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Todo dia é domingo

Tenho um amigo que diz, desconsolado com o isolamento social da pandemia, que todo dia é domingo para ele.

– Antes, eu trabalhava a semana inteira e não via a hora de chegar o final de semana, porque o final de semana era maravilhoso, principalmente o domingo.

– E por quê?

– Porque era o dia de descansar, não se preocupar com nada. Era um dia só para mim. Parece que aquele refresco apagava toda a semana difícil e o estresse.

– Mas, se todo dia é domingo agora, então melhorou?

– Claro que não. Agora eu não tenho mais a rotina do trabalho. Não encontro amigos. Estou me perdendo.

– Você já reparou que as pessoas sempre mandam pelo whatsapp na sexta-feira uma mensagem dizendo que sextou e essas mensagens sempre são alegres?

– Sim, eu também mando.

– Pois então, o que tem nessa mensagem?

– Tem um desejo muito grande de que tudo seja legal.

– O que falta hoje é um desejo igual.

– Mas não dá para desejar algo bom nesse clima.

– Antes você vivia o estresse da semana de trabalho e desejava um final de semana bom. Agora vive o estresse dessa pandemia e tem de desejar uma superação.

– Fácil falar.

– Quando vai sair de férias, você sabe como elas serão? Não, mas idealiza que sejam ótimas. Por que não fazer isto com o período pós-pandemia?

– Será que haverá pós-pandemia?

– O que move o mundo são os objetivos. Você se levanta da cama todos os dias porque quer algo. E vai atrás disso custe o que custar. Se acabarem as metas, morremos.

– O que eu mais desejo é que acabe essa pandemia? O tempo está passando. Estamos perdendo pessoas.

– Precisa parar de viver em função do tempo e do espaço. Não importa quanto tempo demore, vai chegar. Não importa onde está, vai dar tudo certo. Se deseja que a pandemia acabe, foque nisso e, enquanto não acontece, faça o que gosta, divirta-se com coisas simples, demonstre amor e carinho, agradeça. E, sobretudo, comemore cada conquista, por mínima que seja. O melhor da festa não é esperar por ela? Espere com alegria.

– Queria ter essa esperança.

– Você tem e todos nós temos. Só falta dar abertura a ela. Se todo dia é domingo, festeje que não tem segunda-feira.

Conversa com meu pai

– E aí velho, como estão as coisas?

– Que linguajar é esse?

– É como se fala agora.

– Nossa, piorou muito então. Ninguém merece ser chamado de velho. Não me chame assim.

– Deixa de ser ranzinza. Se tu é velho, tu é velho. Vai querer ser pivete agora?

– E quem quer ser velho?

– Ué, acho que todo mundo. Um dia vai ter de ser. Não tem muito como fugir.

– Pois eu te digo que ninguém que ser velho.

– E por que não?

– Porque todo mundo acha que tem o direito de se meter na vida do velho. Não te deixam ter opinião para nada. Se você se irrita e fala mais alto para mostrar que tem autoridade, eles dizem: – Não liga não, ele está velhinho, coitado.

– Não seja ridículo pai.

– Ridículo é mijar na calça e depois dizer que nem o Chaves: foi sem querer. E foi mesmo.

– Rsrsrsr.. Isso acontece. É uma fase.

– Uma fase é ter espinha no rosto. Você sabe que vai passar. Ser velho não: só piora. Quando você opera a catarata, aparece uma dor no ciático.

– Pare de reclamar. Deve ter coisa boa. Você está de má vontade com essa fase, que é linda.

– Tem sim.

– Não falei.

– Mas eu esqueci.

– Poxa, você está cansado da vida?

– Eu não. Estou cansado é de ser velho. A minha caixinha de remédios já não tem mais espaço.

– Mas precisa se cuidar pai. É assim mesmo. São só cuidados que você precisa ter.

– Que nada. Você toma remédio para azia e afeta o estômago. Daí toma remédio para o estômago e estraga o intestino. Toma para o intestino e…

– É assim mesmo. É normal pai.

– Normal nada, essa semana comecei a tomar remédio para a memória, porque esqueci para que servem os outros remédios da caixinha.

– Rsrsrsr. Mas ninguém mexe com velho assim. Vocês têm prioridade em tudo. As pessoas ajudam…

– Ajudam nada. Outro dia coloquei uma calça rasgada no joelho, que nem a sua sobrinha usa e todo mundo acha legal. Daí me levaram no pronto socorro achando que eu tinha caído.

