Romeu Bicalho prepara obra que pretende unir o direito com a literatura ao explorar a liberdade de expressão
Com oito livros técnico-jurídicos publicados, todos voltados a ensinar iniciantes do Direito sobre concursos e exames da Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB, o escritor e advogado Romeu Gonçalves Bicalho, Cadeira 19 da Academia Saltense de Letras, patrono Olavo Bilac, se prepara agora para iniciar uma nova jornada na literatura: uma obra que vai unir o mundo jurídico com a expressão literária e falar da liberdade para divulgação de ficção.
A ideia da produção surgiu de uma conversa com o também acadêmico Leandro Thomaz de Almeida, Cadeira 33, patrono Luiz Castellari, que se sentia incomodado com processos que são impetrados contra escritores por conta da escolha de temas e pela forma como contam suas histórias, e da vontade de ambos de esclarecer o que pode e o que não pode, ajudando autores a evitarem problemas com a justiça e a terem liberdade para criar.
“O assunto é palpitante e cheio de conflitos. Merece uma discussão à luz da legislação”, afirmou Romeu, que se uniu a Leandro para produzir a obra. “Nossa intenção é criar informação para auxiliar juízes na hora de julgar ficção, porque temos visto que a forma de encarar a ficção não está correta”, disse Leandro. A publicação ainda não tem data. “Estamos na fase da pesquisa e da reflexão, mas logo teremos novidades”, adiantaram.
Nascido em casa na cidade de Ubiratã, no Paraná, Romeu Bicalho, como se tornou conhecido, viveu na cidade até os sete anos e depois já se mudou para Salto. Estudou os primeiros anos na Escola Estadual Benedita de Rezende, na Escola Estadual José Benedito Gonçalves e Escola Estadual Paula Santos. Depois fez graduação em Direito na Faculdade de Direito de Itu, mestrado na Unimep, doutorado na PUC-SP e pós-doutorado em Coimbra, Portugal.
O escritor já foi presidente da 157ª Subseção da OAB em Salto entre os anos de 2004 e 2006, membro de bancas de concurso para magistratura trabalhista da 15ª Região, tornou-se palestrante da Escola Superior de Advocacia em São Paulo e relator da IX Turma do Tribunal de Ética da OAB-SP e recentemente montou uma escola para cursos de Direito e de outras áreas do conhecimento, já que uma das suas paixões, além do Direito, é dar aulas.
Mércia Falcini diz que mudou totalmente o jeito de pensar 11 anos depois de lançar o seu primeiro livro de crônicas ‘Conversas Entrelinhas’
A escritora e pedagoga Mércia Falcini, Cadeira nº 3 da Academia Saltense de Letras, patrono Paulo Freire, afirmou na manhã de sábado (13), durante o “Momento Literário”, espaço criado pela atual diretoria para falar de literatura nas reuniões ordinárias da entidade, que teve de desaprender a forma como pensava e como via a vida quando lançou o seu primeiro livro de crônicas “Conversa Entrelinhas”, em 2012, para entender e encarar a vida como ela é hoje depois de 11 anos, pois mudaram completamente os seus conceitos e as suas certezas nesse intervalo.
“Eu era uma pessoa moralista, imatura, que achava que tinha o controle de tudo na vida. Achava que a vida tinha de ser certa, justa. Aquela mãe que quer fazer com que tudo seja direitinho. Casamento para sempre, filhos perfeitos. O pedagogo é assim. Acha que sabe mais e julga a mãe que faz diferente, mas não é assim. Eu sou mãe de um homossexual, por exemplo. Quando ele me contou, tive muita dificuldade apesar de ter um discurso de aceitação, de inclusão. Percebi que era só o discurso. Entendi que estava só na palavra. Não era um processo interno que eu vivesse”, disse ela.
Mércia Falcini contou que saber que o filho era homossexual foi uma quebra de verdades muito forte na sua vida. Para ela, essa experiência e outras que teve como mulher nesse tempo mexeram com suas estruturas. “E aí eu entrei nesse processo de desaprender tudo o que eu tinha aprendido. Essa vivência com meu filho me levou à USP. Eu fiz um curso lá de pós-graduação na diversidade. Tive contato com uma mestra, Edith Modesto, que me mostrou pesquisas sobre o tema. Então eu comecei a mexer com esse meu aprendizado cultural internalizado, como todos, a vida é assim”.
