Texto publicado na edição de 04/12/2020
Jornal Primeira Feira
Coluna “um dedinho de prosa”
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“O homem não possui, como os outros animais, apenas memória, que consiste na lembrança imprevista do passado, mas também a reminiscência, que é quase fazer silogismos buscando a lembrança do passado.”
Há alguns dias, enquanto chovia aqui em Cabreúva, minha memória trouxe a frase de São Tomás de Aquino, transcrita no primeiro parágrafo, à tona. Aliás, memória é assunto que gosto muito de lidar, teorizar e desenvolver textos com base nelas. O historiador está sempre de olho nas memórias, como já escrevi aqui em outras ocasiões, que podem ser construídas de acordo com o olhar de quem está exercitando ou expressando aquilo que está guardado em sua mente.
Mas, afinal, qual a ligação entre a chuva e a frase de São Tomás de Aquino? Explico:
Fazia tempo que não via uma chuva forte como foi na semana passada, os cones da rua chegaram até a ser arrastados pela força da água, vez ou outra a energia caia e ficávamos no escuro. Matias e Guillermo, com seus dez meses de vida, ficaram impressionados olhando pela janela aquela quantidade de água que descia do céu e, para matar um pouco a curiosidade, saímos na garagem com os dois para que observassem a chuva. Eu, desde criança, adoro sentar e observar a chuva que cai.
Pois bem, naquele momento minha memória me direcionou para vários anos antes, quando eu era criança (não me recordo a idade ao certo) e, em uma das tardes na casa da vó Dilva, chovia muito. Um corredor que não era coberto por telhado ligava a parte da frente ao fundo da casa e, justamente no fundo estava algo que eu precisava pegar. Atravessei correndo por causa da chuva e, meu primo, irmão de coração, que é três anos mais novo que eu, observou aquilo tudo. Logo ele atravessou correndo também o corredor, o motivo? Achou divertido!
O que era uma necessidade no momento tornou-se uma competição de quem atravessa o corredor na chuva em menos tempo, depois se tornou uma competição de quem ficava mais molhado e, no fim das contas, ficamos ali, tomando chuva, brincando de “lutinha”, cantando, escorregando pelo piso enquanto a chuva caia. Junto dessa memória, veio outro sentimento que em muitos casos está atrelado, a saudade.
Guillermo e Matias riam, projetavam o corpo para frente querendo se desprender do colo e correr na chuva. Quando esse dia chegar, papai e mamãe estarão no desafio para ver quem atravessa mais rápido o corredor da bisavó.
Um bom fim de semana a todos!
(CRÔNICA)
Andrade Jorge
Certa feita, andando meio que a esmo nas ruas do bairro onde morei, cidade de Jundiaí, estava desesperançoso, desempregado, triste, família pra cuidar; Caminhando pela Rua Prudente de Morais (nasci nesta rua) havia um salão onde se reunia uma Igreja, e naquele momento que passava estava acontecendo um culto, eram mais ou menos três da tarde. Resolvi entrar, afinal não tinha nada a perder e estava precisando mesmo de uma palavra de conforto. Na entrada escrito num dos cartazes que ao final do culto todos receberiam uma fita benta, dessas de amarrar no pulso. Sentei-me num dos bancos. O Pregador usava vestes de Padre, o nome da Igreja não me lembro, mas não era a tradicional Católica Apostólica Romana. Mas isso no momento não importava em nada, ouvi atentamente a pregação. Antes de terminar o Pregador falou sobre o dizimo, explicando sobre as despesas que a Igreja tinha para a manutenção do local:
——- Quem tem cem reais para ofertar?
Acho que um ou dois levantaram a mão e foram chamados para ficar la na frente;
—— Quem tem cinquenta? Mais uns três ou quatro levantaram a mão e foram chamados para ficaram la na frente; E assim foi: quem tem trinta, vinte, dez, cinco, nesta altura quase todos estavam la na frente, ali sentados eu e mais um coitado, mas Pregador insistiu: “Quem tem pelo menos um real para ofertar?” Um olhou para a cara do outro e ficamos na mesma, sem contar o constrangimento, porque todos estavam olhando pra nossa cara, como a dizer: “que gente é essa que não tem nem um real no bolso?”. O outro não sei, mas eu não tinha. Então o Pregador mandou que as pessoas fizessem uma fila para receber a tal fita. Claro, entrei na fila, o outro nem quis entrar. Eu era o último, e a fila seguia lentamente. Finalmente chegou minha vez, pensei: “agora vou receber a fita abençoada”. estendi a mão, o Pregador olhou bem pra mim e disse:
—— A fita acabou de acabar!! Quem sabe noutro dia.
