Aos 87 anos completados na sexta-feira (18), Antônio Oirmes Ferrari, o professor Toninho, como é mais conhecido, ainda trabalha diariamente e continua ensinando como lidar com o português em colunas no jornal, rádio e internet
Um dos fundadores da Academia Saltense de Letras, o escritor e professor Antônio Oirmes Ferrari, o professor Toninho como é mais conhecido em Salto, chega aos 87 anos em agosto, na sexta-feira (18), ainda em atividade e voltado a ensinar a língua portuguesa.
Aposentado desde 2015, após a transferência para outra cidade da Faculdade Sant’Anna, onde foi diretor desde a implantação, em 2000, ele mantém uma coluna para tirar dúvidas na área no Jornal Taperá, outra no programa Gasparini Filho, na FM 90; e na internet.
Não é para menos, o professor é catedrático em Português, Língua e Literatura. Formou-se em Letras, com especialização em Língua Portuguesa e Literatura Luso-Brasileira, e Magistério. Deu aulas em Campinas, Campos do Jordão, Nhandeara, Itu e Salto.
Também se formou em Pedagogia, com habilitação em Administração Escolar e Supervisão Escolar. Ainda é bacharel em Direito e foi diretor da Escola Paula Santos por 14 anos e da Escola Leonor Fernandes da Silva por outros 13 anos.
O professor foi secretário da Cultura, Esportes e Turismo, em Salto, em 1996, e secretário da Educação, em Salto, por quatro anos, de 2001 a 2004. E foi vereador por 15 anos e diretor do Conservatório Municipal Maestro Henrique Castellari, em Salto, por outros dez.
Titular da Cadeira 7 da Academia Saltense de Letras, patrono Machado de Assis, é autor de “Epopeia de uma escola (1970), “Dúvidas de português” (1983), “Nosso idioma de cada dia” (1996) e “Apologia à mãe” (2008), além das coletâneas da Academia.
Antônio Oirmes Ferrari integra a Academia como fundador, foi presidente por dois mandatos e hoje é presidente emérito. É casado com Nídia Hyppolito Ferrari, união da qual nasceram: Débora Cristina e Archimedes Neto e três netos: Enzo, Laurinha e Letícia.
Aprendeu as primeiras letras e números no Externato Sagrada Família, quando ele se chamada ainda “Coleginho” e ficava na hoje Praça Deputado Dr. Archimedes Lammoglia, em Salto. Fez a seguir o Ginasial e o Colegial Clássico, no Colégio Ateneu Paulista.
Vivendo de forma mais reclusa atualmente, ela colecionou amigos e admiradores ao longo da vida por sua simpatia e docilidade no trato com as pessoas
A autora do livro infantil “Que Bicho é Esse?”, Maria Damien Ignácio Pacheco, Cadeira 15 da Academia Saltense de Letras, patronesse Benedita de Rezende, a Dami Pacheco, nome artístico que adotou, chega aos 85 anos neste domingo (6).
Embora viva de forma mais reclusa hoje, por causa de algumas limitações físicas, a escritora colecionou amigos e admiradores ao longo da sua vida profissional, por sua simpatia e docilidade ao tratar as pessoas nas múltiplas funções que desempenhou.
“Que Bicho é Esse?” foi seu último trabalho publicado. O livro saiu pela editora Mirarte, com apoio da Academia Saltense de Letras, em agosto de 2021. Nele, a autora narra, em 68 páginas, várias aventuras pelo curioso mundo animal por meio de oito contos.
Com ilustrações de Beto Nascimento, Dami mostra, de forma lúdica, animais silvestres de espécies menos conhecidas do público, além de conhecimentos em Geografia, Biologia e Meio Ambiente, como ciclos da natureza, clima, vegetação e cadeia alimentar.
Dami Pacheco disse, à época do lançamento, que conseguiu transitar com leveza por temas nem sempre fáceis, como família, comunidade, trabalho coletivo e aprendizado, sendo o maior deles que o ser humano deve mudar a postura frente à natureza.