Para escritora, o poder da palavra é maior do que se imagina e se deve ter cuidado ao usá-la, evitando o preconceito e buscando a humanização
Contra preconceito
Onze anos depois do primeiro livro e com todas essas transformações pelas quais passou, a escritora não enxerga mais naquela obra a Mércia de hoje. Ela disse que constatou isto de forma mais flagrante quando um profissional de Santana de Parnaíba passou em um concurso e foi trabalhar com ela na Secretaria de Ação Social e Cidadania da Prefeitura de Salto, pasta que ela dirige desde 2021. “Ele pesquisou sobre mim. Encontrou o meu livro e leu. Está lá desde outubro do ano passado. Um dia me falou que leu “Conversa Entrelinhas”, mas que eu não era a autora que ele leu”.
Na visão da escritora, toda essa experiência mostra que a palavra é muito mais que uma catarse. “Ela tem o poder de construir uma sociedade, de humanização. Por isso que a gente tem de tomar cuidado com ela. Não é mimimi quando usamos a palavra certa. Quando uma corrente usa, por exemplo, o todes, não é mimimi. Perguntaram a uma transsexual como ela se sentia ao ser tratada assim e ela disse: incluí
da. Se é para trazer alguém para dentro, por que não usar? Por que ter preconceito?”, questionou. Mércia disse que hoje sua escrita é mais suave, aberta, que mexe com a reflexão.
Responsável pela indicação do tema deste ano da coletânea da Academia Saltense de Letras, que sai em outubro com textos de 31 acadêmicos, a qual vai falar do poder das palavras escritas, ditas ou silenciadas, Mércia Falcini contou que viveu uma experiência curiosa a respeito, ao ser procurada por um americano do Texas, que pretende se mudar para Salto e descobriu os seus artigos em um site e os leu todos. “Depois eu o conheci e nos tornamos amigos. Quando eu podia imaginar que o que eu escrevi ia chegar tão longe. É para isso que escrevo. Para ser lida e entendida”.
Conversa salva
Ao final da exposição, a escritora disse que está escrevendo um novo livro para falar da mulher de 50 + e que ele vai se chamar conversa também. “As conversas criam perspectivas. Não há hierarquia nas conversas. Há conversadores. Eu acredito que o melhor jeito de resolver é uma conversa. Sempre que a gente tem algo, um problema, uma situação, é a conversa que dá conta. A conversa salva. Se sentar e olhar nos olhos e falar o que gente sente é a única forma de resolver os conflitos da vida”. Depois, Mércia leu um texto da psicopedagoga e escritora Isabel Parolin sobre o tema.
A presidente em exercício da Academia, Marilena Matiuzzi, Cadeira 39, patronesse Cora Coralina, que substituiu a presidente Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel, que está em viagem, disse que Mércia sempre foi respeitada pela sua defesa do social e agora será também pelo testemunho de mãe. Décio Zanirato, Cadeira 22, patrono Fernando Pessoa, disse que se surpreendeu com a palestra. “Conheci a Mércia explosiva de antes e agora fiquei surpreso com sua fala calma e com esse imponente testemunho de vida. Você está certa ao defender a conversa”.
Cynara Lenzi, Cadeira 18, patrono Dante Alighieri, que também trabalhou como professora na rede pública de Salto, disse que Mércia Falcini está certa. Conversa funciona. Ela contou que fazia um dia de roda de conversa com os alunos toda semana e eles gostavam tanto que pediam sempre”. Rose Ferrari, Cadeira 38, patrono Mário Quintana, que foi a editora do primeiro livro de Mércia, afirmou que ficou contente de a autora não se reconhecer naquele livro. “A gente muda muito e a crônica é uma expressão que fala com outras pessoas. Se ela não tocar o coração, não tem sentido”.
A Academia Saltense de Letras homenageou acadêmicas no sábado (13) por conta da passagem do Dia das Mães no domingo (14).
Todas as mães presentes à reunião ordinária realizada no dia receberam flores, que foram ofertadas pelos confrades.
O “Momento Literário”, espaço criado pela atual diretoria para falar de literatura nas reuniões, também tratou do tema.
A escritora e pedagoga Mércia Falcini, Cadeira 3, patrono Paulo Freire, falou sobre a sua experiência transformadora de mãe.
Veja o relato neste site no texto intitulado “Escritora afirma que teve de desaprender para entender e encarar a vida como ela é”.
Titular da Cadeira 27 da Academia Saltense de Letras, escritor, que aniversaria em 5 de maio, disse que esse é o seu presente
Quem perguntar a Valter Berlofa Lucas, Cadeira 27 da Academia Saltense de Letras, patrono Luís Vaz de Camões, como ele se vê hoje, ao completar 55 anos na sexta-feira, 5 de maio, vai ouvir como resposta rapidamente que ele está no auge da carreira, com reconhecimento profissional e financeiro; inspirado para escrever e realizado no casamento, mas, de verdade, se perguntar e o que mais, vai ouvir que ainda falta alguma coisa e o que falta é mergulhar de vez no mundo da literatura, produzindo sem parar.
