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Próximo livro do João Milioni vai tratar da vida de cangaceiros e de Lampião

Escolha é por ser uma das suas paixões na literatura e ainda para homenagear o acadêmico Sabino Bassetti, que morreu em 2020 e que escrevia sobre o tema

O escritor João Carlos Milioni em uma de suas explorações para escrever o novo livro

O escritor João Carlos Milioni, Cadeira 21 da Academia Saltense de Letras, honra o seu patrono João Guimaraes Rosa, que foi um exímio narrador das agruras do sertão brasileiro, ao escrever sobre a vida entre os cangaceiros do bando de Lampião, o maior líder do cangaço no Nordeste e figura emblemática na disputa de terras naquela região, em uma época em que as coisas se resolviam à bala.

Mas a escolha do tema do sexto livro do escritor também atende a outras duas razões que o movem emocionalmente: a paixão pelas histórias envolvendo o cangaço, que vem desde moleque, e uma forma de prestar homenagem a José Sabino Bassetti, membro da Academia Saltense de Letras, que faleceu em 12 de dezembro de 2020 após ocupar a Cadeira 23, cujo patrono era Euclides da Cunha.

A ligação de João Milioni com o cangaço e com Sabino o levou a apresentar o acadêmico falecido como integrante da Academia e a mostrar as lutas de Lampião para os acadêmicos. Logo após se tornar acadêmico, Bassetti proferiu uma palestra de mais de duas horas onde revelou conhecimentos específicos e profundos do assunto que o apaixonava como ao seu padrinho.

A ideia do livro surgiu nessa época e Bassetti a desenvolvia, mas teve de paralisar o trabalho devido a uma doença que o incapacitou e depois o matou. Enquanto atuava como ponte entre o amigo e os acadêmicos na fase mais crítica da doença, João Milioni decidiu fazer o livro e para isto tem feito muitas viagens e pesquisado junto a instituições e pessoas para enriquecer ainda mais a obra.

 

A familiaridade com as coisas do cangaço é que vão dar originalidade ao romance

Descobridor dos sete mares

Ao completar mais um aniversário na segunda-feira, 1º de maio, o escritor se define como um descobridor dos sete mares na literatura. “A cada dia descubro alguma coisa nova. Vivo fuçando coisas novas. Acho que a literatura nos coloca nessa posição de prospectar. Ninguém sabe o que vai encontrar no próximo porto, mas sabe que alguma coisa surpreendente estará lá”.

Nesse sentido, João Milioni é um descobridor mesmo, pois não procura se prender a estilos ou gêneros. Ao contrário gosta de vários. “Acho que sou um aprendiz de tudo que me interessa e no momento quero falar do cangaço. Poderia lançar o livro rapidamente, já que tenho boa parte pronta, mas quero produzir um belo livro, que até o meu saudoso amigo Sabino Bassetti goste”.

O autor de “A brilhante amizade”, “A ópera da natureza”, “Planeta mãe”, “Obstinado” e “O compadre de João Carrasco” (esta também peça teatral) diz que a única forma de garantir um bom trabalho ao final é realizar todas as pesquisas. “É buscar informações importantes e trabalhá-las para que o leitor se sinta mergulhado no universo do cangaço para entendê-lo sem preconceitos”.

Puxado pela proposta do novo livro, o escritor também quer realizar todos os projetos literários que têm pendentes. “A literatura fascina e prende, mas nem sempre conseguimos tempo e oportunidade para realizar tudo aquilo que sonhamos. Então quero fazer isto agora. Com esse aniversário, me sinto mais maduro e pronto e vou encarar todas as dificuldades”, afirmou.

 

História de dificuldades

Quem vê João Carlos Milioni falar em dificuldades logo pensa que não é para tanto, mas a sua história traz vários momentos que podem ser encarados como difíceis, a começar pelo nascimento. Logo que a mãe sentiu as contrações do parto, o pai a levou para a antiga maternidade de Salto, que funcionava onde hoje é o Atende Fácil, mas o médico chamado, Dr. Aranha, não veio a tempo.

A enfermeira ainda brincou com a mãe do escritor, dizendo que ela voltasse no dia seguinte, pois era o feriado de 1º de maio e o médico morava em Itu. Logo depois da brincadeira, mãe e bebê foram conduzidos para o atendimento e uma parteira de plantão trouxe ao mundo um menino com 3,950 kg e 51 cm, que mais tarde se

Discurso durante a transmissão de cargo em junho de 2022

tornaria um bebê mais robusto ainda, por mamar muito.

As dificuldades se seguiram com as inúmeras mudanças de casa por conta das trocas constantes também de trabalho do pai. Quando nasceu, João morava em São Paulo. Depois mudou-se para Itatiba, Jundiaí, novamente São Paulo e só então Salto, onde vive até hoje e constituiu família. Entre cidades e casas, que ora eram compradas, ora alugadas, ao todo foram 18 mudanças.

João Milioni chegou a fazer três anos da Faculdade de Direito de Itu, mas se formou mesmo administrador de empresas na Faculdade Nossa Senhora do Patrocínio, em Salto. Depois casou-se e teve filhos e agora netos. Entre junho de 2020 e junho de 2022 foi o presidente da Academia Saltense de Letras, gestão na qual se conseguiu pela primeira vez completar o quadro de 40 acadêmicos.

Romance policial é o próximo livro do escritor Alberto Manavello

Titular da Cadeira 9 da Academia Saltense de Letras, ele já produziu três romances com histórias de famílias e já participou de antologias 

O escritor Alberto Manavello e a presidente da Academia, Anita Liberalesso Neri

Um apaixonado pela vida, de extremo bom humor e humilde em tempo integral, o escritor Alberto Manavello, Cadeira número 9 da Academia Saltense de Letras, patrono José de Alencar, diz que só agora, aos 82 anos completados no domingo, 16 de abril, é que conseguiu realizar o seu sonho de juventude: dedicar-se à literatura em tempo integral e quem gosta dos seus textos já pode se preparar, porque um novo romance fresquinho vem por aí.