Percebi um sorrisinho de escárnio. Pois é, eu não tinha nem um real para receber a fita abençoada….. Sai de lá desiludido.
Dois ou três meses depois o salão foi fechado. Ninguém soube para onde a Igreja mudou talvez para um lugar onde não tivesse outro Andrade Jorge tão duro quanto, que não pudesse ofertar pelo menos um real aos amáveis Pregadores.
Não é texto de criação, aconteceu.
29/06/16
Texto do Acadêmico Prof. Dr. Antonio Valini
Cadeira 10 – J.Silvestre
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Estamos muito próximos de seu centenário. O saltense J.Silvestre nasceu em 14 de dezembro de 1922. Não tinha formação universitária, mas era de uma inteligência vivaz, rápida e própria para dominar situações de auditório.
A Academia Saltense de Letras vive um triênio de patronos centenários que, assim como todos os demais, enobrecem o nosso sodalício: 2020 (Ettorre Liberalesso (presidente fundador da Asle), Joao Cabral de Melo Neto, Anselmo Duarte, Clarice Lispector e Archimedes Lammoglia), 2021 (Paulo Freire) e 2022 (J. Silvestre).
Aos 19 anos, J. Silvestre iniciou sua trajetória profissional na Rádio Bandeirantes, como ator, sonoplasta, contra regra, ensaiador e redator. Em 1949 foi contratado pela Rádio Tupi, onde começou a escrever novelas e aparecer como ator. Em 1956 passou a apresentar muitos programas de auditório, sendo o principal: “O céu é o limite”.Sua carreira contempla passagens pela Radiobras, SBT, entre outras emissoras brasileiras, até de radicar-se nos Estados Unidos, onde montou uma produtora de programas de televisão.
Em seu camarim na rede Manchete de Televisão, em 1997, J Silvestre me recebeu para uma entrevista, que durou um pouco mais de 2 horas e rendeu uma matéria que fora publicada em 26 de novembro no Jornal Tapera. Merece destaque o título da entrevista publicada há mais de 20 anos: “A INTERNET SERÁ A TELEVISÃO DO FUTURO E NÓS NÃO TEMOS COMO ESCAPAR DESTA REALIDADE”. Em 2020 as nossas relações se basearam no ambiente virtual. Quem diria que esta entrevista seria revisitada e o seu título, tão apropriado. 2020 foi um ano intenso e repleto de desafios. Novos paradigmas foram construídos em virtude das adversidades que vivenciamos.
Durante nossa conversa falamos sobre o Grupo Escolar Tancredo do Amaral, o Clube Ideal, o Cine Rui Barbosa que seu pai construiu, no local onde funcionou o Cine São Bento, para atender um pedido do seu irmão, a sua trajetória profissional e o fato de ter uma rua em sua homenagem ainda em vida. J. Silvestre faleceu em 7 de janeiro de 2000.
“Outra lição que se pode tirar destas considerações é que a vida sem sonhos é muitíssimo mais fácil. Sonhar custa caro. E não digo só em moeda corrente do País, mas daquilo que forma a própria substância dos sonhos”. Através das palavras de Rachel de Queiróz, patronesse da cadeira 2, ocupada pela jornalista (e com muita honra minha madrinha na Academia) Anna Osta, deixo registrado o meu prestígio e admiração a este sonhador saltense que desbravou o mundo, sempre enaltecendo e defendendo o nome da cidade de Salto.
Há cem anos, em 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia, nascia Clarice Lispector, reconhecida como uma das mais importantes escritoras do século XX. Em decorrência da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa, ainda criança de colo, imigrou com seus pais e suas duas irmãs mais velhas para o Brasil. Embora tenha nascido na Ucrânia, Clarice sempre se considerou brasileira e pernambucana. A esse respeito, a escritora dizia “Naquela terra eu literalmente nunca pisei: fui carregada de colo”, afirmando, assim, que sua verdadeira pátria era o Brasil.
Seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem” (1944), foi bem recebido pela crítica brasileira, que chegou a comparar seu estilo com James Joyce e Virgínia Woolf, em razão de alguns elementos comuns, como o fluxo de consciência, manifesto no monólogo interior, isto é, na conversa íntima que os personagens mantêm consigo mesmos.
A presença desse tipo de recurso torna a narrativa digressiva e fragmentária. Na verdade, trata-se de um jeito novo de se contar uma história, o romance introspectivo, cujo enredo importa menos que o mergulho do narrador no fluxo de pensamento do personagem. A própria escritora afirma “Meus livros, felizmente, não são superlotados de fatos, e sim da repercussão dos fatos no indivíduo”. A reflexão dos personagens é parte dos enredos de Clarice Lispector, cujas temáticas são existenciais e psicológicas. E muitas vezes, o eu dos personagens se revela na relação com o outro, por isso não se pode dizer que a obra de Clarice sofra de excesso de subjetivismo.
Outra característica de seu estilo é o uso da epifania – momentos de revelação e de autodescoberta dos personagens face a acontecimentos corriqueiros da vida. Aliás, esse procedimento é típico da escritura sagrada judaico-cristã, com a qual a autora estabelece constante inter-relação. Suas protagonistas são, geralmente, mulheres, o que costuma lhe conferir o rótulo de literatura feminina. Porém, as personagens de Clarice Lispector vivenciam conflitos psicológicos que superam os limites do gênero e, também do espaço, pois, apesar de muitas de suas narrativas se passarem no Rio de Janeiro, cidade em que vivia, sua obra tem dimensão universal.
Para finalizar, é impressionante e, às vezes, até surpreendente, como se manifesta a espiritualidade da autora, que conhece bastante as escrituras sagradas. De fato, é notória a intertextualidade que a autora estabelece com a literatura bíblica. Sua relação com Deus é sempre complexa, indagatória e enigmática, e isso transparece em várias de suas obras. Em seu romance A Paixão Segundo G.H., por exemplo, a autora mantém um diálogo constante com o texto bíblico, seja por analogias, como a que se dá entre a paixão humana e a paixão de Cristo, seja pela íntima conexão com o livro do Êxodo, do Gênesis e do Apocalipse, dos quais cita algumas passagens, seja ainda pelo próprio vocabulário, repleto de termos que remetem ao livro sagrado, como “tentação”, “milagre”, “paraíso”, “inferno”, “danação”, “graça”, “sacrifício”, dentre tantos outros.
No percurso místico da travessia de seu deserto, ela busca purificar-se, transcender o caráter concreto do sensível, entregar-se à imensidade do Amor para descobrir, por um “golpe da graça”, que o “amor já está, está sempre”: “E no soluço o Deus veio a mim, o Deus me ocupava toda agora. Eu oferecia o meu inferno a Deus. O primeiro soluço fizera – de meu terrível prazer e de minha festa – uma dor nova: que agora era tão leve e desamparada como a flor de meu próprio deserto.” (A paixão segundo G.H., p.131).
Renascia a cada livro: “Escrevo porque (…) não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias” (A hora da Estrela, p. 21). Morre no dia 9 de dezembro de 1977, às vésperas de completar 57 anos. No hospital, já fraca, diz a uma enfermeira que a impede de sair do quarto: “Você matou meu personagem”, o que bem ilustra seu princípio de criação.
Texto de autoria da Confreira Mônica L. de A. D. Vecchia.
Cadeira número 5 – Clarice Lispector
Jornal: Primeira Feira
Coluna: Um dedinho de prosa
Edição: 27/11/2020
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Quem abriu a edição do dia 16 de novembro de 1899, do jornal A Cidade de Ytu, se deparava com a seguinte informação presente em “Noticiário”, logo na primeira página:
“ALMEIDA JUNIOR – De Piracicaba, recebemos á 13 do corrente um telegrama noticiando que á porta do Hotel Central fora assassinado o grande pintor ytuano Almeida Junior.
Sem querer indagar os motivos que levaram o sr. José de Almeida Sampaio áquelle acto de desespero, sentimos profundamente que o acontecimento viesse envolver duas pessoas distinctas, dignas tanto uma como outra de toda a consideração, cortando os sonhos de gloria e o futuro brilhante do primeiro pintor brasileiro, e atirando entre as grades de uma prisão um moço de boa família e muito estimado pelo seu coração generoso e franco.”