“Eu me considerava apenas um apaixonado por escrever, que ainda não se compreendia como escritor, mas agora isso mudou”, disse ao contar que se colocou um desafio: escrever uma crônica todos os dias por 30 dias. Intituladas inicialmente “ Minhas palavras soltas”, elas começaram a surgir cada vez com mais facilidade. Resultado: o desafio já foi vencido há tempos. “Estou há 60 dias escrevendo sem parar e feliz com o resultado, porque isto é exatamente o que eu queria. É o meu presente de aniversário”.
Assustado com a produtividade e com a criatividade, Valter Berlofa procurou amigos, como a ex-presidente da Academia Saltense de Letras Anna Osta, Cadeira 2, patronesse Rachel de Queiroz, e mostrou os trabalhos. Recebeu incentivo para continuar. Fez o mesmo com vários outros amigos pelo whatsapp. Publicou os conteúdos nas páginas do Facebook, Linkedin e no site “O vira-lata Sargento”, nome do seu primeiro livro. Os comentários e o retorno que recebeu o incentivaram ainda mais.
Gabrielle Berlofa, Ana Maria Carneiro de Camargo e Antônio Oirmes Ferrari no lançamento do primeiro livro
Outro amigo não ficou só nos elogios. Jean Frédéric Pluvinage, também acadêmico, titular da Cadeira 26, patrono Sócrates, dono da editora FoxTablet, especializada em publicações digitais para tablets, encampou a ideia que surgiu no meio dos elogios: fazer um novo livro. Com isto, Valter Berlofa já entregou os originais ao editor e ganhou da ex-presidente da Academia Anna Osta o prefácio. “Estou muito empolgado com a repercussão dessas crônicas. Até pensei em parar depois de superar o desafio, mas não consegui”.
Vocação de criança
Embora considere que se descobriu realmente como escritor agora, Valter Berlofa já tinha uma vocação nata. “Sempre fui um leitor voraz. Busquei ler um pouco de tudo. Gosto de ler sobre aventuras, textos investigativos e mitologias. Gosto de lendas e tudo ligado aos deuses, sejam nórdicos, gregos, egípcios ou romanos. Desde bem pequeno sempre tive a imaginação fértil”, disse. Ele conta que ia dormir e se transformava em super-herói com poderes fabulosos. “Pegava no sono rapidinho de tanto viajar”.
Boa parte dessa criatividade natural, ele atribui aos estudos puxados de língua portuguesa na escola do Sesi. “Tínhamos muitas tarefas de redações. Já naquela época eu tinha muita facilidade para desenvolver bem qualquer tema. Na terceira série eu escrevi uma história sobre uma viagem para Plutão, que tinha naves espaciais e alienígenas que construíam a sua própria nave. O texto ficou tão maluco que a minha professora me inscreveu em um concurso de todo o Sesi. Na época, foi maravilhoso: eu tirei o primeiro lugar”.
A relação com a literatura também passa pelo jornalismo. Embora não tenha estudado para a profissão, Valter Berlofa conseguiu o registro de jornalista profissional pela prática. “Eu tenho o registro, mas gostaria muito de ter feito faculdade de jornalismo”. O primeiro contato foi a publicação da sua redação vencedora no jornal interno do Sesi. Depois, ele lançou o jornal “O Espaço Norbertino”, com assuntos da Ordem de São Norberto – Premonstratenses. E ainda teve outro jornal na Altena Targetti.
Pastoral Fé e Política
A militância no jornalismo e a sua ligação com ações sociais levaram Valter Berlofa a integrar o movimento em Salto chamado Pastoral Fé e Política, em 2002. O movimento discutia assuntos da cidade e o projetou na mídia da região. Durante oito anos, ele foi coordenador do movimento e escreveu artigos semanais. Seus artigos preencheram as páginas dos principais jornais da região por mais dois anos ainda. Eles tinham cunho social e sempre tratavam das políticas voltadas para os que mais precisam.
Em 2007, Valter Berlofa foi editor-chefe do jornal “Comunicação Popular”, fundado pelo radialista Claudinho Nascimento (já falecido e que foi seu grande amigo). “Eu gostava muito daquele jornal e do trabalho que fizemos lá”. Outro trabalho que ficou na memória foi a secretária eletrônica do jornal Taperá. “O saudoso Valter Lenzi (acadêmico também falecido e fundador do jornal) me disse: não vou te dar uma coluna no meu jornal, mas na secretária eletrônica você tem espaço sempre. Era nosso pequeno segredo”.