“Estou escrevendo uma história policial que tem como título provisório ’Sequestrum’”, adianta ele. O entusiasmo com a obra é tanto que ele já dispara também um spoiler: “É uma narrativa que terminará possivelmente com um episódio da “Síndrome de Estocolmo’”. A definição “formal” da síndrome é a de que a vítima de agressão, sequestro ou abuso desenvolve uma ligação sentimental ou empatia por seu aproveitador, o que contraria o normal.

Autor de três romances que retratam histórias de família e de duas participações em antologias, nas quais fala da epidemia de Covid-19 e da natureza, e ex-proprietário de uma empresa de aparelhos de iluminação, em Salto, que encerrou as atividades na pandemia, ele diz que o lançamento do novo livro ainda depende de conseguir patrocinadores para bancar os gastos de produção, que são altos hoje e um empecilho para muitos outros livros que faria.

O gosto pela literatura pode ser visto nos olhos inquietos do escritor enquanto fala do que fez nos livros anteriores e do que faz no atual. “Defino-me como um aprendiz que quer todo dia aprender novas formas de descrever emoções. Deixar no papel ideias que possam ajudar e o meu legado principal, que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, afirma. Depois complementa: “Pretendo escrever enquanto Deus permitir”.

 

Entusiasmo e lágrimas

 

Alberto Manavello com a família no lançamento de coletânea

Para quem ouve Alberto Manavello falar com entusiasmo da sua escrita, pode ficar com a impressão de um escritor deslumbrado com a paixão pela literatura, mas ele logo derruba essa imagem com alguns minutos de conversa. O entusiasmo está em tudo nele, o que chama atenção, pois sua trajetória não foi fácil desde o início. Boa parte do que viveu está retratada no primeiro livro, o romance autobiográfico “Vila Kostka – A arte do encontro”.

Falar em trajetória difícil desde o início não é força de expressão. O menino, que nasceu em um hospital de Treviso a 300 metros de casa, aprendeu a chorar silenciosamente e com lágrimas grossas, como define, por conta da época. O mundo vivia a Segunda Guerra Mundial. Ele conta que aos cinco anos morava provisoriamente em uma casa de campanha a 5 km do centro. Estava no colo do pai Giuseppe, o Beppe, e viu “Pippo”, como era chamado o avião inimigo, que voava à noite e sozinho, destruir boa parte da cidade.

“Em cinco minutos eles fizeram o pior bombardeio que eu já vi na vida. Destruíram tudo. Mais de 1.600 pessoas, incluindo crianças e idosos, foram dizimados. Achei que Treviso nunca mais se ergueria. Mas Deus não permitiu. A cidade foi reconstruída. Treviso é hoje uma joia chamada ‘A pequena Veneza’ por causa do emaranhado de rios e riachos que a atravessam. Isto aumentou minha fé. Só Deus pode fazer essas transformações e corrigir os erros dos seres humanos”.

O romance de estreia retrata essa sua trajetória. O escritor cresceu em Treviso e morou lá até os 13 anos. Depois mais 7 anos em Bolonha, cidade universitária italiana entre os rios Reno e o Savena. Em seguida teve de emigrar para a Venezuela com 21 anos para tentar a vida, que continuava difícil. Mas Alberto Manavello nunca desaminou. Em Caracas, conheceu a esposa Ana, uma espanhola de Barcelona, exímia parceira de dança, um dos seus antigos deleites, com quem teve duas filhas Margaret e Flávia.

 

Aprender com a vida

Alberto Manavello com a esposa Ana

As mudanças e as dificuldades o impediram de ter uma vida escolar regular. Fez primário e ginásio em Treviso. Depois foi autodidata a partir de Caracas. “A leitura foi fundamental para a minha formação religiosa e intelectual. Fiz muitos cursos avulsos. Vendas, marketing, eletricidade, iluminação teórica e prática. Poderia dizer que sou formado em curiosidade e literatura russa por causa da minha preferência por Dostoievski”. O preferido dele é Tolstoi e ainda Tchekov, Pushkin, Nabokov, Pasternak, Soljenitsun.

Com tantas dificuldades e aprendizados, as pessoas ao redor não poderiam passar ao largo do escritor. Manavello contou a história da avó materna, que passou por uma guerra civil na Espanha e por duas guerras mundiais. O segundo romance “Por onde andou Pepita” faz um relato preciso sobre uma mulher forte que venceu suas batalhas e foi exemplo para ele. O terceiro livro saiu de um velho diário do tio Nino, que serviu na guerra e penou no front russo. “As batalhas da esperança” traça ainda paralelo da guerra com a Covid.

“A literatura hoje ocupa a maior parte do tempo do meu dia. Faço muitas pesquisas para a obra que estou escrevendo e ainda reviso outros escritos que ficaram pelo caminho. Gostaria de ter feito carreira como escritor de romances. Eu me realizo com isso. Estou aprendendo, mas já amo tudo isto. Só que a vida me levou a ter sucesso como administrador de uma fábrica de aparelhos de iluminação. Com o encerramento da fábrica, agora me realizo”.

Para o escritor Alberto Manavello, a possibilidade de interagir com o leitor por meio das suas histórias e poder ensinar e aprender com as pessoas por tudo o que já viveu, é o que há de mais importante para alguém com a sua trajetória. “Sinto-me realizado a esta altura da vida pelas valiosíssimas amizades que fiz, principalmente com esse povo acolhedor de Salto”.

O escritor Alberto Manavello autografando um de seus livros para amigos

Professor defende o papel de divulgação das biografias na literatura

Fabiano Ormaneze entende que esse tipo de obra contribui para a propagação científica e cultural e para mostrar os movimentos sociais

O professor, jornalista e escritor Fabiano Ormaneze, no Café com palavras

O professor, jornalista e escritor Fabiano Ormaneze, que também é doutor em linguística e mestre em divulgação científica e cultural, ambos pela Unicamp, defendeu a produção de biografias, autorizadas ou não, ao falar aos integrantes da Academia Saltense de Letras, no sábado (1º de abril), no espaço “Café com Palavras”, último evento da 6ª edição da Semana Cultural Ettore Liberalesso.

Para ele, as biografias têm um papel importantíssimo na produção cultural e literária que não podem ser faltar nesse cenário, a despeito das críticas que biografados fazem quando veem suas histórias divulgadas mesmo sem as suas autorizações, sobretudo quando eles são pessoas de muito destaque na sociedade e com ações que impactam na população onde vivem.