Pois bem, meu amigo leitor e amiga leitora, o artista ituano internacionalmente conhecido e um dos ícones em pinturas do Realismo, teve sua carreira encerrada de maneira trágica e ainda jovem, possuía apenas quarenta e nove anos de idade.
José Ferraz de Almeida Júnior foi, provavelmente, o primeiro artista brasileiro preocupado em retratar o homem do campo em seus afazeres cotidianos, basta lembrar da obra O Caipira Picando Fumo, já comentada aqui no dedinho de prosa em um texto sobre o caipira do interior paulista. Em 1869, começa a estudar na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro e, no ano de 1876, após uma visita que aconteceu um ano antes do então Imperador D. Pedro II ao interior paulista, o próprio monarca concede uma bolsa para que o jovem estude na Escola Superior de Belas Artes, em Paris. Retorna ao Brasil em 1882 e, um ano depois, abre seu ateliê em São Paulo.
Uma das obras que muito me chama a atenção é a Amolação Interrompida (1894). Nela, um caipira está amolando seu machado e, como se fizesse uma pausa no trabalho para uma fotografia, olha para frente e levanta sua mão esquerda acenando. Em minha mente escuto o “ó”, cumprimento característico da gente ituana. Atrás do caipira, seu rancho com cercado de madeira e a natureza ao redor. É possível estudar a vida do homem caipira analisando as obras do brilhante autor.
O fim trágico aconteceu em 13 de novembro de 1899, data em que foi apunhalado pelas costas após seu primo, José de Almeida Sampaio, ter descoberto um caso do artista com sua esposa, Maria Laura do Amaral Gurgel. A fato ocorreu em frente ao Hotel Central de Piracicaba, hoje já demolido.
Recomendo a pesquisa e análise das obras de Almeida Júnior!
Um bom fim de semana a todos!
Texto publicado na edição de 19/11/2020
Jornal: Primeira Feira
Coluna: Um dedinho de prosa
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Quando abri minhas mensagens no celular na manhã do último dia onze, me deparei com a triste notícia do falecimento da senhora Virgínia Liberalesso, escritora e minha confreira na Academia Saltense de Letras. Dona Virgínia, como a chamávamos, era esposa do meu patrono, o historiador saltense Ettore Liberalesso (1920-2012).
Ao longo de sua vida, a escritora pindamonhangabense deixou sua marca com a publicação de várias obras literárias como: Contos de Antigamente (2010); O Tesouro do Guaraú (2011); Devaneio (2013); História de Mani (2015) e Haicais (2018). Atuou durante quarenta e cinco anos no jornalismo em nossa cidade.
Em julho de 1942, após aproximadamente quatro meses de noivado, Virgínia e Ettore se casaram e juntos construíram sua história, juntos ajudaram a construir a história da cidade de Salto. Fico imaginando a quantidade de memórias que passaram pelo lar que eles constituíram. Muitas delas foram publicadas em livros ou artigos em jornais.
Eu encontrava a Dona Virgínia nas reuniões mensais da ASLe ou nos eventos promovidos pela Academia, era muito bom vê-la entusiasmada com os acontecimentos da Semana Cultural Ettore Liberalesso. Muitas pessoas me disseram que Virgínia era uma pessoa que tinha o dom de fazer com que outras pessoas se sentissem bem, valorizava e motivava algum trabalho do outro. Comigo não foi diferente. Toda vez que nos encontrávamos eu me sentava ao lado dela para prosear um bocadinho, ela sempre comentava sobre algum texto que tinha lido aqui no dedinho de prosa, citava algum trecho que tinha chamado sua atenção e contribuía com algum comentário crítico e sempre positivo. A memória dela era espetacular, alguns trechos o próprio escritor desta coluna precisava vasculhar por alguns minutos na memória para lembrar e retribuir ao comentário da poetiza. Para mim, foi um privilégio e muito motivador saber que Virgínia Liberalesso era uma leitora assídua dos meus textos, receber comentários críticos então, nem me fale…
Com toda certeza Virgínia deixa saudades. É muito estranho olhar a cadeira de número 25 da Academia Saltense de Letras vazia. Porém, tenho igual certeza que está escrevendo poesia lá no céu, deixa sua obra e seu legado para cidade. Quem for estudar a literatura em nossa terra, passará pelas letras produzidas por dona Virgínia Liberalesso.