Essa relação teve mais um momento marcante para o escritor Valter Berlofa. “Quando fui tomar posse como acadêmico, o Valter Lenzi veio me cumprimentar e segredou no meu ouvido: não esqueça de mencionar que você foi cronista do jornal Taperá. Aquilo foi muito marcante para mim, porque entendi que o que a gente escrevia era bom para o jornal e não só bom para nós. Isto é gratificante e agora, que não temos mais o Valter Lenzi conosco, é uma passagem que faço questão de lembrar em homenagem a ele”.
Escolha é por ser uma das suas paixões na literatura e ainda para homenagear o acadêmico Sabino Bassetti, que morreu em 2020 e que escrevia sobre o tema
O escritor João Carlos Milioni, Cadeira 21 da Academia Saltense de Letras, honra o seu patrono João Guimaraes Rosa, que foi um exímio narrador das agruras do sertão brasileiro, ao escrever sobre a vida entre os cangaceiros do bando de Lampião, o maior líder do cangaço no Nordeste e figura emblemática na disputa de terras naquela região, em uma época em que as coisas se resolviam à bala.
Mas a escolha do tema do sexto livro do escritor também atende a outras duas razões que o movem emocionalmente: a paixão pelas histórias envolvendo o cangaço, que vem desde moleque, e uma forma de prestar homenagem a José Sabino Bassetti, membro da Academia Saltense de Letras, que faleceu em 12 de dezembro de 2020 após ocupar a Cadeira 23, cujo patrono era Euclides da Cunha.
A ligação de João Milioni com o cangaço e com Sabino o levou a apresentar o acadêmico falecido como integrante da Academia e a mostrar as lutas de Lampião para os acadêmicos. Logo após se tornar acadêmico, Bassetti proferiu uma palestra de mais de duas horas onde revelou conhecimentos específicos e profundos do assunto que o apaixonava como ao seu padrinho.
A ideia do livro surgiu nessa época e Bassetti a desenvolvia, mas teve de paralisar o trabalho devido a uma doença que o incapacitou e depois o matou. Enquanto atuava como ponte entre o amigo e os acadêmicos na fase mais crítica da doença, João Milioni decidiu fazer o livro e para isto tem feito muitas viagens e pesquisado junto a instituições e pessoas para enriquecer ainda mais a obra.
Descobridor dos sete mares
Ao completar mais um aniversário na segunda-feira, 1º de maio, o escritor se define como um descobridor dos sete mares na literatura. “A cada dia descubro alguma coisa nova. Vivo fuçando coisas novas. Acho que a literatura nos coloca nessa posição de prospectar. Ninguém sabe o que vai encontrar no próximo porto, mas sabe que alguma coisa surpreendente estará lá”.
Nesse sentido, João Milioni é um descobridor mesmo, pois não procura se prender a estilos ou gêneros. Ao contrário gosta de vários. “Acho que sou um aprendiz de tudo que me interessa e no momento quero falar do cangaço. Poderia lançar o livro rapidamente, já que tenho boa parte pronta, mas quero produzir um belo livro, que até o meu saudoso amigo Sabino Bassetti goste”.
O autor de “A brilhante amizade”, “A ópera da natureza”, “Planeta mãe”, “Obstinado” e “O compadre de João Carrasco” (esta também peça teatral) diz que a única forma de garantir um bom trabalho ao final é realizar todas as pesquisas. “É buscar informações importantes e trabalhá-las para que o leitor se sinta mergulhado no universo do cangaço para entendê-lo sem preconceitos”.
Puxado pela proposta do novo livro, o escritor também quer realizar todos os projetos literários que têm pendentes. “A literatura fascina e prende, mas nem sempre conseguimos tempo e oportunidade para realizar tudo aquilo que sonhamos. Então quero fazer isto agora. Com esse aniversário, me sinto mais maduro e pronto e vou encarar todas as dificuldades”, afirmou.
História de dificuldades
Quem vê João Carlos Milioni falar em dificuldades logo pensa que não é para tanto, mas a sua história traz vários momentos que podem ser encarados como difíceis, a começar pelo nascimento. Logo que a mãe sentiu as contrações do parto, o pai a levou para a antiga maternidade de Salto, que funcionava onde hoje é o Atende Fácil, mas o médico chamado, Dr. Aranha, não veio a tempo.
A enfermeira ainda brincou com a mãe do escritor, dizendo que ela voltasse no dia seguinte, pois era o feriado de 1º de maio e o médico morava em Itu. Logo depois da brincadeira, mãe e bebê foram conduzidos para o atendimento e uma parteira de plantão trouxe ao mundo um menino com 3,950 kg e 51 cm, que mais tarde se
tornaria um bebê mais robusto ainda, por mamar muito.