“Sempre acreditei que a biografia tem esse papel de divulgação científica, de divulgação cultural, de mostrar a importância de movimentos sociais e da atuação de uma pessoa por uma causa. A biografia é um excelente gênero para isso e pode ser perfeitamente usada, inclusive para o público infantil”, avaliou, ele que é autor da biografia voltada ao público infantil “Milton, Milton Santos”.

 

Conceitos

Fabiano Ormaneze defende biografias para o público infantil, como a sua “Milton”

Dentro dos conceitos que defendeu, ele buscou retratar no livro a vida e as realizações de um dos maiores geógrafos brasileiros, reconhecido internacionalmente, e que era negro, justamente pela importância da globalização, que, com a obra, impõe reflexões sobre os problemas sociais e propõe uma nova interpretação do mundo atual, principalmente porque Milton lutou por isso nos seus 75 anos de vida.

Ormaneze aproveitou a exposição que fez para discutir com os acadêmicos o que é possível dizer sobre alguém em uma biografia. Falou sobre o cruzamento necessário entre a verdade e a ficção na produção e sobre as expectativas e sentidos que surgem a partir dessas obras, o que deixou os acadêmicos satisfeitos com o esclarecimento de dúvidas e de pontos nevrálgicos da questão.

“Tivemos o privilégio de ouvir falar e de discutir várias questões ligadas à autoria e à publicação de biografias e autobiografias com um mestre como Fabiano Ormaneze, que deu um raro show de erudição, sensibilidade e muita simplicidade na abordagem de tema tão complexo”, disse a presidente da Academia Saltense de Letras, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel.

 

Outras obras

Pesquisador da área e professor da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, onde ministra Jornalismo Literário, na qual se discute biografias, tema que também abordou em seu mestrado, Ormaneze ficou à vontade sobre o assunto, porque, além de gostar, é autor de outros trabalhos biográficos, como o livro “Vidas Partidas”, no qual conta histórias de mães que perderam filhos.

De acordo com o professor, a gênero biografia contribui para fomentar a cultura do país e para registrar a sua história. Até por conta da sua aceitação pelo público e pelas suas características. A única ressalva que ele faz é que a discussão deve se centrar na qualidade das apurações realizadas pelos biógrafos e afirma que ela não seria resolvida pela censura antes das publicações.

O convidado da Academia Saltense de Letras desenvolveu exatamente esse trabalho na produção de “O Discurso Biográfico na Televisão”, que escreveu em parceria com Duílio Fabbri Júnior para resgatar a memória e as condições de produção em um programa elaborado para falar de Santos Dumont, o pai da aviação por meio da EPTV, emissora de Campinas afiliada da Rede Globo.

 

Perspectivas

Fabiano Ormaneze: erudição, sensibilidade e simplicidade

Ormaneze destacou também que a produção de biografias está enraizada na formação de novos profissionais de jornalismo, como observou na Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Segundo ele, cerca de 30% dos Trabalhos de Conclusão de Curso dos formandos da universidade estão entre os que optam por produzir livro-reportagem, que são nada mais nada menos que biografias.

Além da sua formação, Fabiano Ormaneze é especialista em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário e, como professor na PUC-Campinas, é o responsável pelo curso de extensão universitária Jornalismo Literário: Perfis, Biografias e Narrativas de Viagem, além de autor de “Do Jornalismo Literário ao Científico, Biografia, Discurso e Representação”.

Sua contribuição fechou a programação da Semana Cultural Ettore Liberalesso, que começou com uma mesa redonda sobre jornalismo no interior, continuou com a discussão sobre os embates do direito com a literatura e uma missa pelos acadêmicos mortos. “Que felicidade poder comemorar o sucesso da realização da nossa semana. Cumprimento e agradeço a todos que ajudaram na organização”, disse Anita.

Escritor pode escrever sobre o que quiser, respeitando a verdade, diz juiz

Para Alfredo Attié, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a produção literária precisa ser respeitada

O desembargador Alfredo Attié, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

O desembargador Alfredo Attié, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, convidado da Academia Saltense de Letras para a segunda noite da 6ª edição da Semana Cultural Ettore Liberalesso, na quinta-feira (30), deu uma esperança aos escritores ao afirmar que eles podem escrever sobre o que quiserem.

A palestra “A Liberdade de Expressão do Escritor e o Direito”, proferida pelo magistrado, era aguardada com ansiedade pela classe devido aos inúmeros embates que vários autores pelo Brasil enfrentam na justiça por conta das obras que publicam e dos assuntos que escolhem abordar em suas produções literárias.

O caso mais rumoroso atualmente é o do escritor João Paulo Cuenca, que sofreu nada mais nada menos que 126 processos por conta de uma frase que publicou no twitter. As ações vêm se sucedendo desde 2020 e movimentam uma legião de pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, instituição evangélica de Edir Macedo, que se dizem prejudicados e exigem reparação.

A frase do escritor é uma interpretação da famosa frase de Jean Meslier (1664-1729) — erroneamente atribuída a Voltaire —, que disse, no século 18, que “o homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”. Cuenca postou que “o brasileiro só será livre quando o último Bolsonaro for enforcado nas tripas do último pastor da Igreja Universal”.

Independentemente do caso desse escritor, o desembargador condicionou sua afirmação, de que se pode escrever sobre o que o autor quiser, à necessidade de se ater à verdade. Na opinião do magistrado, o escritor não pode inventar nada envolvendo fatos reais, como em uma biografia, por exemplo, mesmo que não seja autorizada, pois isto tiraria a sua liberdade legal.

Mestre em Direito e Doutor em Filosofia, ambos pela Universidade de São Paulo, o magistrado Alfredo Attié situou sua argumentação em conceitos de filosofia e de filosofia do direito para abordar o assunto com mais profundidade. Também usou sua experiência com obras como as que escreveu intituladas “A Reconstrução do Direito” e “Montesquieu”, nas quais exercita a sua tese.