A escritora também é autora dos livros “Un Dolce Ricordo… – História da Associação Italiana Giuseppe Verdi de Salto – 1903-2013” (bilíngue) e “Sintonia de Almas”, este em parceria com Anna Osta, Lázaro Piunti e Maria Christina Noronha Liberalesso.
Homenageada na Câmara de Vereadores de Salto em outubro de 2021, por ocasião do Dia do Professor, Maria Damien Ignácio Pacheco também teve carreira longeva como professora, tendo ministrado aulas a crianças da 1ª a 4ª séries do Fundamental.
Ela começou na Escola Estadual Professor Cláudio Ribeiro da Silva, onde atuou desde quando se formou no magistério, em 1963, até a aposentadoria 37 anos depois, com uma passagem como substituta na Escola Estadual Tancredo do Amaral.
Conhecida por sua forma criativa e divertida de ensinar, usava o teatro e as histórias educacionais como ferramentas. Essa habilidade a levou para outras artes além da literatura. Dami Pacheco venceu diversas vezes o concurso de poesia da TV TEM.
Ela escreveu muitas peças, poemas e histórias infantis. Ao longo do tempo se destacou ainda como articulista do jornal extinto “O Trabalhador”, onde foi colaboradora. Lá, atuou com o historiador Ettore Liberalesso e a esposa Virgínia Soares Liberalesso.
Maria Damien Ignácio Pacheco é ainda uma das 16 fundadoras da Academia Saltense de Letras. Integrou a Associação Italiana Giuseppe Verdi e o Instituto de Estudos Vale do Tietê. E foi também integrante como cantora do Grupo Vocal Vitta Bella.
Decisão foi tomada devido à procura pelo livro-reportagem lançado em 2005 e que está esgotado há alguns anos, no qual Kátia Auvray expõe a realidade cruel que existe por trás de um hospital de hansenianos em Itu
A escritora Kátia Auvray, Cadeira 16 da Academia Saltense de Letras, patronesse Cecília Meireles, anunciou para setembro deste ano a segunda edição do seu livro-reportagem “Cidade dos Esquecidos – A Vida dos Hansenianos Num Antigo Leprosário do Brasil”, que sairá agora pela editora Mirarte, cuja primeira edição de 2005 se esgotou há anos e a procura ainda é crescente.
O anúncio foi feito durante um bate-papo de um grupo de acadêmicos com a autora no “Momento Literário” de sábado (5), espaço criado pela atual diretoria da Academia para receber escritores convidados, seja da própria entidade ou externos, que vêm falar das suas obras e para discutir projetos voltados ao desenvolvimento da literatura e à sua divulgação.
Kátia Auvray disse que o trabalho de preparação da nova edição já está concluído e aos cuidados da editora. Ela adiantou que o material será ampliado em um prefácio e um posfácio em relação ao que foi publicado há 18 anos pela antiga ituana Ottoni Editora. E explicou que a Ottoni fechou as portas e que, por isso, não havia mais como produzir novos exemplares daquela edição.
No prefácio, ela vai detalhar o que a levou a produzir o livro em 2005 e que foi tema, inclusive, da sua exposição aos acadêmicos que participaram da reunião ordinária de sábado da Academia. A escritora disse que sentiu necessidade de explicar como chegou ao material do livro e o que objetivava, porque surgiram indagações sobre o seu posicionamento: “Não sou ativista. Fiz por indignação”.
Revolta e investigação
“Tudo começou quando fui procurar sobre a falta de água em Itu e encontrei a informação de que o padre Antônio Pacheco da Silva havia sido o primeiro apóstolo dos lázaros na cidade e que tinha utilizado a sua riqueza financeira para cuidar dos ‘morféticos’, como eram chamados à época, e ainda para levar água à cidade, mas soube também que o nome dele vinha sendo apagado”, disse ela.
“Eu fui procurar um rato e achei um gato”. A referência serve para explicar que um outro padre, Bento Dias Ferraz, havia se apropriado da história do padre Antônio. Kátia constatou, por exemplo, que havia placa enorme com o nome do padre Bento como benfeitor e outra minúscula fazendo referência ao padre Antônio. “Não achei aquilo certo e resolvi investigar o que era aquele asilo-colônia”.