Encerro esta homenagem transcrevendo um dos seus haicais:
“Parte o trem veloz, Lenços e mãos se agitando.Talvez nunca mais.”
Texto publicado na edição de 06/11/2020 do Jornal Primeira Feira.
Coluna: um dedinho de prosa.
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“Ali o Dr. Barros anunciava ao povo que na Côrte haviam proclamado a República, e a consequente queda da Monarquia Brasileira.
Delirava, e bradava exultante: ‘Viva a república! Romperam-se os grilhões que nos detinham e nos tolhiam a marcha para o progresso! Teremos a lei do povo feita pelo povo. Viva a REPÚBLICA!…’”
O trecho citado foi retirado do livro História de Salto, escrito por Luiz Castellari. Como você já sabe, Castellari ajuda muito em minhas pesquisas sobre a cidade. No capítulo do seu livro que trata sobre a Proclamação da República e sua repercussão em Salto, cidade que tinha um destaque pelos ideais republicanos e que contava com a presença de notáveis defensores da causa (como citado no texto anterior), dentre eles o Dr. Francisco Fernando de Barros Júnior e o Professor Tancredo do Amaral, fundadores do jornal republicano Correio de Salto, o historiador saltense retrata a repercussão da Proclamação de Marechal Deodoro em terras saltenses.
Catellari narra que, na noite de 15 de novembro de 1889, uma sexta-feira, os saltenses foram surpreendidos “pelos alternados apitos da fábrica do Dr. Barros, e pelos sinos da Matriz que tocavam à rebate.” A festa foi grande. O Grêmio Musical Saltense, na frente da casa do político e empresário capivariano, executou a Marselhesa, música que é o Hino Nacional da França e foi um dos símbolos da luta pela “igualdade, liberdade e fraternidade” durante da Revolução Francesa no final do século XVIII.
A fala transcrita do texto de Castellari no início do texto foi dita na sede do Clube Republicano, fundado pelo próprio orador daquele momento. Após a música e a fala, o povo que acompanhava o discurso começou a aplaudir e ovacionar em comemoração ao novo sistema político. Foi feita uma passeata pelas ruas que avançou pela noite. Um trem levou o pessoal para Itu, onde puderam confraternizar com os republicanos da cidade vizinha.
Ettore Liberalesso, em “Salto: história, vida e tradição” nos conta que as comemorações com “palmas, rojões, bandas nas ruas em ruidosas passeatas”, era uma continuação das comemorações de pouco mais de um ano antes, quando aos 13 de maio de 1888 foi abolida a escravidão no Brasil. Os mesmos republicanos que também eram abolicionistas estavam envolvidos nos festejos.
Ainda segundo Liberalesso:
“Para a grande manifestação de adesão ao Governo Provisório Estadual, formado imediatamente após a Proclamação da República, os papéis inverteram-se: os ituanos vieram a Salto em trem especial que, depois, seguiu para São Paulo, levando os políticos saltenses, sua banda, representantes das indústrias, do comércio e do funcionalismo.”
Que o feriado do próximo dia 15 seja uma data de reflexão, para pensarmos sobre nosso sistema republicano.
Bom fim de semana a todos e bom feriado!
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, no dia 17 de novembro de 1910. Ela foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras e a primeira mulher a receber o Prêmio Camões. Mas, ela também exerceu outras atividades com igual maestria: foi jornalista, tradutora e teatróloga.
O seu primeiro romance “O Quinze”, publicado por seu pai, ganhou o prêmio da Fundação Graça Aranha no ano seguinte à sua publicação. É uma obra que expõe a luta de um povo contra a miséria e a seca, representando um importante impulso para o “Romance Regionalista de 30”.
Outro romance que merece ser destacado, do total de 22 livros publicados pela autora, é “Memorial de Maria Moura”, que foi transformado em minissérie para a televisão, escrito quando Rachel tinha 82 anos.
Mas, o meu livro preferido é “Tantos Anos”, escrito em pareceria com Maria Luíza de Queiroz, irmã caçula de Rachel, que mescla aspectos de nossa história política com recordações pessoais repletas de sentimentos e fatos até então desconhecidos sobre a vida da escritora e sua família. Nesse livro, a própria Rachel nos conta que toda a escolaridade que ela teve foi de junho de 1921 a novembro de 1925: “Contudo eu lia muito. Mamãe tinha uma biblioteca muito boa e tanto ela quanto papai me orientavam nas leituras”.
