 18h do dia 26 deste mês, na Biblioteca Municipal.
Cinco jurados, que são mestres e doutores em Teoria Literária, Linguística, Semiótica, Crítica e Estética, avaliaram a originalidade, criatividade e recursos estilísticos das obras selecionadas pela comissão da academia e apontaram cinco melhores no adulto e no juvenil, que receberão prêmios em dinheiro e em livros, além de um troféu concebido pelo artista plástico Marcelo Pranstetter.
O prêmio em dinheiro, um total de R$ 10 mil, será pago para os cinco primeiros colocados da categoria adulta. Os cinco primeiros da categoria juvenil receberão livros. O primeiro colocado de cada categoria receberá também o troféu estilizado pelo artista plástico.
O secretário da Cultura da Prefeitura, Oséas Singh Jr, disse que o troféu representa um mouton (carneiro) curvado, de onde se origina o termo moutonnée (acarneirado, com aspecto irregular, referindo-se à lã encaracolada). “Há diversos prêmios no mundo representados por animais. No nosso a sinergia do troféu é perfeita entre o nome do animal e a base de minério que remete à rocha”.
Também foram escolhidos no concurso poetas para receberem a menção honrosa. Os trabalhos dos vencedores e dos premiados com a menção honrosa vão integrar a Antologia Poética “Pós-Moderno; Pós-Tudo”, que será lançada no mesmo dia da premiação. O tema do concurso deste ano foi “Pós-Moderno; Pós-Tudo”.
Nesta 30ª edição do Prêmio Moutonnée de Poesia foram recebidos trabalhos de todos os Estados brasileiros, além de poesias de seis países: Espanha, Estados Unidos, Itália, Moçambique, Turquia e, principalmente, Portugal que concorreu com 16 poetas.
Trabalhos foram produzidos na forma de poesias, crônicas e contos a partir da proposta geral ‘Natureza, eu, tu e ela’, que dá título à obra
Com um evento marcado por simbolizações voltadas para a importância do meio ambiente, a Academia Saltense de Letras lançou neste sábado, 5 de novembro, na Biblioteca Municipal de Salto, a antologia Natureza, eu, tu e ela, da editora Mirarte, cujo mote foi destacar a necessidade de se preservar os recursos naturais.
A solenidade começou com a apresentação do Grupo de Danças Faces Ocultas, trajado de índio, para mostrar que eles, os índios, foram os primeiros a se preocupar com o meio ambiente, pois era dele que tiravam o sustento. A apresentação surpreendeu ao público ao começar no fundo do auditório, mas no piso superior, e apenas com sons da natureza. O piso superior da biblioteca foi construído como uma espécie de varanda para a observação do primeiro piso, o que permitiu à plateia ver o grupo olhando para cima e para trás.
Depois, os bailarinos caminharam pelas laterais do auditório, ainda no piso superior, e acabaram descendo ao palco no primeiro piso, reproduzindo as danças típicas indígenas e sua exploração do habitat. Ao final, o grupo percorreu o interior da plateia com passos tão rápidos e articulados, que não permitia se fixar o olhar em nenhum deles, o que envolveu os presentes. A apresentação terminou com os bailarinos percorrendo a exposição de quadros da artista plástica Gica Barbosa, montada no fundo do auditório.
Antes da cerimônia, foram os quadros dela que fizeram os participantes travarem contato com trabalhos especialmente preparados para a solenidade, que também são voltados para a natureza e produzidos a partir de elementos simples do cotidiano, como cascas de árvores, folhas e pó de café. Os quadros de Gica Barbosa chamaram a atenção pela riqueza de detalhes e pela representação fiel de feições e posturas dos animais que habitam a fauna brasileira, como a onça pintada e a arara azul.
“Nossa academia tem se colocado em defesa de temas pertinentes para toda a sociedade, como no caso do meio ambiente, que vem muito a calhar agora, porque neste mês teremos a Conferência do Clima no Egito (a Cop 27, na qual quase 200 países discutem, entre 6 e 18 deste mês, ações globais para mitigação e adaptação às mudanças climáticas) e vai continuar assim, porque temos um compromisso com a vida”, disse a presidente da Academia, Anita Liberalesso Nery, cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel.