Todo o trabalho realizado pela escritora foi lastreado em documentos que ela resgatou dentro do hospital (alguns literalmente no lixo), com muitas fotos e com testemunhais conseguidos dos internos por meio de uma convivência alcançada com três visitas por semana durante dois anos. “No começo havia vigia que me acompanhava e cerceava. Depois, ele desistiu”.
Esquecimento e dor
As pesquisas levaram à descoberta que dá título à obra. O antigo leprosário ou Hospital Francisco Ribeiro Arantes era uma cidade, com direito a espaços para a criação de animais, cassino, cinema, estação de rádio e até uma cadeia, e foi desenvolvida assim para dar a impressão aos internados de que eles viviam em um mundo real. Dessa forma, não atinavam para estarem presos.
“Uma das coisas que mais me impressionaram foi entrar na cadeia caindo aos pedaços e dar de cara com uma revoada de morcegos assustada pela luz da lanterna”, revelou. Mas ela ficou encantada também por saber que na cadeia havia uma pintura de uma moça no jardim e diversos poemas escritos nas paredes, o que revela que a arte era uma forma de enfrentar o martírio.
Ela conta que as casas ou taboeiros como eram conhecidas, reproduziam uma cidade, mas não uma cidade normal. “Em uma das casas, não havia janelas. A moradora mantinha a porta com muitas trancas. Ela tinha medo dos novos moradores. Como uma cidade, havia também traficantes e prostituição visível”. Demorou para que conseguisse ganhar a confiança dos moradores.
Combater o mal
A intenção da escritora com o lançamento da segunda edição do livro-reportagem é fazer chegar a mais gente as informações que colheu e combater o que aconteceu naquele asilo-colônia, para que não se repita mais. Depois da publicação da primeira edição, o livro virou referência na área e vem sendo procurado por estudantes, profissionais do direito e pessoas ligadas à causa.
Neste sentido, o posfácio que será acrescentado à segunda edição trará uma atualização de como está o hospital hoje e os moradores que estão vivendo ainda lá. A escritora lembra que hoje o número de internos gira em torno de 300, mas já chegou a 5.000 nos tempos de mais intensidade dos asilos-colônias. O Brasil teve um total de 35 asilos-colônias e esses locais foram piores entre 1926 e 1960.
A presidente da Academia Saltense de Letras, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel, disse que o relato da escritora choca e instiga. Para Antônio Valini, Cadeira 10, patrono Jota Silvestre, as investigações de Kátia Auvray têm importância acadêmica além de literária e devem repercutir ainda mais, 18 anos após a primeira edição, por haver consciência maior do problema.
PULSAR DAS ESTRELAS
Sinta o pulsar das estrelas cintilantes
Cadentes, ascendentes, amantes!
Ouça o infinito ruidoso silêncio dos astros
A coordenação mais que perfeita
Que confunde a magia mística
Com a fria pureza racional,
Só não confunde a compreensão superior
Do “Grande Artista”
Essa paz cósmica,
Energia total,
Desconcerta o sonhador poeta,
E a avidez do saber do cientista,
Convite aberto à mente,
Porque somos a parte imperfeita
Que gira no espaço sideral,
E se somos os seres eleitos
Então, façamos parte de todo sistema,
E parar com falsos teoremas,
Que só aumenta a pequenez dos terráqueos.
23/02/07
poesia baseada numa mensagem do Portal do Tempo)
Presidente da Academia Saltense de Letras, a escritora, professora e psicóloga chega aos 77 anos realizada com o que fez e animada ainda com o que fará, pois se considera uma incansável
Presidente da Academia Saltense de Letras, a escritora, professora e psicóloga Anita Liberalesso Neri encara o tempo como um espaço de realizações. Sob esse aspecto, não perder tempo é realizar mais. Talvez seja por isso que ela tenha começado a ler aos cinco anos. “Eu li tudo o que me passou por perto e gostava de estudar”, lembra.