– Isso é cuidado pai.

– Você acha que é cuidado? Eu disse que não tinha caído, que era moda. Aí enfermeira falou: – Moda pra você vovô é ir à praia de calça arregaçada no joelho.

– Rsrsrsr.

– Ser velho é requerer paciência e ninguém tem paciência com ninguém, muito menos com velho.

– Não é assim.

– Outro dia eu fui à farmácia comprar esparadrapo. Quando vi a atendente, fiquei perplexo. Era uma menina tão estranha que não tive como não olhar. Queria descobrir de onde ela tinha vindo. Ela tinha o cabelo verde, usava um brinco só e carregava uma correntinha no pescoço com uma plaquinha no meio dos peitos, onde estava escrito: não olhe aqui. Imagina se não olhei. Ela disse: – O senhor sabe ler? Eu disse: – Ler eu sei e você sabe esconder? Ela fez cara de brava e perguntou o que eu queria. Eu já tinha esquecido o nome do que fui comprar.

– Está vendo pai, velho precisa de cuidados.

– Que nada. Precisa de paciência só. Eu disse: quero aquela coisa que cola, sabe? Ela perguntou: – Superbonder? Eu quase xinguei aquela marciana. Vou comprar Superbonder na farmácia?

– Rsrsrsr.

– Tentei de novo: vem em um rolo assim. Ela: – Papel higiênico? Eu já estava querendo esganar aquela menina. – Não, não é papel higiênico. – Senhor, tente se lembrar do que quer, eu vou atender outras pessoas. Não posso ficar aqui esperando.

– Por isso que você tem de ir com alguém pai. E o que você fez para comprar o esparadrapo?

– Não comprei nada. O segurança me fez sair de lá.

– Por quê?

– Eu falei para ela: vai dobrar lençol de elástico para aprender a ter paciência e ela botou o dedo no meu nariz e disse: vai contar gafanhoto na Argentina para ver se tem 40 milhões mesmo, seu velho ridículo.

– Rsrsrsr. Você não tem jeito pai. Mas ser velho é bom. Sabia que está chegando o Dia dos Pais?

– Ah, Dia dos Pais é bom para quem é jovem. Velho só ganha presente de velho.

– Como assim? Que presente eu te dei ano passado? Não era de velho.

– Era um pijama.

– Puxa, mas e no outro ano?

– Foi um par de chinelos.

– Mas eu nunca te dei nada de jovem?

– Deu.

– Ah, eu sabia. O que foi?

– Uma camisa social com gravata.

– Está vendo: um presente jovem e legal.

– Legal se eu fosse um executivo. Só usei gravata quando me casei e ainda assim era alugada.

– Poxa pai.

– E seus filhos te deram o quê?

– Um pijama.

Finalmente o vi dando um sorriso largo.

– Então seja bem-vindo à terceira idade, seu velho.

A Primeira Guerra Mundial e os jornais locais – Parte I

Texto publicado na coluna “um dedinho de prosa”, no Jornal Primeira Feira. Edição de 24 de julho de 2020.

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“É muito para temer esta grande desgraça sobre a Europa inteira. As últimas notícias não são nada animadoras, e é possível que estale de um momento para outro, em razão da grande tensão dos espíritos.

Se rebentar, será uma guerra tão mortífera como até agora não viram os tempos.”

O trecho transcrito está presente no jornal A Federação, edição de 1º de agosto de 1914, e trata-se de uma preocupação com acontecimentos no continente europeu, rivalidades e disputas territoriais entre países, fatos que geraram a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). Uma guerra tida como “total e mundial”. Total, pois, o alvo também era a população civil, mundial porque envolveu países de todos os continentes.

No início do século XX, a Europa vivia um certo sentimento de otimismo e orgulho, pois permeava a crença na prosperidade econômica vivida pelo continente, sobretudo proporcionada pelo imperialismo europeu. A relativa paz vivida no continente foi desestabilizada pela disputa cada vez mais acirrada entre as potências, sendo Grã-Bretanha, Alemanha e França as grandes protagonistas em tais disputas.

Acontece que, grande parte dessa riqueza vivida no continente europeu era às custas da exploração nas terras e do povo africano. Dados apontam que em 1900, cerca de 90,4% do território da África estava colonizado pelos europeus. Nos anos finais do século XIX, França, Bélgica, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, Rússia, Estados Unidos, Dinamarca, Suécia, Noruega, Países Baixos, Áustria-Hungria e Turquia, participaram da chamada Conferência de Berlim, firmando o acordo da Partilha da África.

