Tópicos recentes

Sem tópicos.

Fotos relacionadas

Sem fotos.

Vídeos relacionados

Sem vídeos.

Informações gerais

Cadeira: 33
Posição: 2
Data de nascimento: 18/08/1978
Naturalidade: São Paulo/SP
Patrono: Luiz Castellari
Data de posse: 23/11/2019

Biografia

Nasceu em São Paulo, mas logo se mudou para o interior paulista, Capela do Alto. Morou em Campinas, Sorocaba, Cabreúva e, finalmente, Salto. Estudou Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul e Letras pela Unicamp. Fez Mestrado e Doutorado em Teoria e História Literária pela Unicamp e estágios de pesquisa na Universidade de Paris (Paris III) e na Universidade da Califórnia (Davis). 

Bibliografia

Escreveu É necessário queimar os hereges, Sébastien Castellion e a liberdade de opinião na época da Reforma Protestante e organizou o livro Rostos do fundamentalismo: abordagens histórico-críticas. Em parceria com André Casagrande escreveu Uma outra herança reformada - reflexões a partir de Sébastien Castellion. Tem artigos e capítulos de livros publicados sobre teoria e crítica literárias. 

Discurso de posse

Elogio a Luiz Castellari
Discurso proferido por Camila Nunes Thomaz de Almeida

          Estou hoje aqui representando meu marido, Leandro Thomaz de Almeida, que cumpre na cidade de Campinas, exatamente no dia de hoje, compromisso inadiável. É uma pena, porque ele certamente preferiria estar aqui, em meio àqueles que em nossa cidade têm um olhar e um apreço especiais pela cultura.

A ele coube o elogio de seu patrono, Luiz Castellari. Dentre as qualidades de Castellari (entre elas a música, uma de suas paixões), talvez o que mais se destaque seja seu interesse pela história. Interesse confirmado pela suas visitas frequentes a acervos, monumentos históricos e museus, o que rendeu, no final das contas, a publicação póstuma do livro História de Salto, em 1971. É justamente essa curiosidade pelo que foi, essa dedicação por procurar entender o presente pela via da iluminação do passado, essa convicção de que sem o conhecimento de nossa história estamos menos aptos a aprimorar nossas escolhas para o futuro – atitudes que provavelmente animaram Castellari em seus dias – que fazem do interesse pela história e de seu estudo uma necessidade premente de nossa época.

O elogio a Castellari, assim, é o elogio a uma atitude.

Uma atitude mais que necessária nos tempos em que vivemos. Talvez seja uma característica de todos os tempos achar que seu próprio tempo é especial, único, singular. Não precisamos fugir à regra, mas talvez estejamos fadados a reconhecer que nosso tempo atual é singular pela ameaça representada seja por fantasmas do passado, seja por atitudes que acreditávamos indignas de aparecerem em plena luz do dia. Atualmente não é incomum nos depararmos com defensores abertos de ditaduras, do mesmo modo que podemos ler reportagens afirmando a presença de dezenas de células nazistas espalhadas pelo Brasil, embora concentradas em cidades do Sul e Sudeste. Nesses tempos, o conhecimento da história se faz ainda mais urgente e necessário, daí que o elogio a um amante da história acaba por se revestir de significado emblemático. De maneira absolutamente concisa, qual a importância da história para nós? Ou, para dizer de outro modo, por que incentivar o estudo da história a fim de que mais “Castellaris” surjam entre nós? Por três motivos que vão a seguir.

O primeiro é que o estudo da história é eficiente para nos fazer superar o senso comum. Quando se criam certas unanimidades que vão sendo difundidas sem muita base factual, é a história que permite vencer frágeis consensos, na medida em que ela pode trazer o real à tona. Esse gesto da história não deve ser confundido com um apelo ingênuo às coisas “como de fato ocorreram”, porque sabemos que o discurso histórico está sempre dependente de interpretações de fontes diversas. Mas é possível superar a afirmação fácil de que “a verdade não existe”, ou as ideias prontas e largamente difundidas, por meio da investigação cuidadosa e compromissada com a reconstrução verossímil do ocorrido.

O segundo se associa prontamente a essa época – agora sim – de fato singular em que vivemos, na qual há mais apreço pela informação que vem de maneira instantânea e fragmentada pelo dispositivo eletrônico do que por aquela que é adquirida pelo trabalho paciente da leitura e da reflexão. A história não vê o tempo como adversário, por isso ele é seu aliado na elaboração dos significados de nossos gestos no mundo. A velocidade da informação na atualidade é bastante indigesta à reflexão histórica, da mesma maneira que o é para a construção de conhecimentos sólidos sobre nós e nossa forma coletiva de viver. A história é mais lenta, mas mais certeira; nossa impaciência contemporânea encontra aí um antídoto.

Finalmente, a história tem a capacidade de lançar luz nas trevas, convidando-nos a sair da caverna das sombras para a iluminação do dia claro. Esse é um processo constante, por isso constante é a tarefa de quem busca o conhecimento. Mas, como já aprendemos com a filosofia, saber disso, saber que não se sabe, é o primeiro passo para o conhecimento. Alguém duvida de que estamos realmente carentes disso? A história nos guia nessa trilha.

Terminamos, assim, nosso elogio. Elogio a Castellari. Elogio à história de que era amante. Muito obrigado.