A menina que só comia para não morrer de fome como reclamavam os pais, se dedicou a conquistar uma formação sólida e se tornou professora e psicóloga, fez mestrado e doutorado em psicologia na USP, livre docência em educação na Unicamp e dedicou a maior parte de sua carreira aos estudos sobre a velhice, suas perdas e ganhos, seus limites e possibilidades em sociedades plurais.
Incansável
Hoje, aos 77 anos, completados no domingo (9), formalmente aposentada desde 2016, ela continua trabalhando como professora colaboradora no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Unicamp, embora em um ritmo mais lento e sem tantas exigências como durante o período de vida ativa, em que se espera de um professor em fase avançada de carreira que dê aulas, oriente, pesquise, publique, exerça atividades administrativas, realize trabalhos de extensão universitária, vá a congressos e compareça a eventos variados em sua área.
Suas atividades se refletem em seus relatórios de atividades, que registram, ao longo da carreira, desenvolvida principalmente na PUC Campinas e na Unicamp, que ela orientou 111 teses de doutorado e dissertações de mestrado e publicou 203 artigos científicos, 146 capítulos de livros e 28 livros, todos na modalidade de literatura científica.
Atualmente está envolvida com a análise de dados e com a escrita de mais três artigos e com a orientação de um doutorado sobre solidão e isolamento social na velhice. “E estou vivendo o desafio de escrever um texto ficcional para submeter à publicação na antologia da Academia de Letras neste ano”. Para Anita, que hoje preside a Academia Saltense de Letras, fundada há 15 anos por seu pai, Ettore Liberalesso, e por outros 15 defensores da literatura e da cultura em Salto, escrever crônicas e contos é um desafio que está na sua alça de mira como escritora, recuperando um projeto abandonado na juventude.
Empenho
“Na Unicamp, de 1984 a 2016, eu dei aula, coordenei curso de pós-graduação e grupos de pesquisa, pesquisei, orientei, fui a congressos no Brasil e no exterior, fiz parte de sociedades científicas no Brasil e fora do Brasil e, em dois períodos, fui pesquisadora visitante na Alemanha”, relata. E continua: “na carreira científica, é necessário buscar constante aprimoramento, pois as mudanças são rápidas e exigentes. Por exemplo, as teses de doutorado de antigamente eram calhamaços de 300 páginas. Hoje o indicador de produtividade é a publicação de artigos científicos enxutos, mas informativos, em periódicos científicos, preferencialmente em inglês”, conta Anita. De acordo com a escritora, por artigo científico enxuto entenda-se algo com 6 mil palavras, cinco figuras ou tabelas e 35 referências bibliográficas, sendo pelo menos 50% dos últimos cinco anos e, dentre estas, 25% dos últimos dois anos. “Nossos artigos passam por revisões de outros cientistas que nem conhecemos”, disse ela.
Frutos
Se o trabalho de pesquisadora e docente exige muito, ao menos gera frutos importantes para a carreira e idealmente para a sociedade. Entre os livros que Anita Liberalesso Neri produziu podem ser citados os mais recentes “Fragilidade em idosos brasileiros: Estudo Fibra Campinas e Ermelino Matarazzo” (FCM Unicamp, 2023) e “Octogenários em Campinas. Dados do Fibra 80 +” (Alínea, 2019); os mais antigos: “Palavras-Chave em Gerontologia” (Alínea, 2014), “Idosos no Brasil. Vivências, desafios e expectativas na Terceira Idade” (SESC SP/Fundação Perseu Abramo, 2002), “Maturidade e velhice” (Papirus, 2001) e “Envelhecer em um país de jovens. Significados de velho e velhice, segundo brasileiros não idosos” (Ed. da Unicamp, tese de Livre Docência, 1991), e o primeiro deles: “Aprendizagem de leitura e escrita: pesquisa e ensino” (Símbolo, 1978).
Anita afirma que seu trabalho ao longo da vida foi um prólogo para o mais importante e o que a realiza hoje: viver junto com sua família, ver o desenvolvimento e estar com os filhos e netos, rir e conversar com os amigos, viajar, tocar piano (que aprendeu na infância) e orientar alunos e seguidores a partir do que aprendeu, do que conheceu e do que viveu.