Anualmente os acadêmicos que integram a instituição saltense definem um tema para espelhar assuntos que transpiram no seio da sociedade e no ano passado a escolha recaiu sobre a natureza, devido ao agravamento dos problemas causados pela poluição em todo o mundo. “É fundamental que a nossa entidade esteja atenta para discutir esses assuntos, porque somos formadores de opinião e influenciadores com nossos livros”, afirmou Alberto Manavello, cadeira 9, patrono José de Alencar, que propôs o tema.
A partir da definição, várias reuniões foram realizadas entre os 28 participantes e a coordenação do projeto, que ficou a cargo de Anna Osta, cadeira 2, patronesse Rachel de Queiroz. Nesses encontros foi definida a forma e a estratégia de abordagem. O livro é um mosaico na forma de poesias, crônicas e contos que trazem as diferentes visões dos acadêmicos sobre a preservação do meio ambiente, como se encaram os elementos que compõem a natureza e as inúmeras maneiras de se estabelecer o cuidado com os biomas.
Com prefácio do presidente da Comissão do Meio Ambiente do Rotary Club de Salto, Ruben Osta, que faz um relato histórico sobre a conceituação do meio, sua preservação e importância nas ações governamentais, a antologia é um registro histórico. O prefaciador também fala da forma como ele, um executivo de multinacional do setor financeiro, se envolveu com o meio ambiente e a sua defesa desse tema nos últimos 20 anos, com atuações inclusive na doação de mudas e discussão de ações práticas.
Em breve, o livro poderá ser baixado gratuitamente no site da Academia Saltense de Letras ( https://www.asle.net.br/) no formato e-book. Mas quem desejar adquirir o exemplar físico em papel vai encontrá-lo nos principais marketplaces e livrarias do mercado, como a Um Livro (www.umlivro.com.br/loja).
Em mais uma coletânea capitaneada pela ASLe, esta com o foco no meio ambiente, 28 acadêmicos lançaram no sábado (5), na Biblioteca Municipal de Salto, o livro “Natureza, eu, tu e ela”.
São textos de 28 acadêmicos, entre poesias, crônicas e contos, que serão apresentados ao público no sábado, 5 de novembro
A Academia Saltense de Letras lança no sábado, 5 de novembro, a partir das 10h, na Biblioteca Municipal de Salto, a antologia Natureza, eu, tu e ela, produzida pela editora Mirarte, que reúne poesias, crônicas e contos escritos por 28 dos seus acadêmicos.
O livro é um mosaico das diferentes visões sobre a preservação do meio ambiente, como se encaram os elementos que compõem a natureza e as inúmeras maneiras de se estabelecer um paradigma à altura da importância para o cuidado com os biomas.
O prefácio é de Ruben Osta, presidente da Comissão do Meio Ambiente do Rotary Club de Salto, que faz relato histórico sobre a conceituação do meio ambiente, sua preservação e importância nas ações governamentais, culminando com a visão dos acadêmicos.
Para o prefaciador, o leitor poderá apreciar uma aventura coletiva dos acadêmicos, que apresenta “o olhar poético de amor ao meio ambiente, com as estações do ano a propiciarem um passeio na floresta, frutas e frutos e um céu sem limites sobre o Rio Tietê”.
A presidente da Academia Saltense de Letras, Anita Liberalesso Nery, disse que a produção literária dos acadêmicos não para. Seja individual, por meio dos vários lançamentos que estão acontecendo, seja por meio de coletâneas como Natureza, eu, tu e ela.
Titular da cadeira 38 da Academia Saltense de Letras, a aniversariante desta quarta (2) se divide entre a sua produção e a dos clientes da sua editora, a Mirarte
Perguntada sobre a sua relação com a literatura, a escritora Rose Ferrari, titular da cadeira 38 da Academia Saltense de Letras, patrono Mário Quintana, que aniversaria nesta quarta-feira (2), define rapidamente: “Trabalho para que as pessoas escrevam, para que contem suas histórias e para que deixem registradas suas experiências neste mundo tão diverso”.