Importante citar que em 17 de novembro de 1925, Rachel completou 15 anos e, dias depois, recebeu o seu diploma de Professora, passando a lecionar História, como professora substituta. Dois anos depois, deu início a sua longa carreira como Jornalista, profissão da qual se orgulhava e com a qual se definiu até o final dos seus dias porque era a que trazia o seu sustento.
Em 2000, Rachel de Queiroz sofreu uma isquemia, mas, se recuperou e continuou com suas atividades profissionais. Foi nessa época que ela leu um texto meu e escreveu o prefácio do que viria a se tornar o meu primeiro romance. Ela ainda publicava crônicas semanalmente no Estado de São Paulo – ela ditava os textos e Maria Luiza digitava.
Rachel de Queiroz morreu dormindo, vítima de enfarte, aos 92 anos, em seu apartamento, no Leblon, zona sul do Rio, no dia 04 de novembro de 2003.
Texto de autoria da Confreira Anna Osta.
Cadeira número 2 – Rachel de Queiroz.
Ao lembrar de alguns amigos artistas de Salto/SP, me vêm à mente as imagens que fiz da obra “O feijão e o sonho”, de Orígenes Lessa, uma leitura “inocente”, que fiz na adolescência. É um livro fininho, acessível, que integra a coleção Vaga-Lume, da editora Ática. A história gira em torno do drama de um poeta que busca seu lugar no mundo, mas é obrigado a ganhar a vida como professor numa cidadezinha do interior paulista.
A obra foi publicada pela primeira vez em 1938, quando o Brasil vivia sob a ditadura de Getúlio Vargas que, após debelar a Intentona Comunista, batizou seu regime totalitário com o bonito nome de Estado Novo. Eram tempos de extrema dificuldade para um poeta, já que mais da metade da população acima de 15 anos era analfabeta. Até mesmo a escola, esse lugar hoje quase sagrado (ao menos no discurso), era considerada desnecessária pelas famílias mais pobres. Bom mesmo era encontrar, desde cedo, um emprego numa fábrica e nela fazer carreira. Ter um filho com pendor a escritor, então, só poderia ser uma praga que se abateu sobre o pequeno sonhador.
O final de “O feijão e o sonho” traz justamente essa problemática: Joãozinho, o filho adolescente do poeta e professor Campos Lara, apresenta ao pai uma folha de papel com o primeiro poema que escrevera.
“E muito vermelho, trêmulo, o rapaz lhe estendeu uma folha. Era um poema. O pai sentiu uma turvação na vista, percebeu que o coração lhe batucava no peito. Correu os olhos pelo poema, versos livres, linguagem nova, imagens febris, uma revelação inquietante de poeta, voltado para os problemas que eram a angústia da sua geração.
Seu filho era poeta. Um arrepio de orgulho e de emoção percorreu-lhe a pele. Afinal de contas, tinha sido aquele o seu sonho toda vida. Um filho que o perpetuasse, que valesse por si, que lhe continuasse a obra. E teve o impulso de abraçá-lo. Sentiu que seus olhos se enublavam de lágrimas. Lembrou-se, porém, de sua vida. Dos anos de luta, de sonho, de tormento e de agonia criadora. Da vida árdua, humilde, sacrificada e dolorosa que vivera. Da existência que dera à família, dominado pelo seu devotamento exclusivo à arte. Da vida que dera ao próprio filho. Era essa, a vida que ele tinha diante de si. Que teriam os filhos de seu filho. E que seria talvez pior, porque não era somente a arte a chamá-lo. Outras insídias e outros desenganos o esperavam.
− Prestam? Continuo?
Campos Lara sorriu. E batendo um cigarro, o pensamento melancólico no vazio da vida, ficou olhando o filho, sem achar resposta.”
Oito décadas se passaram da realidade que motivou a obra de Orígenes Lessa. Muitas transformações políticas e econômicas ocorreram, mas a produção literária, assim como a produção artística em geral, segue numa posição muito desvalorizada, a tal ponto de ideólogos do atual Governo Federal considerarem muito bom e corriqueiro que um artista se ocupe de um trabalho qualquer para ganhar a vida e faça, lá, a sua artezinha nas horas vagas, em geral gratuitamente ou mediante remunerações vis.
Outros gestores públicos, já mais moderninhos e alinhados com empresas patrocinadoras, enxergaram nos escritores e artistas em geral – esse bando de miseráveis –, uma massa de manobra para seus objetivos ideológicos, políticos e até econômicos. No mais das vezes, com recursos públicos de aplicação direta ou por meio de concursos (os denominados editais) premiam com verbas provenientes de renúncia fiscal os mais “relevantes” e ajustados projetos, ou seja, aqueles que, COM DINHEIRO PÚBLICO, levam mais longe e para o maior número de pessoas seus nomes, suas marcas e suas ideias.
A arte e a cultura genuínas são uma utopia no Brasil. Até prova em contrário, somos os novos bobos da corte.
Texto publicado na edição de 23/10/2020 do Jornal Primeira Feira.
Coluna: Um dedinho de prosa
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O texto desta semana foi escrito por uma convidada especial e é fruto de uma atividade da disciplina de Geografia. A autora é Isabella Pain, estudante do segundo ano do Ensino Médio no Colégio Objetivo de Cabreúva. Pain é uma daquelas alunas que torna nossa profissão ainda mais gratificante. Desejo uma boa leitura nesta crônica de viagem!
Quinze anos… É um dos momentos mais esperados e sonhados pelas garotas. Comigo foi assim também, mas decidi comemorar de um modo diferente, e eu não trocaria por nada! Para essa comemoração, escolhi realizar uma viagem em família. A viagem dos sonhos! Realizamos um tour pela Europa, e visitamos três países: Itália, Inglaterra e França. Durante todo o planejamento eu mal dormia pensando em todas as experiências que eu estava prestes a viver. Literalmente, sonhava com isso todos os dias. Conhecer três dos principais países da Europa era muito mais do que eu poderia imaginar. Cada um desses países tem sua particularidade, mas a ida à Roma, por ser o primeiro destino, foi muito especial.
Andando pelas ruas da cidade é perceptível a união de um relevante patrimônio histórico, cultural, religioso e vestígios da Roma Antiga. Assim que chegamos, o primeiro lugar que visitei foi a Fontana di Trevi, um dos símbolos de Roma, que possui uma arquitetura impressionante! Fiquei longos minutos admirando sua beleza e ao mesmo tempo tentando “cair em si” de que estava ali. Por estar localizada muito próxima ao nosso hotel, sempre que saíamos passávamos por ela. Foi uma experiência incrível! Roma tem “uma surpresa a cada esquina”. Contudo, mal sabíamos que estávamos muito perto de vários outros importantíssimos pontos turísticos. Não utilizamos nenhum transporte público, pois o local mais longe do hotel era o Vaticano (cerca de 2 km), então fizemos tudo a pé. Cada dia mais íamos descobrindo “os tesouros” de Roma. Em um de nossos passeios, passamos pelo Foro Romano e a Piazza Venezia, a qual era avistada pela janela do nosso quarto. Quando menos esperávamos, o Coliseu estava à nossa frente. Imponente e fenomenal! Eu nem consigo descrever minha emoção. Creio que ali foi onde eu realmente tive certeza de que estava imersa em outra cultura. O que eu aprendi nos livros, naquela ocasião estava diante dos meus olhos! Eu mal podia acreditar. Foi um misto de alegria e tristeza também, digo isso, porque apesar de todos esses sentimentos, conheço sua história de morte, principalmente de cristãos.
Lembro-me que em uma das noites chuvosas, quando estávamos voltando de um restaurante, nos deparamos com o Panteão, que possui uma construção grandiosa com uma cúpula aberta. É impressionante!Aproveito para ressaltar que é indispensável experimentar a culinária italiana, que é um show à parte.
Em outra noite, fomos surpreendidos novamente, desta vez pela Piazza Navona, uma praça na qual situa-se três fontes aperfeiçoadas por Bernini. O interessante é que quando você fica admirando todos os monumentos e lugares históricos, nota-se que na época essas construções eram o resultado de grandes pesquisas tecnológicas, revelando grande formosura.
Portanto, o que há de mais fascinante em Roma é o fato de que é possível passar nos lugares onde caminhavam os grandes Reis, Imperadores e líderes religiosos, e poder ver as mesmas cenas que eles viram. Roma é atemporal! Inevitável conter o sentimento de querer voltar, pois não é possível em uma única viagem ver tudo o que essa cidade oferece. É uma sensação única, que somente Roma pode nos proporcionar!