O juiz Alfredo Attié, a presidente e a vice da Academia Anita Liberalesso Neri e Marilena Matiuzzi e o reitor do Ceunsp Marcel Fernando Cardozo

Para a presidente da Academia Saltense de Letras, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel, a palestra do magistrado trouxe luz a um assunto que vem preocupando escritores desde sempre. “Dr Attié nos fez refletir sobre a continuidade das questões éticas que permeiam nossas relações com os meios de comunicação”, disse.

A vice-presidente da Academia, Marilena Matiuzzi, Cadeira 39, patronesse Cora Coralina, também elogiou a palestra do desembargador, para quem o assunto foi totalmente esgotado. “Ele fez uma explanação em um nível muito elevado. Gostei da argumentação filosófica e da abordagem sobre o conceito do que seja a identidade de cada um”, afirmou.

O assunto é tão palpitante no meio literário que dois integrantes da Academia Saltense de Letras, Romeu Bicalho, Cadeira 19, patrono Olavo Bilac, e Leandro Thomaz de Almeida, Cadeira 33, patrono Luiz Castellari, estão produzindo juntos um livro que vai tratar dos principais processos envolvendo ações contra escritores.

Uma plateia de mais de 100 pessoas acompanhou a palestra

A dupla relatou alguns casos, como o do escritor Ricardo Lísias, de Campinas, autor de “Diário da Cadeia”, Record, que foi processado pelo ex-deputado federal Eduardo Cunha (PTB). “Queremos criar informação para auxiliar juízes ao julgar ficção, porque temos visto que a forma de encarar a ficção não está correta”, disse Leandro.

“O assunto é palpitante e cheio de conflitos. Merece uma discussão à luz da legislação”, afirmou Romeu. A publicação ainda não tem data. “Estamos na fase da pesquisa e da reflexão, mas logo teremos novidades”, adiantou Leandro. Ambos consideraram que a palestra de Alfredo Attié trouxe mais luz para as suas abordagens.

Profissionais apontam caminhos para a sobrevivência do jornalismo

Mesa redonda realizada no Ceunsp, na quarta-feira (29), abriu a 6ª edição da Semana Cultural Ettore Liberalesso, que segue até sábado (1º)

Os jornalistas Rodrigo Augusto Tomba e Eloy Oliveira, a mediadora Mirna Bicalho, a jornalista Rose Ferrari e o radialista Henrique da Silva Pereira

A necessidade de enfrentar a situação crítica pela qual passa o jornalismo nos moldes como ele existiu nos últimos 30 anos e a certeza de que há espaço para a sobrevivência da atividade foram os consensos a que chegaram quatro profissionais, reunidos pela Academia Saltense de Letras para uma mesa redonda, nesta quarta-feira (29), no Ceunsp, na abertura da 6ª edição da Semana Cultural Ettore Liberalesso, que celebra um dos fundadores da entidade.

Mediada pela jornalista Mirna Bicalho, a mesa redonda “Os desafios contemporâneos da imprensa no interior” reuniu os acadêmicos e jornalistas Rose Ferrari, Cadeira 38, patrono Mário Quintana, editora-chefe do jornal Mais Expressão, de Indaiatuba, e Eloy Oliveira, Cadeira 31, patrono João Cabral de Melo Neto, editor responsável pelo jornal Primeira Feira, de Salto, além dos professores do Ceunsp, o jornalista Rodrigo Augusto Tomba e o radialista Henrique da Silva Pereira, e uma plateia de cerca de 100 estudantes da universidade. Também esteve presente assistindo o secretário de Esportes da Prefeitura de Salto e jornalista Valdir Líbero.

A presidente da ASLe, Anita Liberalesso Néri

A presidente da Academia, Anita Liberalesso Néri, abriu a solenidade informando da sua alegria de estar à frente dos trabalhos em um evento que homenageia o seu pai, que é uma figura de destaque para a história de Salto e região e também para o jornalismo regional. “Estamos dando, com essa Semana Cultural e principalmente com essa mesa redonda de hoje, visibilidade para o lado jornalístico do Ettore, mas vamos falar também sobre o que tem impactado a nossa produção como escritores hoje”.

O professor e assessor de Gabinete da reitoria do Ceunsp, Gilmar Cardoso, representou o reitor Marcel Fernando Cardozo, que não pode comparecer devido uma visita de técnicos do Ministério da Educação para avaliação dos cursos oferecidos pela instituição. Após a abertura oficial pela presidente da Academia Saltense de Letras e pelo representante da reitoria, o acadêmico Marco Ribeiro, Cadeira 1, patrono Ettore Liberalesso, falou sobre a importância do historiador para a Academia e para a cidade.

O debate

Durante as discussões da mesa redonda, a acadêmica Rose Ferrari ressaltou que as redes sociais deram ao leitor a impressão de que não é mais necessário pagar por uma assinatura ou por um exemplar de jornal para ter acesso à informação de qualidade, mas que isto é necessário sim. Para ela, toda informação gratuita que chega às mãos do leitor deve ser encarada com receio. “Quem está pagando por essa informação? Qual é o interesse dessa pessoa ou empresa em me dar acesso a esse conteúdo? Dificilmente sabemos”.

A jornalista enfatizou que acredita no jornalismo como atividade e disse que é preciso encarar as dificuldades surgidas dessa nova realidade de convivência com redes sociais. ”Jornalismo reflete a sua época. A época em que eu me formei a postura era diferente. Hoje impera quem paga. Quem paga manda. Mas eu acredito que temos de enfrentar esse momento e aprender com ele”, disse ela.

Gilmar Cardoso, que representou o reitor

Para o jornalista Eloy Oliveira, é enganoso encarar o jornalismo como uma atividade em extinção. “O que acontecia quando a profissão foi regulamentada no regime militar, era que se queria saber quem eram os jornalistas. Hoje, principalmente com a derrubada da exigência do diploma para exercer a profissão, não há interesse algum em se saber quem são os jornalistas. Mas jornalistas são fundamentais para a sociedade”.

Ele ressaltou que defende a tese de que não existem fake news praticadas por jornalistas. “Jornalistas produzem notícias e isto implica em ouvir os dois lados, apurar a fundo e trazer a verdade dos fatos. Quem pratica fake news são ativistas, cujos interesses estão por trás de todas as suas ações. Um ativista político quer convencer o eleitor que o seu candidato é o melhor. Por isso, precisamos estar atentos à fonte da informação. Informações gratuitas como disse a Rose são sempre suspeitas”.