O Café Tenor, no bairro da Estação, em Salto, recebeu cerca de 200 pessoas na noite de sexta-feira (7) para o lançamento do segundo livro da carreira de escritor do jornalista Valter Berlofa Lucas.
Intitulado “Palavras soltas: crônicas poéticas” e publicado pela FoxTablet, o livro reúne crônicas que foram produzidas diariamente pelo autor durante 60 dias ao longo do ano passado.
“Impus a mim mesmo um desafio de produzir uma crônica por dia para ver se eu tinha mesmo a capacidade de ser escritor com essa constância e me surpreendi com a facilidade que encontrei”, disse.
O jornalista contou durante o lançamento do livro que achava que não conseguiria ter inspirações para escrever todos os dias. “Escrevo desde criança, mas nunca tinha feito todo dia”.
O que mais o incentivou a publicar em livro os textos, que divulgou inicialmente pelo facebook e que enviava a amigos, foi a receptividade das pessoas para os trabalhos produzidos.
“Encontrei pessoas que diziam que parecia que eu havia escrito para elas determinada crônica. O texto se encaixava no que a pessoa estava sentindo ou era uma resposta que procurava”.
O autor contou durante o lançamento também que o livro foi uma oportunidade de homenagem a mãe, Maria de Lourdes, que estava sentada na primeira fila e que havia vindo de longe.
“Minha filha descobriu desenhos que minha mãe fazia e que são lindos em nosso sítio no Paraná. Eu trouxe para cá alguns e hoje tenho orgulho em mostrá-los aqui como ilustrações do livro”, disse.
A informação surpreendeu a própria Dona Maria de Lourdes, que não sabia de nada. “Você é o meu filho querido”, ela disse ao microfone emocionada ao abraçar o jornalista no palco.
Titular da Cadeira 27 da Academia Saltense de Letras, patrono Luiz Vaz de Camões, Valter Berlofa Lucas contou com um discurso em sua homenagem da vice-presidente da entidade Marilena Matiuzzi.
Ocupante da Cadeira 39, patronesse Cora Coralina, Marilena representou a presidente Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel, que estava em outro evento.
“Ele não sabe, só ele não sabe, mas é um grande escritor”, resumiu a vice-presidente ao descrever a figura pública que Valter Berlofa Lucas construiu ao longo da vida e os seus dotes literários.
A maioria das 200 pessoas que foram ao Café Tenor para abraçar o jornalista e escritor e levar um exemplar autografado era de acadêmicos, amigos feitos na carreira de jornalista e da vida inteira.
Valter Berlofa Lucas nasceu em 1968, em São Caetano do Sul (SP), e reside em Salto desde 1976. Ele possui uma carreira jornalística e literária com textos escritos para jornais da cidade e da região.
Anteriormente, já havia publicado o livro “O Vira-lata sargento”, uma obra infantil sobre a aventura de um vira-lata para salvar a sua dona de muitos perigos e que se torna um herói.
Escritor produziu continuamente textos para os jornais de Salto nesse período e, como define, o seu assunto preferido é o que vê e o que sente
Se perguntado sobre o ofício de escrever, Francisco Carlos Garcia, o Chico Garcia, como é mais conhecido, vai se esquivar dizendo que é apenas um diletante do meio, mas há tempos, mais de 40 anos com certeza, ele vem escrevendo crônicas na imprensa de Salto e são tantas e há tanto tempo que até jornais já deixaram de existir, mas os seus registros não: afinal, eles já estão consolidados.
Chico é especialista no gênero crônica, que é uma espécie de conversa rápida com o leitor. Do alto da sua experiência como ex-seminarista (esteve nas fileiras do Seminário dos Premonstratenses entre 1964 e 1970) e de uma larga experiência de mais de 20 anos como desenhista na iniciativa privada e professor universitário, ele não tem assunto proibido. “Falo do que vejo e do que sinto”.
Foi essa consolidação como cronista que o levou a ocupar a Cadeira 13 da Academia Saltense de Letras, onde é um dos 16 escritores-fundadores e tem como patrono outro bom contador de histórias: Monteiro Lobato. A sua constância em escrever pode ser observada pelas participações nas coletâneas da Academia. Chico é um dos poucos que participaram de todas as publicações até hoje.