Na edição de 5 de agosto de 1914, o jornal A Cidade de Ytú trazia o seguinte texto:

“Acaba de rebentar na Europa uma tremenda guerra, tão grande, tão extraordinária e de tamanha repercussão como se não havia nunca imaginado. A Allemanha, a Áustria e a Itália se atiram, ferozmente contra a Rússia, a França e a Inglaterra. Qual seja o desfecho dessa enorme guerra não está ao nosso alcance dize-lo e bem poucos serão os que têm cálculos mais ou menos aproximados de tão extraordinário movimento militar. […]”

Pois bem, meu amigo leitor e amiga leitora, a partir desta semana você irá acompanhar aqui no dedinho de prosa a história da Primeira Guerra Mundial (iniciada oficialmente em 28 de julho de 1914) e como ela foi noticiada nos jornais locais, principalmente nos jornais ituanos disponíveis para consulta na Biblioteca de Obras Raras da USP.

Um bom fim de semana a todos.

Vários olhares sobre a fundação da mesma Salto III

Dando continuidade nas transcrições de textos escritos por historiadores e cronistas sobre a fundação da cidade de Salto, compartilho o texto escrito por José Dias da Silva.

Tal artigo foi escrito originalmente para o jornal O Trabalhador e foi publicado em 16 de outubro de 1949. Boa Leitura.

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“Como a maior parte das cidades do nosso imenso Brasil, desde os tempos das capitanias Salto também teve por alicerce a função de uma capela que veio formar o povoado. Distante mais ou menos uma légua da então Vila de Nossa Senhora da Candelária de Itú, intrépidos sertanistas, devastando mata virgem na sua histórica epopéia, lá pelos últimos decênios do século XVII, construíram sobre o rio Tietê (outrora Anhembí) uma ponte de madeira, muito estreita, desprovida de grades e dividida em duas partes desiguais, com intervalo numa ilha, dando acesso à margem direita desse rio, em terras que haviam sido ocupadas pelos brasilíndios Tupi de Paranaitú.

A referida ponte foi construída perto do Itú-guaçu (salto grande). De i-tú. “Salto, golpe, queda d’água”; guaçú, “grande, largo”. (Dicionário Geográfico da Província de S.Paulo – Dr. João Mendes de Almeida).

Foi aí, nas proximidades da catadupa de eminência de uma pequena colina situada no ângulo formado pelas margens direitas dos rios Tietê e seu afluente Jundiaí, no ponto em que este desagua no primeiro, que o capitão Antônio Vieira Tavares mandou erigir a capela em louvor à Nossa Senhora, sob a invocação de Nossa Senhora do Monte Serrate, que também foi conhecida como capela de Nossa Senhora da Ponte. Com o seu erguimento começou a vida do lugarejo, mais tarde Freguezia de Salto de Itú. É a notícia mais antiga que conhecemos da sua povoação. E mais uma vez o lendário Tietê servia de esteio, – fulcro auspicioso para a implantação de futuras cidades.

O ilustre escritor ituano Francisco Nardy Filho, no seu livro “ A cidade de Itú”, referindo-se ao município de Salto, diz: “Teve o seu início em uma capela aí fundada por Antônio Vieira Tavares e sua mulher Maria Leite em 1695.” Entretanto, o mesmo escritor, em artigo publicado no “O Povo”, de Salto, n, 124, de 27 de janeiro de 1935, intitulado “O Salto, sua fundação e o seu fundado”, cita o erguimento da ermida no ano de 1698, e, tendo pesquisado os assentamentos genealógicos, esclarece nos algo sobre a linhagem e morte do seu fundador.

Manoel Eufrázio de Azevedo Marques nos “Apontamentos Históricos”, Geográficos, Biográficos, Estatísticos e Noticiósos da Província de S.Paulo, vol. 11, também faz referência ao levantamento da igrejinha no ano de 1695 e à data de 11 de dezembro de 1700 da passagem da escritura de doação de terra por Antônio Vieira Tavares para servir seu patrimônio. A escritura foi lavrada no Cartório de Orfãos de São Paulo, no processo de tomada de contas pelo ouvidor em 1807. A capela foi solenemente benta a 16 de junho de1698 pelo padre Felipe de Campos, vigário de Itú. Somos de opinião que Salto deve oficializar essa data como sendo de sua fundação.”