Democracia

A opinião foi compartilhada pelo jornalista Rodrigo Augusto Tomba. Para ele, sem jornalismo e sem jornalistas, a sociedade fica à mercê de ditadores sob todos os aspectos. “Não podemos perder de vista o jornalismo, que é a base da democracia. Vimos recentemente como isso é importante no episódio das eleições presidenciais. O mercado para jornalistas está aquecido. Temos de encontrar o equilíbrio sobre como exercer a profissão sem perder a nossa base”.

O caminho para o radialista Henrique da Silva Pereira está na educação. “Temos de mudar a educação. Levar aos estudantes a compreensão das mídias. Entender o processo para participar mais ativamente dele”, defendeu ele durante a discussão.

Na avaliação de Silva Pereira, cada vez mais o mercado exige que o jornalista tenha mais competências. Até para enfrentar essa concorrência com as redes sociais e as outras mídias. “Se antes tínhamos jornalistas especialistas em textos, hoje temos de ter conhecimento em edição de vídeo, em tratamento de fotografia e muito rapidamente também em programação”, disse ele.

Rodrigo Tomba afirmou que muito se fala em formação complementar para jornalistas, mas ele defende que o jornalista precisa estar apto a produzir conteúdo de qualidade, com responsabilidade e conhecimento. “Por isso, eu recomendo que os jornalistas leiam muito e que se informem muito sobre tudo o que acontece. É preciso ter esse conhecimento para poder escrever melhor. Leiam os clássicos, escrevam”.

Na visão do jornalista Eloy Oliveira, o caminho para o jornalismo sobreviver em meio a tanta concorrência e tanta evolução na forma de se levar a informação ao leitor é segmentar a produção e descobrir um nicho de negócio. “Muito se fala que os jornais impressos vão acabar por causa da rede social. Falava-se isso do rádio por causa da televisão. O mesmo do cinema por causa do streaming. Não concordo. As mídias se adaptam. É preciso ser necessário. Encontrar o seu nicho”, disse.

Um público de cem pessoas participou dos trabalhos da mesa redonda

Perguntas

Ao longo da mesa redonda, estudantes da plateia fizeram perguntas aos debatedores e procuraram mais esclarecimentos sobre o tema. Entre as perguntas, uma estudante quis saber como consumir as redes sociais e a avalanche de informações que recebe diariamente. Os profissionais explicaram que é preciso filtrar as informações. “Muita coisa chega todo momento, mas nem tudo é necessário nem aproveitável e por isso é preciso separar o que presta”, disse Rodrigo Tomba.

Henrique da Silva Pereira se confessou um antenado compulsivo.  “Eu tenho dois celulares e um relógio que fica conectado me dando informação. Sempre ficava avaliando que perderia alguma coisa senão olhasse as notificações, se não respondesse à luz que pisca informando que chegou algo. Mas estou me desligando agora. Já não uso o relógio o tempo todo”. A revelação encontrou simpatia na plateia, que vive esse momento de conexão intensa, um mal e um bem dos tempos modernos, como definiu a estudante que perguntou.

Em outra pergunta, a plateia quis saber sobre como tratar as imagens que hoje podem ser modificadas e o são na maioria das vezes. A resposta dos profissionais foi que não há como se estabelecer um selo de autenticidade nem de carimbar que determinada imagem foi alterada. “O melhor a fazer é conhecer o processo e entender as mídias. Precisamos trabalhar a educação para que os nossos alunos saibam como operar”, disse Silva Pereira.

Ao final do encontro, a mediadora Mirna Bicalho pediu uma conclusão, mas os participantes foram unânimes em dizer que não daria para fechar em uma conclusão única. A não ser a de que há necessidade de se enfrentar a concorrência acirrada e de que o jornalismo ainda vai sobreviver a tudo o que está passando. “A nossa força é a nossa base, que é a construção do equilíbrio entre a ética e a verdade, que nos garantem a democracia”, disse Rodrigo Tomba.

Os participantes da mesa redonda posam para a foto ao final da noite

Marilena Matiuzzi prepara três novos livros ao mesmo tempo

Escritora está terminando um livro de crônicas, tem um ensaio quase pronto e ainda escreve um diário de viagem

A escritora, poeta e advogada Marilena Matiuzzi

A escritora, poeta e advogada Marilena Matiuzzi, Cadeira 39 da Academia Saltense de Letras, patronesse Cora Coralina, trabalha na preparação de três livros ao mesmo tempo. “Estou terminando um livro de crônicas. Tenho um ensaio quase pronto também, que deve se chamar “Cantares de Eva”. E ainda faço um “Diário de Viagem”.

Aniversariante da sexta-feira, 24 de março, ela não sabe quando fará os lançamentos e nem se será uma festa lançar três livros ao mesmo tempo. Tudo por causa de uma das razões que mais a tem afastado da literatura: a falta de tempo. Ela mesma admite que a razão para isso é a entrega de corpo e alma ao trabalho como advogada, onde também se realiza ao promover justiça.

Desde a formação em Direito, Marilena já fez especializações em Direito da Mulher, Direito de Família e Direito Processual Civil abraçando uma gama de causas que têm muito a ver com o social e com os que mais precisam, e fez também uma pós-graduação em Direito Constitucional e uma especialização ainda em outra área que procura entender o ser humano mais à miúde, a psicanálise.

Mesmo assim, a relação com a literatura é um traço forte da sua formação. “Vivencio literatura desde que me conheço por gente. Sempre amei a literatura, os bons livros, ler, falar sobre eles, escolher, enfim, é parte da minha vida esse envolvimento”, afirma. Ela destaca que gosta demais dos clássicos, mas é aberta aos novos talentos e, entre os gêneros literários, gosta mais da boa poesia.

Por essa razão, suas incursões pela carreira de escritora começaram pela poesia com os livros “Inquietação”, lançado em 2011 por incentivo da amiga e ex-presidente da Academia Saltense de Letras Anna Osta, Cadeira 2, patronesse Rachel de Queirós, que sempre acreditou que Marilena tinha algo importante a dizer nessa área, e “Sentires”, lançado em junho de 2022 pela Editora Mirarte.

