Titular da Cadeira 9 da Academia Saltense de Letras, ele já produziu três romances com histórias de famílias e já participou de antologias 

O escritor Alberto Manavello e a presidente da Academia, Anita Liberalesso Neri

Um apaixonado pela vida, de extremo bom humor e humilde em tempo integral, o escritor Alberto Manavello, Cadeira número 9 da Academia Saltense de Letras, patrono José de Alencar, diz que só agora, aos 82 anos completados no domingo, 16 de abril, é que conseguiu realizar o seu sonho de juventude: dedicar-se à literatura em tempo integral e quem gosta dos seus textos já pode se preparar, porque um novo romance fresquinho vem por aí.

“Estou escrevendo uma história policial que tem como título provisório ’Sequestrum’”, adianta ele. O entusiasmo com a obra é tanto que ele já dispara também um spoiler: “É uma narrativa que terminará possivelmente com um episódio da “Síndrome de Estocolmo’”. A definição “formal” da síndrome é a de que a vítima de agressão, sequestro ou abuso desenvolve uma ligação sentimental ou empatia por seu aproveitador, o que contraria o normal.

Autor de três romances que retratam histórias de família e de duas participações em antologias, nas quais fala da epidemia de Covid-19 e da natureza, e ex-proprietário de uma empresa de aparelhos de iluminação, em Salto, que encerrou as atividades na pandemia, ele diz que o lançamento do novo livro ainda depende de conseguir patrocinadores para bancar os gastos de produção, que são altos hoje e um empecilho para muitos outros livros que faria.

O gosto pela literatura pode ser visto nos olhos inquietos do escritor enquanto fala do que fez nos livros anteriores e do que faz no atual. “Defino-me como um aprendiz que quer todo dia aprender novas formas de descrever emoções. Deixar no papel ideias que possam ajudar e o meu legado principal, que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, afirma. Depois complementa: “Pretendo escrever enquanto Deus permitir”.

 

Entusiasmo e lágrimas

 

Alberto Manavello com a família no lançamento de coletânea

Para quem ouve Alberto Manavello falar com entusiasmo da sua escrita, pode ficar com a impressão de um escritor deslumbrado com a paixão pela literatura, mas ele logo derruba essa imagem com alguns minutos de conversa. O entusiasmo está em tudo nele, o que chama atenção, pois sua trajetória não foi fácil desde o início. Boa parte do que viveu está retratada no primeiro livro, o romance autobiográfico “Vila Kostka – A arte do encontro”.

Falar em trajetória difícil desde o início não é força de expressão. O menino, que nasceu em um hospital de Treviso a 300 metros de casa, aprendeu a chorar silenciosamente e com lágrimas grossas, como define, por conta da época. O mundo vivia a Segunda Guerra Mundial. Ele conta que aos cinco anos morava provisoriamente em uma casa de campanha a 5 km do centro. Estava no colo do pai Giuseppe, o Beppe, e viu “Pippo”, como era chamado o avião inimigo, que voava à noite e sozinho, destruir boa parte da cidade.

“Em cinco minutos eles fizeram o pior bombardeio que eu já vi na vida. Destruíram tudo. Mais de 1.600 pessoas, incluindo crianças e idosos, foram dizimados. Achei que Treviso nunca mais se ergueria. Mas Deus não permitiu. A cidade foi reconstruída. Treviso é hoje uma joia chamada ‘A pequena Veneza’ por causa do emaranhado de rios e riachos que a atravessam. Isto aumentou minha fé. Só Deus pode fazer essas transformações e corrigir os erros dos seres humanos”.

O romance de estreia retrata essa sua trajetória. O escritor cresceu em Treviso e morou lá até os 13 anos. Depois mais 7 anos em Bolonha, cidade universitária italiana entre os rios Reno e o Savena. Em seguida teve de emigrar para a Venezuela com 21 anos para tentar a vida, que continuava difícil. Mas Alberto Manavello nunca desaminou. Em Caracas, conheceu a esposa Ana, uma espanhola de Barcelona, exímia parceira de dança, um dos seus antigos deleites, com quem teve duas filhas Margaret e Flávia.

 

Aprender com a vida

Alberto Manavello com a esposa Ana

As mudanças e as dificuldades o impediram de ter uma vida escolar regular. Fez primário e ginásio em Treviso. Depois foi autodidata a partir de Caracas. “A leitura foi fundamental para a minha formação religiosa e intelectual. Fiz muitos cursos avulsos. Vendas, marketing, eletricidade, iluminação teórica e prática. Poderia dizer que sou formado em curiosidade e literatura russa por causa da minha preferência por Dostoievski”. O preferido dele é Tolstoi e ainda Tchekov, Pushkin, Nabokov, Pasternak, Soljenitsun.

Com tantas dificuldades e aprendizados, as pessoas ao redor não poderiam passar ao largo do escritor. Manavello contou a história da avó materna, que passou por uma guerra civil na Espanha e por duas guerras mundiais. O segundo romance “Por onde andou Pepita” faz um relato preciso sobre uma mulher forte que venceu suas batalhas e foi exemplo para ele. O terceiro livro saiu de um velho diário do tio Nino, que serviu na guerra e penou no front russo. “As batalhas da esperança” traça ainda paralelo da guerra com a Covid.

“A literatura hoje ocupa a maior parte do tempo do meu dia. Faço muitas pesquisas para a obra que estou escrevendo e ainda reviso outros escritos que ficaram pelo caminho. Gostaria de ter feito carreira como escritor de romances. Eu me realizo com isso. Estou aprendendo, mas já amo tudo isto. Só que a vida me levou a ter sucesso como administrador de uma fábrica de aparelhos de iluminação. Com o encerramento da fábrica, agora me realizo”.

Para o escritor Alberto Manavello, a possibilidade de interagir com o leitor por meio das suas histórias e poder ensinar e aprender com as pessoas por tudo o que já viveu, é o que há de mais importante para alguém com a sua trajetória. “Sinto-me realizado a esta altura da vida pelas valiosíssimas amizades que fiz, principalmente com esse povo acolhedor de Salto”.

O escritor Alberto Manavello autografando um de seus livros para amigos

0 0 votes
Article Rating

Faça um comentário!

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments