Jornal: Primeira Feira
Coluna: Um dedinho de prosa
Edição: 27/11/2020

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Quem abriu a edição do dia 16 de novembro de 1899, do jornal A Cidade de Ytu, se deparava com a seguinte informação presente em “Noticiário”, logo na primeira página:

“ALMEIDA JUNIOR – De Piracicaba, recebemos á 13 do corrente um telegrama noticiando que á porta do Hotel Central fora assassinado o grande pintor ytuano Almeida Junior.

Sem querer indagar os motivos que levaram o sr. José de Almeida Sampaio áquelle acto de desespero, sentimos profundamente que o acontecimento viesse envolver duas pessoas distinctas, dignas tanto uma como outra de toda a consideração, cortando os sonhos de gloria e o futuro brilhante do primeiro pintor brasileiro, e atirando entre as grades de uma prisão um moço de boa família e muito estimado pelo seu coração generoso e franco.”

Pois bem, meu amigo leitor e amiga leitora, o artista ituano internacionalmente conhecido e um dos ícones em pinturas do Realismo, teve sua carreira encerrada de maneira trágica e ainda jovem, possuía apenas quarenta e nove anos de idade.

José Ferraz de Almeida Júnior foi, provavelmente, o primeiro artista brasileiro preocupado em retratar o homem do campo em seus afazeres cotidianos, basta lembrar da obra O Caipira Picando Fumo, já comentada aqui no dedinho de prosa em um texto sobre o caipira do interior paulista. Em 1869, começa a estudar na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro e, no ano de 1876, após uma visita que aconteceu um ano antes do então Imperador D. Pedro II ao interior paulista, o próprio monarca concede uma bolsa para que o jovem estude na Escola Superior de Belas Artes, em Paris. Retorna ao Brasil em 1882 e, um ano depois, abre seu ateliê em São Paulo.

Uma das obras que muito me chama a atenção é a Amolação Interrompida (1894). Nela, um caipira está amolando seu machado e, como se fizesse uma pausa no trabalho para uma fotografia, olha para frente e levanta sua mão esquerda acenando. Em minha mente escuto o “ó”, cumprimento característico da gente ituana. Atrás do caipira, seu rancho com cercado de madeira e a natureza ao redor. É possível estudar a vida do homem caipira analisando as obras do brilhante autor.

O fim trágico aconteceu em 13 de novembro de 1899, data em que foi apunhalado pelas costas após seu primo, José de Almeida Sampaio, ter descoberto um caso do artista com sua esposa, Maria Laura do Amaral Gurgel. A fato ocorreu em frente ao Hotel Central de Piracicaba, hoje já demolido.

Recomendo a pesquisa e análise das obras de Almeida Júnior!

Um bom fim de semana a todos!

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