cumplices

O grande escritor baiano de Itaparica, na Bahia, João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro, o João Ubaldo Ribeiro, sétimo ocupante da cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras, estava certo quando afirmou, em um artigo intitulado “Precisa-se de matéria prima”, que o problema do Brasil não é a corrupção endêmica, mas sim nós, o próprio povo.

Pelo menos é isto o que ficou sobejamente comprovado em uma pesquisa do Instituto Data Popular, divulgada no início de fevereiro, que ouviu 3.500 pessoas em 146 municípios do país na primeira quinzena de janeiro, afinal sete em cada dez entrevistados disseram cometer algum tipo de atitude ilícita no seu dia a dia.

Essas ações vão desde comprar produtos piratas até a sonegação de impostos, passando por gatos nas contas de tevê por assinatura e pelo uso indevido da carteirinha de estudante, mas apenas 3% dos ouvidos se consideraram corruptos, já que, para a maioria dos entrevistados, corrupto são políticos e empresários que roubam bilhões.

Nada mais hipócrita: o ladrão de galinhas é tão criminoso quanto o político e o empresário que surrupiam milhões ou bilhões. É claro que no Brasil apenas os ladrões de galinha vão para a cadeia, embora em parte isto esteja mudando. Mas não se justifica passar a mão na cabeça de quem rouba galinha para acusar quem leva milhões ou bilhões.

Como João Ubaldo Ribeiro afirma em seu artigo, o problema é exatamente este: nós não temos matéria prima de boa qualidade para escolher representantes no mesmo nível. Assim, os que nos representam, guardadas raríssimas exceções, são aquilo que nós somos. O ladrão de terno e gravata representa o ladrão de galinha.

Em seu artigo, o escritor lamenta fazer parte de um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito aos demais. Mas não basta apenas lamentar. Precisamos sair desse estado de coisas e começar a pensar em uma sociedade para o futuro, uma sociedade nova.

Não porque as pessoas do Brasil de repente vão tomar consciência e começar a mudar o seu comportamento. Na verdade, essa transformação obriga-se a ser feita. Vivemos em um país onde a corrupção está levando todos os recursos ao desaparecimento e não se vive em um país onde falta tudo e não há perspectivas novas.

Precisamos mudar.

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