Influência da internet nas relações pessoais

Texto publicado na edição de 17 de julho de 2020 no Jornal Primeira Feira. Coluna “um dedinho de prosa”.

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O texto desta semana é outra reflexão de nossos alunos, quem participa do “Dedinho de Prosa” hoje é a Ana Carolina S. I. Alves, também aluna do Colégio Objetivo de Cabreúva e está no 8º Ano do Ensino Fundamental. O texto foi desenvolvido durante as aulas de Língua Portuguesa com a mediação da Professora Paula Pelegrini. Uma boa leitura a todos.

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Muito se discute sobre a influência da tecnologia nas interações sociais, tendo em vista que a cada dia estamos mais conectados ao espaço virtual e que vivemos em uma sociedade com relações pessoais altamente mutáveis, nos associando a uma nova forma de convívio, onde, diferente de décadas atrás, é possível fazer contato imediato com pessoas a quilômetros de distância.

Nota-se que a internet é essencial para a interação, principalmente na atual situação de isolamento social, porém, além de manter uma pessoa conectada a outra permitindo a comunicação, podemos observar que por conta de relações muito fixas a ela, quem convive em uma mesma moradia, por exemplo, acaba gerando conflitos entre si ao poder se desprender do meio virtual e passar mais tempo com o outro, o que pode ser percebido através do aumento do número de divórcios nessa quarentena.

Contudo, deve-se reconhecer sua imensa utilidade em todos os aspectos e suas inúmeras vantagens para a interação com o mundo fora de nossas casas, como também para a aquisição de conhecimento, produtos ou mesmo para a diversão. Ainda assim, a cautela nunca é exagerada se tratando da internet, visando que normalmente não nos damos conta do vício que ela se tornou.

Portanto, podemos concluir que apesar de sua importância na vida cotidiana, desde para a busca por conhecimento ao lazer, temos alguns transtornos, o que demonstra a responsabilidade e consciência imprescindíveis para seu uso. Sendo assim, se trata de uma questão de equilíbrio entre o real e virtual para que não nos tornemos ferramentas de nossa própria ferramenta, a internet.

GOIABADA CASCÃO*

 

 

A saudosa dona Prazeres Vieira de Oliveira
sempre foi uma mulher muito, mas muito forte.
Dessas que não temem nem mesmo a morte
e que botam homem abusado para correr.
Limpava o único cinema de Pederneiras para viver.

 

Viúva dez anos após o primeiro filho, guardou luto.
Em razão disso, seu humor não era dos melhores.
Tratava os vizinhos, seus mais próximos, como piores.
Na beira do fogão de lenha, ralhava com o gato serelepe
e falasse com um irrequieto moleque.

 

A única fraqueza a que se rendia eram as goiabeiras,
mas nunca se arriscou a subir em uma delas.
Eu sempre apanhava para ela as goiabas mais belas.
Com os frutos fazia uma goiabada cascão
que conquistou para sempre o meu coração.

 

Tenho orgulho da guerreira que foi minha avó,
uma matriarca para tudo sempre valente,
que se dedicava a tudo que fazia de forma competente.
A morte foi a única que a venceu e foi na primavera.
Após isso, nunca mais a goiabada cascão foi como era.

 

* Prazeres Vieira de Oliveira é a avó paterna do autor e esta é uma homenagem aos avós pela passagem do Dia dos Avós, celebrado neste dia 26 de julho

MEUS FANTASMAS, MEUS MEDOS

MEUS FANTASMAS, MEUS MEDOS

Por Andrade Jorge

Os meus medos giram num quarto escuro, onde os fantasmas alegóricos engolem minhas aspirações, respiram minhas verdades, volatizando-as no atro dos meus pecados.

Busco em vão a luz no fim do túnel, porém as correntes do ego aprisionam-me nas barras dos receios, mas liberam o egoísmo disfarçado nas ações do cotidiano.

No mundo dos meus medos as comportas da fraqueza são escancaradas, jorram a covardia nos momentos cruciais da imposição da personalidade. Essa região escura que mascara sentimentos onde a credibilidade usa capuz para impressionar o outro com objetivo único de amealhar benefícios com induções e pragmatismo, são desvios que me afoga.