As dificuldades se seguiram com as inúmeras mudanças de casa por conta das trocas constantes também de trabalho do pai. Quando nasceu, João morava em São Paulo. Depois mudou-se para Itatiba, Jundiaí, novamente São Paulo e só então Salto, onde vive até hoje e constituiu família. Entre cidades e casas, que ora eram compradas, ora alugadas, ao todo foram 18 mudanças.
João Milioni chegou a fazer três anos da Faculdade de Direito de Itu, mas se formou mesmo administrador de empresas na Faculdade Nossa Senhora do Patrocínio, em Salto. Depois casou-se e teve filhos e agora netos. Entre junho de 2020 e junho de 2022 foi o presidente da Academia Saltense de Letras, gestão na qual se conseguiu pela primeira vez completar o quadro de 40 acadêmicos.
Titular da Cadeira 9 da Academia Saltense de Letras, ele já produziu três romances com histórias de famílias e já participou de antologias
Um apaixonado pela vida, de extremo bom humor e humilde em tempo integral, o escritor Alberto Manavello, Cadeira número 9 da Academia Saltense de Letras, patrono José de Alencar, diz que só agora, aos 82 anos completados no domingo, 16 de abril, é que conseguiu realizar o seu sonho de juventude: dedicar-se à literatura em tempo integral e quem gosta dos seus textos já pode se preparar, porque um novo romance fresquinho vem por aí.
“Estou escrevendo uma história policial que tem como título provisório ’Sequestrum’”, adianta ele. O entusiasmo com a obra é tanto que ele já dispara também um spoiler: “É uma narrativa que terminará possivelmente com um episódio da “Síndrome de Estocolmo’”. A definição “formal” da síndrome é a de que a vítima de agressão, sequestro ou abuso desenvolve uma ligação sentimental ou empatia por seu aproveitador, o que contraria o normal.
Autor de três romances que retratam histórias de família e de duas participações em antologias, nas quais fala da epidemia de Covid-19 e da natureza, e ex-proprietário de uma empresa de aparelhos de iluminação, em Salto, que encerrou as atividades na pandemia, ele diz que o lançamento do novo livro ainda depende de conseguir patrocinadores para bancar os gastos de produção, que são altos hoje e um empecilho para muitos outros livros que faria.
O gosto pela literatura pode ser visto nos olhos inquietos do escritor enquanto fala do que fez nos livros anteriores e do que faz no atual. “Defino-me como um aprendiz que quer todo dia aprender novas formas de descrever emoções. Deixar no papel ideias que possam ajudar e o meu legado principal, que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, afirma. Depois complementa: “Pretendo escrever enquanto Deus permitir”.
Entusiasmo e lágrimas
Para quem ouve Alberto Manavello falar com entusiasmo da sua escrita, pode ficar com a impressão de um escritor deslumbrado com a paixão pela literatura, mas ele logo derruba essa imagem com alguns minutos de conversa. O entusiasmo está em tudo nele, o que chama atenção, pois sua trajetória não foi fácil desde o início. Boa parte do que viveu está retratada no primeiro livro, o romance autobiográfico “Vila Kostka – A arte do encontro”.
Falar em trajetória difícil desde o início não é força de expressão. O menino, que nasceu em um hospital de Treviso a 300 metros de casa, aprendeu a chorar silenciosamente e com lágrimas grossas, como define, por conta da época. O mundo vivia a Segunda Guerra Mundial. Ele conta que aos cinco anos morava provisoriamente em uma casa de campanha a 5 km do centro. Estava no colo do pai Giuseppe, o Beppe, e viu “Pippo”, como era chamado o avião inimigo, que voava à noite e sozinho, destruir boa parte da cidade.
“Em cinco minutos eles fizeram o pior bombardeio que eu já vi na vida. Destruíram tudo. Mais de 1.600 pessoas, incluindo crianças e idosos, foram dizimados. Achei que Treviso nunca mais se ergueria. Mas Deus não permitiu. A cidade foi reconstruída. Treviso é hoje uma joia chamada ‘A pequena Veneza’ por causa do emaranhado de rios e riachos que a atravessam. Isto aumentou minha fé. Só Deus pode fazer essas transformações e corrigir os erros dos seres humanos”.
O romance de estreia retrata essa sua trajetória. O escritor cresceu em Treviso e morou lá até os 13 anos. Depois mais 7 anos em Bolonha, cidade universitária italiana entre os rios Reno e o Savena. Em seguida teve de emigrar para a Venezuela com 21 anos para tentar a vida, que continuava difícil. Mas Alberto Manavello nunca desaminou. Em Caracas, conheceu a esposa Ana, uma espanhola de Barcelona, exímia parceira de dança, um dos seus antigos deleites, com quem teve duas filhas Margaret e Flávia.