É que Rose Ferrari também é empresária do ramo editorial e tem uma editora, a Mirarte, desde 2012, que já foi responsável pela produção de dezenas de títulos desde lá, entre infantis, romances, biografias, antologias de poesias, crônicas e contos, além de livros-reportagem e de estudos acadêmicos, e tem de se dividir entre a sua produção literária e a dos clientes.
A sua produção neste momento é um livro de ficção que deve se chamar Gabiroba. A obra vai tratar do estigma causado nos portadores de doenças mentais. Mas ela já adianta que não tem tido muito tempo livre para se dedicar à escrita. Portanto, não tem prazo para o lançamento. Quem a conhece, sabe do seu padrão de exigência, o que justifica não fixar uma data.
“Sempre me preparei para tudo o que me dispus a fazer”, explica a escritora. Prova disso é que, graduada em jornalismo pela Universidade Metodista de Piracicaba, fez mais duas pós pela Metodista de São Paulo, em português: língua e literatura e outra, status de MBA, de gestão de mídias digitais, com base em estudos geracionais do sociólogo húngaro Karl Mannheim.
Da primeira pós resultou um estudo sobre Análise do Discurso e o artigo científico “Obras literárias infantis com temática homoafetiva nas escolas”. Da segunda, cujo intuito foi antecipar tendências sobre o comportamento de leitores nascidos entre os anos 1946 e 1964, culminou com o artigo científico “Hábitos de leitura da geração baby boomer no ambiente virtual”.
Fome por conhecimento
Toda essa formação consolidou uma trajetória trilhada pela escritora desde os seus primeiros anos. “Sou fascinada pelo conhecimento. Aprender sempre é que o que me realiza. É para isto que estamos aqui: para nos tornarmos melhores”, afirma. A essa missão ela acrescentou outra agora: ajudar o maior número possível de pessoas a lançarem seus livros.
O que faz Rose Ferrari se mover no mundo dessa forma incisiva e que já nasceu com ela é uma busca incessante por realizar, compreender e aprender. Só para se ter uma ideia, ela começou a falar com apenas 11 meses e o que fez com essa habilidade encantou a todos os seus vizinhos: ela repetia para eles as historinhas que ouvia da mãe. “João e Maria era minha favorita”, revela.
A escritora foi uma criança curiosa. Disso resultaram muitas chineladas em virtude das travessuras. Uma delas, que a diverte até hoje, foi rasgar um sofá novinho em folha com gillette para ver como era por dentro. Outra: desmontar o choro da boneca para saber o funcionamento. Mais uma: sumir com a tia Conce, de oito anos, para conhecer a fonte luminosa da Praça XV.
Saltense de nascimento, mais uma que veio ao mundo na antiga maternidade, onde hoje é o Atende fácil, Rose Ferrari se orgulha de ter tido uma infância deliciosa, como define, na Salto dos anos 60/70, cidadezinha tão pacata que tinha apenas um policial e que não passava de 23 mil habitantes. Foi a professora Maria Bernadete Ferrari que abriu a ela as portas do saber.
Adaptações sempre
Primeira filha, estudou no Externato Sagrada Família, o Coleginho, tida como a melhor escola particular da época. Mas, com a chegada das irmãs (são três), teve de se adaptar em escolas públicas. Teve também de se mudar para Itu e passou pelo Regente Feijó. Mais tarde voltou para Salto e estudou no Paula Santos e no Leonor Fernandes da Silva, concluindo o ensino médio.
Adaptar-se sempre foi uma jornada sem escolha. As condições financeiras mais difíceis da família com mais filhos, forçou a escritora a trabalhar para pagar a faculdade e o transporte. “Sequer sonhávamos com políticas públicas que permitiram a pobres chegar ao ensino superior, como o Exame Nacional do Ensino Médio, a lei de cotas sociais e o financiamento estudantil”.