Essa máscara dos baixos sentimentos, esse capuz que cobre a credibilidade refletem o medo de encarar o mundo real de frente, vivo essa dualidade do ser que aparenta e o ser que realmente é.

Os medos que me fazem sorrir ou chorar pelas sensações de outrem, me submetem à consciência de quem sou ou que faço ou fiz. Alguém a espera de resposta.

O mundo das minhas distorções urge uma vivência mais ampla, entretanto preso nos meus dogmas indefinidos omito emoções, olvido pseudo-amores, crio fantasmas de mim mesmo. Desejo ser e estar em outros mundos. Desejo ser o alvo.

Os meus medos enfraquecem minhas resistências, o meu porto seguro desmorona nos ventos da intolerância, do orgulho e neste redemoinho sou a pluma que baila no ar sem chão para descer, sem mão para aparar.

Os meus medos e receios superam-me na invisibilidade, o oxigênio falta, falta-me a confiança, falta-me a fé, a fé em mim mesmo. Falta-me talvez um desígnio superior; Em meu interior a batalha há muito iniciou, sou um ser em convulsão tentando entender todos os medos que moram em mim.

Escrito em 20/11/16

Um Monumento Geológico

Como comemoração do aniversário da cidade de Salto (16 de Junho), o Jornal Primeira Feira lançou um caderno especial, na edição de 12 de Junho, com dez textos sobre os encantos de nossa terra. Tive a honra de ser um dos convidados para escrever um dos textos. Você irá ler sobre a Rocha Moutoneé, um importante patrimônio geológico em nossa cidade.

Boa leitura.

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Um lugar de grande importância para a cidade de Salto, bem como para a região, é o Parque Rocha Moutoneé. Além de ser um ponto turístico bem agradável para passar uma tarde, é também uma valiosa fonte de estudo acerca do nosso passada geológico, sendo, portanto, visitado por curiosos e pesquisadores do tema.

Segundo o historiador Ettore Liberalesso (1920-2012), por volta de agosto de 1989, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente formulou algumas sugestões para melhor preservação daquele patrimônio ecológico que, de acordo com o Prof. Dr. Antônio Carlos Rocha Campos, a rocha teria sido descoberta no ano de 1946, pelo pesquisador Marger Gutmans, do Instituto Agronômico de Campinas. Pois bem, logo após as manifestações de preocupação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, “uma lei municipal declarava de utilidade pública uma gleba de terra de aproximadamente 5 hectares, na chácara Guaraciba, onde a rocha se situa. Quanto ao tombamento pelo    CONDEPHAAT, a medida seria tomada em abril de 1990, na condição de Sítio Ecológico.” (LIBERALESSO, 2000, p.330).

Quanto ao nome “Moutoneé”, o Dr. Antônio C. R. Campos explica que, costumeiramente o termo é atribuído de acordo com seu significado em francês que, traduzido ao pé da letra, seria “acarneirado”, pois o formato da rocha lembra um carneiro deitado, porém, segundo o estudioso: é mais provável que tenha derivado do nome de um tipo de peruca ondulada, em uso na França, no século XVIII.

Uma visita ao Parque e você irá ter contato com uma formação rochosa que apresenta em  sua superfície arranhaduras que foram produzidas pelas geleiras da era Paleozoica (há 270 milhões de anos), somado a outros elementos geológicos, nos mostra que nossa região já passou por grandes alternâncias climáticas, como nos apresenta o próprio CONDEPHAAT: a importância da rocha deve-se ao fato desta registrar a ocorrência de antigas glaciações no planeta, na época em que o hemisfério sul apresentava um único continente – o Gondwana.

De fato, uma tarde no Parque Rocha Moutoneé é uma viagem de milhões de anos. Quando passar a pandemia, não deixe de visitar.

Para saber mais:

– Livro Salto: história, vida e tradição de Ettore Liberalesso.

– Artigo: Rocha Moutoneé de Salto, SP do Prof. Dr. Antônio Carlos Rocha Campos.

– Site do CONDEPHAAT: http://condephaat.sp.gov.br/benstombados/rocha-moutonnee/

Estudar durante a pandemia (Parte II)

O texto que segue foi publicado na edição de 03/07/2020 no Jornal Primeira Feira da cidade de Salto.

Coluna “um dedinho de prosa”

Continuando o texto da Isabela Romancini sobre sua rotina de estudos na pandemia. Boa leitura a todos!