Aprender com a vida
As mudanças e as dificuldades o impediram de ter uma vida escolar regular. Fez primário e ginásio em Treviso. Depois foi autodidata a partir de Caracas. “A leitura foi fundamental para a minha formação religiosa e intelectual. Fiz muitos cursos avulsos. Vendas, marketing, eletricidade, iluminação teórica e prática. Poderia dizer que sou formado em curiosidade e literatura russa por causa da minha preferência por Dostoievski”. O preferido dele é Tolstoi e ainda Tchekov, Pushkin, Nabokov, Pasternak, Soljenitsun.
Com tantas dificuldades e aprendizados, as pessoas ao redor não poderiam passar ao largo do escritor. Manavello contou a história da avó materna, que passou por uma guerra civil na Espanha e por duas guerras mundiais. O segundo romance “Por onde andou Pepita” faz um relato preciso sobre uma mulher forte que venceu suas batalhas e foi exemplo para ele. O terceiro livro saiu de um velho diário do tio Nino, que serviu na guerra e penou no front russo. “As batalhas da esperança” traça ainda paralelo da guerra com a Covid.
“A literatura hoje ocupa a maior parte do tempo do meu dia. Faço muitas pesquisas para a obra que estou escrevendo e ainda reviso outros escritos que ficaram pelo caminho. Gostaria de ter feito carreira como escritor de romances. Eu me realizo com isso. Estou aprendendo, mas já amo tudo isto. Só que a vida me levou a ter sucesso como administrador de uma fábrica de aparelhos de iluminação. Com o encerramento da fábrica, agora me realizo”.
Para o escritor Alberto Manavello, a possibilidade de interagir com o leitor por meio das suas histórias e poder ensinar e aprender com as pessoas por tudo o que já viveu, é o que há de mais importante para alguém com a sua trajetória. “Sinto-me realizado a esta altura da vida pelas valiosíssimas amizades que fiz, principalmente com esse povo acolhedor de Salto”.
Fabiano Ormaneze entende que esse tipo de obra contribui para a propagação científica e cultural e para mostrar os movimentos sociais
O professor, jornalista e escritor Fabiano Ormaneze, que também é doutor em linguística e mestre em divulgação científica e cultural, ambos pela Unicamp, defendeu a produção de biografias, autorizadas ou não, ao falar aos integrantes da Academia Saltense de Letras, no sábado (1º de abril), no espaço “Café com Palavras”, último evento da 6ª edição da Semana Cultural Ettore Liberalesso.
Para ele, as biografias têm um papel importantíssimo na produção cultural e literária que não podem ser faltar nesse cenário, a despeito das críticas que biografados fazem quando veem suas histórias divulgadas mesmo sem as suas autorizações, sobretudo quando eles são pessoas de muito destaque na sociedade e com ações que impactam na população onde vivem.
“Sempre acreditei que a biografia tem esse papel de divulgação científica, de divulgação cultural, de mostrar a importância de movimentos sociais e da atuação de uma pessoa por uma causa. A biografia é um excelente gênero para isso e pode ser perfeitamente usada, inclusive para o público infantil”, avaliou, ele que é autor da biografia voltada ao público infantil “Milton, Milton Santos”.
Conceitos
Dentro dos conceitos que defendeu, ele buscou retratar no livro a vida e as realizações de um dos maiores geógrafos brasileiros, reconhecido internacionalmente, e que era negro, justamente pela importância da globalização, que, com a obra, impõe reflexões sobre os problemas sociais e propõe uma nova interpretação do mundo atual, principalmente porque Milton lutou por isso nos seus 75 anos de vida.
Ormaneze aproveitou a exposição que fez para discutir com os acadêmicos o que é possível dizer sobre alguém em uma biografia. Falou sobre o cruzamento necessário entre a verdade e a ficção na produção e sobre as expectativas e sentidos que surgem a partir dessas obras, o que deixou os acadêmicos satisfeitos com o esclarecimento de dúvidas e de pontos nevrálgicos da questão.
“Tivemos o privilégio de ouvir falar e de discutir várias questões ligadas à autoria e à publicação de biografias e autobiografias com um mestre como Fabiano Ormaneze, que deu um raro show de erudição, sensibilidade e muita simplicidade na abordagem de tema tão complexo”, disse a presidente da Academia Saltense de Letras, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel.
Outras obras
Pesquisador da área e professor da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, onde ministra Jornalismo Literário, na qual se discute biografias, tema que também abordou em seu mestrado, Ormaneze ficou à vontade sobre o assunto, porque, além de gostar, é autor de outros trabalhos biográficos, como o livro “Vidas Partidas”, no qual conta histórias de mães que perderam filhos.