Se a falta de tempo faz demorar os lançamentos, ela não afasta os planos de futuro da escritora. Marilena Matiuzzi revela que já tem esboços de capítulos, traços de personagens e uma ideia de romance. “Quero escrever um romance. Assim que encontrar tempo para me dedicar a ele, eu vou fazer. É um projeto que quero muito realizar no campo da literatura e vou conseguir”, promete.

Marilena ainda quer escrever um romance

Fazendo uma reflexão sobre a sua trajetória, a escritora afirma que perdeu tempo com a política (ela foi vereadora por dois mandatos e a primeira mulher candidata a prefeita de Salto) e diz que agora vai buscar espaço para se dedicar mais à literatura. Essa disputa interna com o Direito brota de todas as formas. Por exemplo, além de escrever e advogar, Marilena Matiuzzi pinta quadros.

A menina que veio ao mundo completamente careca no início da tarde de um 24 de março em Salto, que era tida como muito bonitinha pelos pais (todos os pais falam isso, rsrrs, ela se diverte), hoje mulher, mãe e avó, se diz realizada e feliz. “Tenho uma família linda, com filhos honestos, saudáveis, amorosos, inteligentes e independentes, que me dão orgulho e alegria”.

A alegria com a família vai além do círculo mais próximo. Ela ressalta que tem netinhas que fazem o seu coração transbordar de amor, irmãos e sobrinhos queridos. “Tenho amigos leais. Tenho muitas atividades em uma profissão que amo e que me realiza. Trabalho todos os dias da semana. Participo de várias atividades sociais e culturais. Faço atividades físicas. Vivo bem”.

Escritor Antônio Valini luta para driblar a intensidade ferrenha em tudo que faz

Autor de ‘Ética e o Ensino da Ética’, um estudo profundo da formação educacional e da transmissão de valores fundamentais, ele diz estar em busca do equilíbrio entre a vida pessoal e a vida  profissional

O escritor, professor, gestor de marketing e jornalista Antônio Carlos Valini

 Intensidade é a palavra que melhor define o professor, gestor de marketing, jornalista e escritor Antônio Carlos Valini, Cadeira 10 da Academia Saltense de Letras, patrono Jota Silvestre. E isto é uma preocupação para ele. O escritor aproveita o seu aniversário, na quarta-feira 22 de março, para refletir sobre uma busca, cada vez maior, do equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional. Afinal, ele mesmo admite que o profissional tem roubado mais do seu tempo.

E não é para menos: hoje Antônio Valini se divide no profissional entre a coordenação de oito cursos superiores na Unianchieta, a consultoria em comunicação e marketing em três grandes corporações, a participação no Conselho Municipal de Políticas Culturais da Prefeitura de Salto e a composição das diretorias do Clube dos Casados e da Academia Saltense de Letras, o que tira boa parte do tempo com a esposa, o filho, a mãe e os amigos.

Na tentativa de reequilibrar essa balança, o escritor decidiu suspender temporariamente a matrícula que havia feito no começo de 2023 no curso de Direito. “Optei por esperar um pouco mais até a conclusão do Pós-Doutorado que já estou em curso para ampliar as experiências vividas ao lado da Julyany, minha esposa; do meu filho Lorenzo e da minha mãe Amélia e amigos”, diz. O grande problema para ele é que tem intensidade ferrenha em tudo que faz.

 

Sem arrependimentos

Mas, se não tem conseguido reequilibrar o tempo com as múltiplas atividades, Antônio Valini não tem nada hoje que gostaria de ter feito e não fez. “Invisto o meu tempo pensando em tudo o que farei a curto prazo”, avisa. E mesmo a sua característica desde a infância de ser um curioso por natureza, o que toma tempo, o impediu de realizar tudo a que se propôs. Ele diz crer que a curiosidade junto da iniciativa e do otimismo transformam o mundo.

“Minha relação com a leitura e com a escrita começou bem cedo. O tempo de estudar era centrado na memorização, no traço das letras e nas leituras. Lembro-me da chegada das datas comemorativas, quando deixávamos a escola bonita, correndo atrás de imagens de mães, pais, crianças, e pensar no tipo e cor da letra para um cartaz que levávamos para a professora. Até hoje minha rotina é voltada a estudar, mas leio menos literatura do que queria”.

Para o escritor, tudo se moldou ao longo do tempo. “Salete Stecca, Irmã Rosa, Renata Begossi, Neusa Garavello, Marly Fabri Panossian e Mildred Ravizza, estes são os nomes das professoras de série e de português (além de todos os professores das outras disciplinas) que me orientaram desde a pré-escola até o ensino médio”. Ele diz que o curso de jornalismo foi o corolário de toda essa admiração pela leitura e pela escrita que o acompanharam desde pequeno.

“Eu não consigo acreditar em uma existência sem sonhos. Enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança. Busco, portanto, nos sonhos, a razão para seguir e esperançar. Realizo-me quando posso me dedicar aos amigos e familiares. Realizo-me quando estou cansado ao final de um trabalho bem-feito. Realizo-me quando me relaciono bem. Realizo-me quando percebo que consegui dividir o fardo e chegamos juntos ao nosso destino”, define.

 

Livro foi marco

A publicação do livro “Ética e o Ensino da Ética” foi uma realização que entusiasmou Antônio Valini devido à dedicação que ele teve nesse trabalho. O livro surgiu de uma pesquisa profunda, realizada para o Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Unicamp, entre 2016 e 2019. “Um livro publicado é uma mensagem de amor, um libelo da sensibilização, um apelo à razão e de reiteração da importância da dignidade humana”.

Sempre atento a todas as informações 

Na visão do escritor, a educação é a prática social da identidade humana. “Não nascemos prontos. Somos engendrados como humanos no longo, cumulativo e grandioso processo histórico de definir a ontologia do ser humano, singular e coletivamente, a partir das práticas educacionais e sociais. Educar é igualmente humanizar, fazer-se pessoa, constituir-se como humano. Já a Ética é a investigação criteriosa sobre os valores que projetamos”.