Mas uma adaptação, não conseguiu. Ela adora cantar e gostaria muito de ter aprendido a tocar violão para se acompanhar nas cantorias. Tentou e não conseguiu. Nem mesmo a força motriz da sua vida, a indignação, ajudou, “É meu sonho frustrado”. Mesmo assim, aos 59 nos, empresta de Rita Lee: “Enquanto estou viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz”.
Neste 29 de outubro se comemora no Brasil o Dia Nacional do Livro, uma data que hoje serve para incentivar a leitura não só de livros impressos ou digitais, mas também de jornais e revistas.
A data foi criada em 1810 em comemoração à fundação da primeira biblioteca brasileira, a Real Biblioteca, no Rio de Janeiro. A escolha considerou o fato de a cidade ser a capital do país à época.
Nesse dia houve a transferência da Real Biblioteca Portuguesa para o Brasil, que se tornou a Biblioteca Nacional. Além de livros, havia manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas.
O Dia Nacional do Livro é uma data que merece ser celebrada por escritores e por leitores devido à importância da leitura para a formação do indivíduo e para o seu deleite pessoal.
Daniel Pennacchioni, conhecido como Daniel Pennac, escritor francês ganhador do Prêmio Renaudot de 2007 pelo seu romance autobiográfico Mágoas de escola, diz que a leitura induz ao prazer.
De fato, lemos por três razões principais: o prazer, a informação e o conhecimento. Embora as três se misturem ao longo de cada obra, os livros que dão mais prazer são os de ficção.
Olhar do autor
Eliane Brum, jornalista e escritora gaúcha, uma das mais premiadas do país, trabalha bem essa questão do prazer que o leitor consegue ter ao olhar a partir do olhar do autor.
Em seu livro A vida que ninguém vê, da Arquipélago Editorial, ela chama a atenção para pequenas histórias reais sobre o que classifica de desacontecimentos e pessoas que não seriam notícia.
A exemplo de Eliane Brum, a leitura de ficção é um prazer com boas histórias. Por isso, a Academia Saltense de Letras selecionou 20 bons livros como dicas. A escolha se baseou nas histórias.
O primeiro deles é Frankenstein, de Mary Shelley. Ela foi a primeira autora de ficção científica do mundo. Muitas vezes chamado de terror, Frankenstein inaugurou a ficção científica em 1818.
A partir dele, surgiu a literatura de ficção e se seguiram: Kindred laços de sangue, de Octavia Butler; Farenheit 451, de Ray Bradbury; e Admirável mundo novo, de Aldous Huxley.
Há também Um estranho numa terra estranha, de Robert A. Heilein; Duna, de Frank Herbert; 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Arthur C. Clarke; e Eu, robô, de Isaac Asimov.
Distopias e inspirações
Não podem ficar de fora da lista Andróides Sonham Com Ovelhas Elétricas? (Blade Runner), de Philip K. Dick; O guia definitivo do mochileiro das galáxias; e Os despossuídos, de Ursula K. Le Guin.
Para reforçar a lista: A Invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares; Mugre rosa, de Fernanda Trías; Orgulho e Preconceito, de Jane Austen; e O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
Finalizando as dicas: Dom Casmurro, de Machado de Assis; Um Estudo em Vermelho, de Arthur Conan Doyle; O Processo, de Franz Kafka; e Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez.
O livro mais importante dessa seleção de ficção é Nós, do russo Lêvgueni Zamiátin. A história inspirou praticamente todas as distopias, livros e filmes, que se seguiram à sua publicação em 1923.
Ele não chegou a ser adaptado para o cinema, mas detalhes dele vão fazer o leitor lembrar de 1984, Admirável Mundo Novo, Divergente, Jogos Vorazes, O Conto da Aia, Delírio e outros.
Se você gostou dessas dicas ou se tem outros preferidos, não deixe de ler aproveitando a comemoração do Dia do Livro. Ler é uma viagem sem limites para sonhar, aprender e se sentir bem.