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Algo que mudou radicalmente, e acaba sendo até engraçado, é o fato de que antes era proibido o uso dos celulares em sala de aula, no entanto hoje, só conseguimos estudar se tivermos um aparelho eletrônico em mãos. Outra mudança que notei foi o aumento do uso do aparelho móvel. Eu estava acostumada a usá-lo de 2 a 3 horas diárias e ao comparar com os dados atuais, a média duplicou e sinto que por conta disso, o estudo se tornou mais cansativo o que me deixa mais exausta.

Como já disse, estudar na quarentena tem os seus pontos negativos, porém também possui os positivos. Neste novo caminhar estou gostando muito da experiência e a possibilidade de me dedicar mais às disciplinas e aos conteúdos que possuo dificuldade, ter um tempo extra para ler um livro que gosto, estudar inglês e viver momentos de lazer com a minha família.

O que eu levarei dessa experiência e gostaria de dividir com você, leitor, que está acompanhando o meu texto é : tenha disciplina, organize uma rotina de estudo (utilize post-its, agenda, lousa e entre outros meios que você se identificar) e fique longe de tudo que possa te distrair, como televisão, Whatsapp, Netflix, afinal, isso prejudica na hora da aprendizagem. E o ingrediente principal de tudo é ter foco, não permitir que esta fase tão complexa que estamos vivendo faça você desistir do seu sonho; seja ele de entrar em uma universidade, de concluir os estudos, não importa qual seja, mas carregar no coração a certeza de que não é tempo de desistir, de desanimar-se. Não está sendo difícil só para você, e sim para todos. Nesse momento, sendo ou não um estudante, faça isso com os seus sonhos e metas: entrega, confia, aceita e agradece, pois tudo isso irá passar!

E para finalizar a minha publicação, eu gostaria de agradecer a todos os meus professores que compreendem como esse momento está sendo difícil e mesmo assim, estão nos dando todo o suporte necessário, em especial ao meu professor e amigo, Marco Ribeiro, que concedeu-me o espaço para a publicação do meu texto ao Dedinho de Prosa. Eu não posso esquecer-me também da minha família que está sempre ao meu lado, dando apoio aos meus sonhos e incentivando-me nos estudos. Espero que daqui a um tempo voltar relatando para vocês que passei no vestibular e como está sendo minha rotina na faculdade de medicina.

Cuidem-se e, se possível, fiquem em casa!

O piano

– ELE CHEGOU!!! – gritou a menina entusiasmada. Já não era sem tempo. Ela o esperava há meses.

O pai, orgulhoso, contava os detalhes: – Esse piano foi feito pra você. Tem o seu nome e a data da fabricação.

– Onde? – perguntou ela.
– Na primeira tecla, lá dentro dele… A carinha foi de decepção.

Os anos passaram e a menina tocava o instrumento – familiar desde os 3 anos e sua primeira forma de comunicação com o mundo. Com a música foi alfabetizada, muito antes de entrar na escola.

No piano aprendeu a se conhecer e a vencer desafios – os seus e os das partituras. Ali desafogava a raiva com Beethoven, amava com Chopin, e, com Debussy, descobriu a sensualidade e a delicadeza. Foi também através da música que encontrou o divino pela primeira vez.

Ao longo dos anos o piano a acompanhou em cada mudança – ora subindo pelas janelas dos prédios, erguido por cordas, ora pelas escadarias, nas costas dos ajudantes. Jamais pelo elevador. Mas cabia em cada sala ou cômodo de onde habitasse.

Sua música encantou os ouvintes nas apresentações, e os vizinhos, que saíam de suas casas e ficavam em silêncio no corredor.

O tempo de voar mais longe chegou e passou. A prometida florada feneceu nos caminhos da vida, mas o piano permaneceu subindo e descendo as escadas, ou escalando janelas pelo mundo afora.

Quedo num canto, o instrumento raramente soava em meio a um trabalho e outro. Só para poucos. Apenas para si mesma.

A velha promessa não se cumpriu e o piano, detentor do sonho, emudeceu por completo. Perdeu a finalidade e tornou-se um fardo.

Olhando para o companheiro solitário, a mulher entendeu que o piano precisava continuar sua missão – a de alimentar sonhos e propor desafios. A última mudança o levou para junto de crianças e idosos, portadores de necessidades especiais.

Recebido com gratidão, continua trazendo alegria para todos aqueles que sentam em seu banco e fazem soar suas brancas teclas. A mulher se comunica hoje pelas palavras.