“Não tenho planos de escrever um livro só meu”, confessou ao fazer 69 anos na sexta-feira (23). “Só tenho gratidão pelas circunstâncias que me levaram a ser quem sou”, se define em relação à literatura e como cidadão. Humilde, Chico Garcia se diz feliz por conviver com escritores e aprender com a vida. “Tive a sorte de ter bons amigos, uma mulher incrível e filhos maravilhosos”.
Curiosidades
Mas, se decidisse escrever um livro sobre a própria vida e se ele fosse de crônicas, o escritor Chico Garcia teria muitas histórias engraçadas e curiosas para contar, que certamente prenderiam o leitor. A começar pelo seu nascimento, registrado por ele da seguinte maneira: “Nasci às 5h30 de uma madrugada assolada por um grande temporal e pelas mãos da parteira Anastácia Rigolin”.
Na primeira infância, a avó e madrinha Isabel já observava que era um garoto grande, calmo e extremamente comilão. Nasceu na véspera de São João, o que poderia supor alguém diferente de calmo. Mas, talvez por essa diferença, tenha recebido o nome-homenagem do grande cantor “El broto”, Francisco Carlos, o rei do rádio carioca da década de 50, conhecido pelas canções românticas e ternas.
Incansável
Chico passou a infância inteira na mesma casa, onde veio ao mundo e onde sua família viveu por muitos anos, uma casa modesta na Rua 7 de Setembro, no Centro de Salto. Não foi só católico praticante e seminarista, mas também coroinha de Monsenhor Couto. Fez o antigo colegial na Escola Paula Santos, fez Comunicação na PUC Campinas e fez desenho industrial.
Formado e fora do seminário, casou-se com Rute, com quem divide o olhar para a vida com mais amor há 45 anos. Morou no Rio de Janeiro. Trabalhou como projetista e outras funções por 20 anos na antiga Emas. Teve os filhos Juliana e André e voltou para a faculdade. Fez mestrado em Administração. O incansável Chico ainda deu aulas por mais de 20 anos no CNEC, UniSantana e Ceunsp.
Titular da Cadeira 19 da Academia Saltense de Letras, escritor divide a autoria com 17 especialistas na área dos direitos da criança e do adolescente
O escritor e advogado Romeu Gonçalves Bicalho, Cadeira 19 da Academia Saltense de Letras, patrono Olavo Bilac, lançou mais um livro técnico-jurídico, que se soma a outros oito que já havia produzido em toda a sua carreira. O lançamento foi no dia 17 de junho e desta vez foi a obra intitulada “Direitos da Criança e do Adolescente – Estudos Além do ECA”, que escreveu em parceria com mais 17 especialistas na área e lançou pela Editora Mizuno.
Também participaram como coautores os professores doutores: Ricardo de Moraes Cabezon, Antônio Carlos Morato, Carla Matuck Serafim, Daniel Campos de Carvalho, Denis Donoso, Georgios Alexandridis, Jorge Fujita, José Geraldo Filomeno, Juliana Saraiva de Medeiros, Letícia Rizzotti Lima, Luciana Helena Gonçalves, Luis Felipe Taveira, Marcelo Neumann, Mariana Gozzano de Faria, Rubia Ferrão, Vivian Zalcman e Yves Russo Zamataro.
Todos eles estiveram juntos na Livraria da Vila, do Shopping Pátio Higienópolis em São Paulo, no sábado, 17, para autografar a obra e recepcionar os leitores que foram em busca de um exemplar. Professor doutor, ex-presidente da 157ª Subseção da OAB em Salto, entre os anos de 2004 e 2006; e diretor do Instituto Central de Direito e Educação, Romeu Bicalho foi o responsável pelo tema “Trabalho do Menor no Brasil”, que aparece na obra no capítulo 7.
O livro traz ainda uma sequência de estudos dos 17 professores doutores que assinam o texto com Romeu Bicalho e que são relacionados à proteção da Criança e do Adolescente. A organização da obra coube ao professor douto Ricardo de Moraes Cabezon. Para o escritor e acadêmico da ASLe, a obra tem importância do ponto de vista da educação, pois vai ajudar na formação e servirá ainda para consultas dos advogados e interessados que forem atuar na área.