Nesse sentido, ele entende e mostra no livro que os seres humanos necessitam transmitir, a cada geração, um conjunto de valores, de indicações de condutas, de consensos axiológicos, que se expressam numa atmosfera espiritual e cultural, e que se mostram basilares na coesão da sociedade e na manutenção do humano em cada um. A ética é a expressão do sentido e do agir moral, portanto, a ética é igualmente uma prática social”.

Outra parte importante da obra “A Ética e o Ensino da Ética” diz respeito à criteriosa discussão sobre a ensinabilidade da ética, entende Antônio Valini. “O ensino da ética é um dos grandes desafios postos pela emergente transformação do papel da educação e da escola em nosso país, das novas tecnologias digitais na educação, nas emergentes plataformas de pesquisas e de formação de profissionais e de educadores, entre outros”.

 

Em apresentação durante evento na ASLe 

Papel da educação

A tarefa de ensinar exige uma intencionalidade muito convincente, afirma o escritor. “Depois de trilhar o caminho acadêmico, desde 2003, vivenciando as práticas de sala de aula na graduação e pós, orientações de trabalho de conclusão de curso, orientações a estágios e coordenações de curso nos últimos 11 anos, cheguei a um momento em que a escolha por um trabalho investigativo constitui uma escolha de plenitude de vontades e de escolhas”.

Como aborda no livro, o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, promulgado em 2003 e depois ampliado em 2013 e 2018, carrega a possibilidade de vir a ser uma nova prática de convivência e de reconhecimento ético da diversidade da sociedade e das prerrogativas fundamentais de igualdade de gênero, etnia, cultura etc. Para ele, a questão da ética e dos direitos humanos dentro da educação constitui um tema extremamente atual.

Depois de todo o conhecimento que adquiriu para a produção do livro “A Ética e o Ensino da Ética” e para desempenhar todas as funções que exerce, Antônio Valini quer reproduzir com sua família, hoje, o cuidado que tinha com a mãe Amélia, quando ia buscá-la na antiga Brasital. “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria com a vida e com os humildes, como disse Cora Coralina. A certeza é que cresço, quando escrevo”, reforça ele.

Dois acadêmicos têm obras em nova biblioteca de autores do Interior de SP

Escritor Ignácio de Loyola Brandão proferiu palestra na inauguração da biblioteca

Somente dois escritores de Salto estão entre os 350 autores de diversas regiões do estado de São Paulo que tiveram suas obras inclusas no acervo da nova “Biblioteca Culturando Flamboyant das Artes”, inaugurada sábado (18), em Jumirim/SP. São eles Anna Osta, com seus livros “Peninha”, Crescer na Terra do Nunca” e “Betsy”, e Rafael Barbi, com a obra “Festejos, Liberdade e Fé”. Ambos são membros da Academia Saltense de Letras (ASLe).

A nova biblioteca é resultado de um projeto contemplado em 2022 pelo ProAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo) e marca os 15 anos de atividade da associação Culturando, uma instituição sem fins lucrativos com o objetivo de promover o desenvolvimento da cultura da cidade de Jumirim e região.

A biblioteca é a primeira do estado de São Paulo com acervo formado exclusivamente por autores nascidos em cidades do interior. Instalada em um prédio cercado pela natureza, o espaço também será destinado a eventos, encontros culturais e ações de incentivo à leitura, com grande parte das atividades podendo ocorrer ao ar livre, em frente à biblioteca, debaixo do magnífico flamboyant que inspirou a denominação do espaço (Rua Célio Roberto Faulim, 852 – Bairro Água de Pedra – Jumirim/SP).

Quem visitar a biblioteca encontrará obras de ilustres escritores nascidos no interior, como Ignácio de Loyola Brandão (de Araraquara), Walcyr Carrasco (de Bernardino de Campos), João Anzanello Carrascoza (de Cravinhos), Cornélio Pires (de Tietê) e Monteiro Lobato (de Taubaté), além de títulos de uma nova safra de autores interioranos que se inscreveram a partir do chamado realizado pelo Culturando e tiveram suas obras selecionadas segundo os critérios do projeto.

A festa

O evento de inauguração contou com a presença do escritor Ignácio de Loyola Brandão, vencedor de cinco prêmios Jabuti e ocupante da 11ª cadeira da Academia Brasileira de Letras. Recebido sob muitos aplausos, Brandão falou para os escritores, numa palestra digna de seus 86 anos e sua carreira brilhante. Depois, fez uma sessão de autógrafos do seu novo romance “Deus, o que quer de nós?”.

Pablo Civitella, diretor e idealizador do projeto Culturando, disse que os artistas, especialmente os do interior, ainda não têm o reconhecimento necessário. “Quando a gente diz que é da Cultura, as pessoas costumam perguntar: mas você trabalha em quê?”. Destacou que trabalha para que a Cultura seja valorizada como um dos segmentos mais importantes da Economia Criativa.

O evento teve ainda apresentações do grupo Choro e Prosa e da dupla sertaneja Pedro Massa e Fábio Tomazela, além da declamação do poema “Não é tempo de poesia”, de Mayara Beami, por Dieferson Gomes, e sessão de autógrafos da antologia “Contos do nosso interior”, organizada pela escritora Samanta Holtz e publicada pelo Culturando.

6ª Semana Cultural Ettore Liberalesso vai discutir o jornalismo e a literatura

O professor doutor Alfredo Attié, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado, um dos palestrantes

Em sua 6ª edição e agora em um formato mais curto de quatro dias, a Semana Cultural Ettore Liberalesso de 2023 vai discutir o jornalismo no interior e os obstáculos à produção literária. “Queremos dar visibilidade para o lado jornalístico do Ettore e o que tem impactado a nossa produção como escritores hoje”, destaca a presidente da Academia Saltense de Letras, promotora do evento, Anita Liberalesso Néri, que também é filha do homenageado.

A Semana Cultural Ettore Liberalesso foi criada para imortalizar o nome do escritor, historiador e jornalista Ettore Liberalesso, um dos fundadores da Academia, em 2008, e o seu primeiro presidente, que escreveu mais de mil relatos sobre a história de Salto e das pessoas que viveram esses momentos, além de seis livros que falam da história, da vida, das tradições, das ruas e das famílias saltenses e da sua própria história de vida em uma autobiografia.