De acordo com o professor, a gênero biografia contribui para fomentar a cultura do país e para registrar a sua história. Até por conta da sua aceitação pelo público e pelas suas características. A única ressalva que ele faz é que a discussão deve se centrar na qualidade das apurações realizadas pelos biógrafos e afirma que ela não seria resolvida pela censura antes das publicações.
O convidado da Academia Saltense de Letras desenvolveu exatamente esse trabalho na produção de “O Discurso Biográfico na Televisão”, que escreveu em parceria com Duílio Fabbri Júnior para resgatar a memória e as condições de produção em um programa elaborado para falar de Santos Dumont, o pai da aviação por meio da EPTV, emissora de Campinas afiliada da Rede Globo.
Perspectivas
Ormaneze destacou também que a produção de biografias está enraizada na formação de novos profissionais de jornalismo, como observou na Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. Segundo ele, cerca de 30% dos Trabalhos de Conclusão de Curso dos formandos da universidade estão entre os que optam por produzir livro-reportagem, que são nada mais nada menos que biografias.
Além da sua formação, Fabiano Ormaneze é especialista em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário e, como professor na PUC-Campinas, é o responsável pelo curso de extensão universitária Jornalismo Literário: Perfis, Biografias e Narrativas de Viagem, além de autor de “Do Jornalismo Literário ao Científico, Biografia, Discurso e Representação”.
Sua contribuição fechou a programação da Semana Cultural Ettore Liberalesso, que começou com uma mesa redonda sobre jornalismo no interior, continuou com a discussão sobre os embates do direito com a literatura e uma missa pelos acadêmicos mortos. “Que felicidade poder comemorar o sucesso da realização da nossa semana. Cumprimento e agradeço a todos que ajudaram na organização”, disse Anita.
Para Alfredo Attié, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a produção literária precisa ser respeitada
O desembargador Alfredo Attié, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, convidado da Academia Saltense de Letras para a segunda noite da 6ª edição da Semana Cultural Ettore Liberalesso, na quinta-feira (30), deu uma esperança aos escritores ao afirmar que eles podem escrever sobre o que quiserem.
A palestra “A Liberdade de Expressão do Escritor e o Direito”, proferida pelo magistrado, era aguardada com ansiedade pela classe devido aos inúmeros embates que vários autores pelo Brasil enfrentam na justiça por conta das obras que publicam e dos assuntos que escolhem abordar em suas produções literárias.
O caso mais rumoroso atualmente é o do escritor João Paulo Cuenca, que sofreu nada mais nada menos que 126 processos por conta de uma frase que publicou no twitter. As ações vêm se sucedendo desde 2020 e movimentam uma legião de pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, instituição evangélica de Edir Macedo, que se dizem prejudicados e exigem reparação.
A frase do escritor é uma interpretação da famosa frase de Jean Meslier (1664-1729) — erroneamente atribuída a Voltaire —, que disse, no século 18, que “o homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”. Cuenca postou que “o brasileiro só será livre quando o último Bolsonaro for enforcado nas tripas do último pastor da Igreja Universal”.
Independentemente do caso desse escritor, o desembargador condicionou sua afirmação, de que se pode escrever sobre o que o autor quiser, à necessidade de se ater à verdade. Na opinião do magistrado, o escritor não pode inventar nada envolvendo fatos reais, como em uma biografia, por exemplo, mesmo que não seja autorizada, pois isto tiraria a sua liberdade legal.
Mestre em Direito e Doutor em Filosofia, ambos pela Universidade de São Paulo, o magistrado Alfredo Attié situou sua argumentação em conceitos de filosofia e de filosofia do direito para abordar o assunto com mais profundidade. Também usou sua experiência com obras como as que escreveu intituladas “A Reconstrução do Direito” e “Montesquieu”, nas quais exercita a sua tese.
O juiz Alfredo Attié, a presidente e a vice da Academia Anita Liberalesso Neri e Marilena Matiuzzi e o reitor do Ceunsp Marcel Fernando Cardozo
Para a presidente da Academia Saltense de Letras, Anita Liberalesso Neri, Cadeira 11, patrono Odmar do Amaral Gurgel, a palestra do magistrado trouxe luz a um assunto que vem preocupando escritores desde sempre. “Dr Attié nos fez refletir sobre a continuidade das questões éticas que permeiam nossas relações com os meios de comunicação”, disse.
A vice-presidente da Academia, Marilena Matiuzzi, Cadeira 39, patronesse Cora Coralina, também elogiou a palestra do desembargador, para quem o assunto foi totalmente esgotado. “Ele fez uma explanação em um nível muito elevado. Gostei da argumentação filosófica e da abordagem sobre o conceito do que seja a identidade de cada um”, afirmou.