Para Leandro Thomaz de Almeida, convidado a falar no espaço do Momento Literário da reunião ordinária da Academia Saltense de Letras do final de semana, a literatura é o contraponto ideal ao mundo digital contemporâneo
“Considero um equívoco enorme e que pode gerar um efeito em cadeia extremamente danoso a cogitação da Fuvest de tirar a exclusividade da literatura na leitura obrigatória para o vestibular. Isto significa arrancar a importância da literatura, o que poderá fazer com que não se tenha mais razão para ensinar essa matéria nas escolas. Justamente a literatura, que é o contraponto ideal ao mundo digital em que vivemos por meio das redes sociais”, foi com essa frase que o escritor e professor Leandro Thomaz de Almeida, Cadeira 33 da Academia Saltense de Letras, patrono Luiz Castellari, iniciou a sua palestra sábado (17), logo após a reunião ordinária do mês dos acadêmicos.
Convidado a falar sobre o tema “A literatura no mundo digital contemporâneo” durante o “Momento Literário”, espaço criado pela atual diretoria para discutir literatura nas reuniões ordinárias da entidade, o escritor e professor fez uma longa exposição dos motivos pelos quais considera o equívoco, traçando um perfil da trajetória histórica da literatura nos dois últimos séculos e exortou os acadêmicos a trabalharem para divulgar a literatura entre os mais jovens, pelos benefícios que ela traz para a saúde mental e para a formação das novas e futuras gerações, sobretudo como instrumento para que o conhecimento ganhe espaço e se reproduza nesse segmento da sociedade.
A possibilidade de eliminação da exclusividade da literatura na leitura obrigatória para o vestibular ainda não tem data para entrar em vigor. Por enquanto é uma cogitação da Fuvest para fazer o que os seus organizadores chamaram de atualização ao que se vive atualmente. A mudança não tiraria a literatura, mas a sua exclusividade. Permitiria que a lista obrigatória de livros trouxesse livros de história, sociologia e ciências humanas em geral junto com a literatura. Essa mudança seria apenas para a Fuvest, mas, se adotada, vai impactar e provocar mudanças semelhantes em todos os outros vestibulares aplicados no país atualmente, na opinião do professor e escritor.
Visão especialista
Leandro Thomaz de Almeida, que estudou Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul e Letras pela Unicamp e fez Mestrado e Doutorado em Teoria e História Literária pela Unicamp, além de estágios de pesquisa na Universidade de Paris e na Universidade da Califórnia, disse que conheceu há pouco o trabalho do médico e neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, considerado um dos vinte maiores cientistas em sua área no começo da década passada pela revista de divulgação Scientific American, e que ele tem uma teoria que explica bem os riscos impostos pelo momento atual dos impactos da cultura digital na formação e no conhecimento, com destaque para os mais jovens.
De acordo com o especialista, que fez carreira nos Estados Unidos, o cérebro humano trabalha com a recursividade do pensamento, isto é, aquilo que se pensa e se expõe volta para o mesmo cérebro que emitiu e a repetição desse processo, passando pelos mesmos conceitos, ativa uma espécie de lavagem cerebral. Dessa forma, se o cérebro não for estimulado e tratado com ideias e conceitos novos, que se modificam conforme a situação, a tendência é que os seres humanos se aproximem do comportamento das máquinas, estabelecendo uma dependência de rotinas, principalmente aquelas formadas por sistemas pouco complexos que não exigem um trabalho mental mais intenso.
Para o escritor e professor, o que os recursos da tecnologia têm imposto fazem exatamente esse trabalho de desestimular o cérebro devido à forma como foram concebidos. “Tome como exemplo o celular e as redes sociais. O que eles trazem são informações fragmentadas, exibidas com velocidade e baixa complexidade, que estimulam constantemente o cérebro, mas sem uma retenção de qualidade. Um sistema que trabalha com a gratificação e que não experimenta a frustração como situação possível da vida. Tudo que se faz nas redes é compensado com cliques e repercussão e o indivíduo só fica onde é bem-tratado e recebe aprovação, evitando o que não dá certo”.