Neste ano, o evento de abertura será uma mesa redonda na noite do dia 29 de março para discutir os desafios contemporâneos da imprensa no interior. O debate será mediado pela jornalista Mirna Bicalho, que comanda o programa de entrevistas “Lado a Lado” e contará com os jornalistas Rose Ferrari, editora chefe do jornal Mais Expressão, de Indaiatuba, e Eloy Oliveira, editor responsável pelo jornal Primeira Feira, de Salto, ambos da Academia, e Rodrigo Augusto Tomba e Henrique da Silva Pereira, ambos professores do Ceunsp, que sedia o evento e apoia realização da semana.

No dia seguinte haverá uma palestra intitulada “A Liberdade de Expressão do Escritor e o Direito”, com o professor doutor

, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado, que falará sobre os embates entre a produção literária e a justiça. No dia 31, dia do aniversário de nascimento de Ettore, que faria 103 anos se estivesse vivo, haverá uma missa em sua homenagem e em homenagem aos acadêmicos falecidos ao longo dos 15 anos de A Academia.  A entidade já perdeu metade dos seus 16 fundadores.

O último dia da Semana Cultural Ettore Liberalesso, 1º de abril, contará com um evento denominado “Café com Palavras”, que discutirá o que é possível dizer sobre alguém em uma biografia e nas autobiografias. O tema será explorado pelo professor doutor Fabiano Ormaneze, doutor em linguística pela Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, cuja tese tratou do discurso biográfico sobre os personagens políticos brasileiros.

O Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio, um dos locais de palestra

 CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA

 

Semana Cultural Ettore Liberalesso 2023

De 29 de março a 1º de abril

Jornalismo e Literatura: do factual ao ficcional

 

DIA 29/03 – Abertura

19h30 – Ceunsp

Mesa Redonda – Os desafios contemporâneos da imprensa no interior

Mediador – Mirna Bicalho (jornalista convidada)

Participantes –   Rose Ferrari e Eloy de Oliveira (ASLe) e Rodrigo Augusto Tomba e Henrique da Silva Pereira (Ceunsp)

 

DIA 30

19h30 – Ceunsp

Palestra  – A liberdade de expressão do escritor e o Direito

Convidado – Professor Dr. Alfredo Attié

Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ/SP), graduado em Direito e em História na Universidade de São Paulo (USP); Mestre em Direito e Doutor em Filosofia pela mesma instituição. O magistrado é autor das obras “A Reconstrução do Direito” e “Montesquieu”. Presidente da Academia Paulista de Direito, onde e coordena a “Polifonia: Revista Internacional da Academia Paulista de Direito.

 

DIA 31

7H – Missa em homenagem ao fundador da Academia Saltense de Letras, Ettore Liberalesso  e aos acadêmicos falecidos – Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat.

 

Biblioteca Municipal sedia o “Café com Palavras”, que encerra a semana

DIA 1º

9h – Café com palavras – Biblioteca Municipal

Sujeito de palavra: entre a verdade e a ficção do ser

O que é possível dizer sobre alguém em uma (auto)biografia? O que o sujeito consegue dizer de si a um outro, seja o leitor, o biógrafo ou ao ser que se expressa e se constitui nas palavras colocadas em papel? Verdade e ficção se cruzam em escritas, em expectativas e em sentidos. Neste encontro, vamos tratar de questões como essas. O que se mostra e o que se oculta na verdade de uma narrativa?

Convidado – Professor Dr Fabiano Ormaneze

Doutor em Linguística, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com tese sobre o discurso biográfico sobre políticos brasileiros. Mestre em Divulgação Científica e Cultural pelo Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor), da mesma universidade, com dissertação sobre o discurso biográfico sobre cientistas. Especialista em Jornalismo Literário, pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL). Graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela PUC-Campinas.

 

Realização – Academia Saltense de Letras

Apoio – Ceunsp

Patrocínio – Instituto Central de Direito e Educação

Com professores Especialistas, Mestres e Doutores, sob a coordenação do Professor Romeu Bicalho, Doutor em Direito pela PUC-SP, Pós-Doutor pela Universidade de Coimbra-Portugal, o ICDE oferece cursos de excelência, com foco na prática, mas sem descuidar do conhecimento teórico que lhe dará consistência no exercício da sua profissão, para além da mera técnica

O Instituto Central de Direito e Educação fica à Rua Quintino Bocaiúva, 167 – Centro, Salto – SP – (11) 9 7247 6363

MULHERES

Por Andrade Jorge

Mulheres, mulheres…. que alvoroço é esse que ouço por aí?

Porque tanto falatório? Será porque essas criaturas povoam o mundo? Elas que concebem um novo ser, alimentam com a seiva, que o próprio corpo produz, protegem e aninham seus rebentos, dando-lhes o necessário calor.

Será isso o motivo de tanto alarde? Será isso que as tornam superioras?

Mulheres, mulheres, que grita é essa que ouço mídia afora?

Eu sei, elas são o esteio de um lar. O homem é o tijolo bruto que constrói a casa, a viga mestra, mas a mulher é a massa pura que junta e rejunta os tijolos, fortalece a viga, e sustenta o chão que a família pisa.

Seria esse o motivo de tantas solenidades?

Mulheres, mulheres, por que tantas homenagens? O motivo seria essa força interior que elas possuem, que chega ser indomável? Não sei…  mas às vezes, astutamente, se tornam submissas apenas para atingir o bem comum à família, que o homem não consegue enxergar.

Mulheres, Maria entre tantas, que sacrificou a própria honra aos olhos da turba, para parir “Aquele” que haveria de salvar a humanidade, na redenção dos pecados.

Mulheres que não vivem para enfeitar o mundo, nem para se mostrarem belas, vivem para dar sentido a esse mundo confuso.

Rendo-me, também, a esse sexo tão frágil, quanto a erupção de um vulcão, um tsunami marítimo, tão frágil quanto os raios de uma tempestade, um terremoto.

A grande verdade é que em si reside uma fortaleza inexpugnável, cuja arma resume-se na palavra: Amor!

Brancas, negras amarelas, indígenas, mulheres …….  Salve o dia internacional das mulheres.