O assunto é tão palpitante no meio literário que dois integrantes da Academia Saltense de Letras, Romeu Bicalho, Cadeira 19, patrono Olavo Bilac, e Leandro Thomaz de Almeida, Cadeira 33, patrono Luiz Castellari, estão produzindo juntos um livro que vai tratar dos principais processos envolvendo ações contra escritores.
A dupla relatou alguns casos, como o do escritor Ricardo Lísias, de Campinas, autor de “Diário da Cadeia”, Record, que foi processado pelo ex-deputado federal Eduardo Cunha (PTB). “Queremos criar informação para auxiliar juízes ao julgar ficção, porque temos visto que a forma de encarar a ficção não está correta”, disse Leandro.
“O assunto é palpitante e cheio de conflitos. Merece uma discussão à luz da legislação”, afirmou Romeu. A publicação ainda não tem data. “Estamos na fase da pesquisa e da reflexão, mas logo teremos novidades”, adiantou Leandro. Ambos consideraram que a palestra de Alfredo Attié trouxe mais luz para as suas abordagens.
Escritora está terminando um livro de crônicas, tem um ensaio quase pronto e ainda escreve um diário de viagem
A escritora, poeta e advogada Marilena Matiuzzi, Cadeira 39 da Academia Saltense de Letras, patronesse Cora Coralina, trabalha na preparação de três livros ao mesmo tempo. “Estou terminando um livro de crônicas. Tenho um ensaio quase pronto também, que deve se chamar “Cantares de Eva”. E ainda faço um “Diário de Viagem”.
Aniversariante da sexta-feira, 24 de março, ela não sabe quando fará os lançamentos e nem se será uma festa lançar três livros ao mesmo tempo. Tudo por causa de uma das razões que mais a tem afastado da literatura: a falta de tempo. Ela mesma admite que a razão para isso é a entrega de corpo e alma ao trabalho como advogada, onde também se realiza ao promover justiça.
Desde a formação em Direito, Marilena já fez especializações em Direito da Mulher, Direito de Família e Direito Processual Civil abraçando uma gama de causas que têm muito a ver com o social e com os que mais precisam, e fez também uma pós-graduação em Direito Constitucional e uma especialização ainda em outra área que procura entender o ser humano mais à miúde, a psicanálise.
Mesmo assim, a relação com a literatura é um traço forte da sua formação. “Vivencio literatura desde que me conheço por gente. Sempre amei a literatura, os bons livros, ler, falar sobre eles, escolher, enfim, é parte da minha vida esse envolvimento”, afirma. Ela destaca que gosta demais dos clássicos, mas é aberta aos novos talentos e, entre os gêneros literários, gosta mais da boa poesia.
Por essa razão, suas incursões pela carreira de escritora começaram pela poesia com os livros “Inquietação”, lançado em 2011 por incentivo da amiga e ex-presidente da Academia Saltense de Letras Anna Osta, Cadeira 2, patronesse Rachel de Queirós, que sempre acreditou que Marilena tinha algo importante a dizer nessa área, e “Sentires”, lançado em junho de 2022 pela Editora Mirarte.
Se a falta de tempo faz demorar os lançamentos, ela não afasta os planos de futuro da escritora. Marilena Matiuzzi revela que já tem esboços de capítulos, traços de personagens e uma ideia de romance. “Quero escrever um romance. Assim que encontrar tempo para me dedicar a ele, eu vou fazer. É um projeto que quero muito realizar no campo da literatura e vou conseguir”, promete.
Fazendo uma reflexão sobre a sua trajetória, a escritora afirma que perdeu tempo com a política (ela foi vereadora por dois mandatos e a primeira mulher candidata a prefeita de Salto) e diz que agora vai buscar espaço para se dedicar mais à literatura. Essa disputa interna com o Direito brota de todas as formas. Por exemplo, além de escrever e advogar, Marilena Matiuzzi pinta quadros.
A menina que veio ao mundo completamente careca no início da tarde de um 24 de março em Salto, que era tida como muito bonitinha pelos pais (todos os pais falam isso, rsrrs, ela se diverte), hoje mulher, mãe e avó, se diz realizada e feliz. “Tenho uma família linda, com filhos honestos, saudáveis, amorosos, inteligentes e independentes, que me dão orgulho e alegria”.
A alegria com a família vai além do círculo mais próximo. Ela ressalta que tem netinhas que fazem o seu coração transbordar de amor, irmãos e sobrinhos queridos. “Tenho amigos leais. Tenho muitas atividades em uma profissão que amo e que me realiza. Trabalho todos os dias da semana. Participo de várias atividades sociais e culturais. Faço atividades físicas. Vivo bem”.