Desdobramentos
Leandro Thomaz de Almeida acredita que os estímulos da literatura são fundamentais para o ser humano continuar distante da máquina
Em contrapartida, a literatura cria mecanismos que estimulam o cérebro. “Ao contrário do celular, ler um livro exige paciência, pois demora muito mais que passear pelas redes sociais. Exige também memória. Se você lê um livro como eu estou lendo que tem quase mil páginas, vai precisar lembrar do que diz no início para entender o final. A leitura também envolve uma complexidade que é inerente a ela. Você precisa entender o contexto, saber sobre o histórico dos personagens e para onde a história vai conduzir. E, ao final, pode ter uma gratificação ou não. Isto é, você pode não gostar da conclusão do livro. Mesmo assim, todo o processo para chegar até lá terá valido a pena”.
A discussão sobre o assunto suscitou vários desdobramentos de opinião entre os acadêmicos. Para a presidente da Academia, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel, a preocupação do professor e escritor é pertinente e isto pôde ser percebido pelos desdobramentos. “A Academia tem uma variedade grande de profissionais e cada qual vê o processo pelo seu ângulo, o que enriquece as conclusões”, disse ela. Entre esses entendimentos a discussão passeou pela formação nas escolas, pelo ensinamento em casa e pela necessidade de se criar mecanismos que possam se interpor no caminho dessa formação das novas gerações.
Para Mônica Dalla Vecchia, Cadeira 5, patronesse Clarice Lispector, que é professora de língua portuguesa, as escolas insistem em um modelo que afasta o aluno da literatura. Mércia Falcini, Cadeira 3, patrono Paulo Freire, o erro maior está na falta de vivências do texto literário com os alunos. Quando os alunos leem juntos um romance, eles se interessam”. Para o ex-presidente da Academia, João Milioni, Cadeira 21, patrono Guimarães Rosa, esse é um processo que não tem volta, mas que precisa da ação de pessoas como os acadêmicos, que são formadores de opinião, para trabalhar a mudança.
Aplicações práticas
Valter Berlofa, Cadeira 27, patrono Luiz de Camões, entende que a formação começa em casa e que os pais têm um papel fundamental nesse trabalho também. Ele disse que não tem como fugir da realidade e lamentou, como o escritor e professor Leandro Thomaz de Almeida, o estágio de desprestígio que a literatura já enfrenta. “Nós que escrevemos precisamos valorizar os textos e fazê-los chegar aos leitores mais jovens combatendo esse processo mecanizado das redes sociais”. Décio Zanirato, Cadeira 22, patrono Fernando Pessoa, defendeu um aprofundamento da linguagem.
Na opinião de Leandro Thomaz de Almeida, a literatura é um exercício constante em, na, dá e sobre a linguagem. Por meio dela, se trabalha a comunicação que é fundamental em contraposição ao mundo digital de hoje. “Esse aparelhinho aqui (disse mostrando o celular) nos consome quatro, cinco, seis, sete, até oito horas por dia. Interagimos com ele mais tempo do que interagimos com as pessoas. Então a linguagem ganha uma importância enorme por conta da literatura. Senão, daqui a pouco, vamos esquecer como se conversa, como se relaciona presencialmente. A literatura ainda tem o poder de nos dar vivências de outros lugares e outras situações que jamais teríamos”.
A ação proposta pelo escritor e professor para fazer o contraponto da vivência digital de hoje em dia é uma maneira pela qual se pode introduzir a literatura de forma paulatina e constante. “Não adianta reagir com negação à tecnologia. No último quarto do século 20 e neste século 21 tivemos a presença avassaladora da tecnologia em nossas vidas e não podemos mudar essa situação. A tecnologia é importante para tornar o mundo atual menos difícil. O inconveniente é que ela traz outros problemas. Trabalho em duas escolas e uma delas permite que eu faça mudanças. Então eu faço. Na outra, faço menos, mas faço também. Esse é o caminho para a transformação. Precisamos fazer”, finalizou.