MORREU HOJE (29/05/2020) o jornalista Gilberto Dimenstein. Suas obras, em especial o “Cidadão de Papel” – ganhador do Prêmio Jabuti, em 1993 – e “Meninas da Noite”, cuja reportagem salvou inúmeras crianças da prostituição no Brasil, embasaram o meu trabalho como professora de História. A ele, que conheci em palestras para professores, dediquei a crônica “O menino torto”, em 2017. Shalom Aleichem, Dimenstein. Grata por ter iluminado tantas mentes com o seu trabalho.

O MENINO “TORTO”

O HOMEM FAMOSO FALAVA como menino, dos seus feitos de infância. Não sobre o destaque em alguma disciplina escolar. Contava sobre fracassos, e sobre o futuro profetizado por algum professor: – Ele vai dar em nada…

Era o típico aluno que desliga da aula e viaja, sabe-se lá para onde. As notas? Sempre abaixo da média. A família judia e tradicional pressionava por um melhor desempenho, que não veio. Escolheu o Jornalismo porque – segundo ele – era a faculdade que menos candidatos tinha por vaga. Simples assim.

Sentada na plateia entre centenas de professores, me lembrei das dezenas de projetos sociais e educacionais desenvolvidos por ele e dos vários títulos publicados, que garantiram, muitas vezes, o sucesso das minhas aulas: “Meninas da Noite”, “Cidadão de Papel”, “Aprendiz do Futuro”…

Comparei o profissional de currículo premiado que eu via com os relatos, e pensei assombrada: – Como é que o menino “torto” deu tão certo?
Nem ele sabia direito. Disse que, em algum momento do percurso, algo lhe despertou o interesse e ele foi atrás para saber; e nunca mais parou.

Gilberto Dimenstein – o homem famoso – ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores no País: Prêmio Nacional de Direitos Humanos, Prêmio Criança e Paz do Unicef e muitos outros.

Com “Cidadão de Papel”, obteve uma premiação inédita para um livro educativo, considerado, em 1994, pelo júri do Prêmio Jabuti, a melhor obra de não-ficção. Foi durante 28 anos colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo.

É palestrante e suas palestras versam sobre educação, novas habilidades do profissional do futuro, tecnologias aplicadas à educação e responsabilidade social. É idealizador do importante site Catraca Livre.

Tudo indica que o menino Dimenstein não era “torto”. Talvez torta fosse a ótica dos professores daquele tempo e – pior ainda – de muitos de hoje, que insistem em rotular e descartar os “tortos”.

Despertar o interesse do aluno diferenciado – aquele “fora dos padrões desejados” – que desliga, fala demais, se rebela ou é “desajustado”, é entregar-lhe a chave que poderá abrir as portas da sua realização pessoal.

Quem disse que é fácil?

O Magistério não é um sacerdócio, ou a curva do rio onde aportam os rejeitos. É uma profissão que, como todas as outras, requer competência para se chegar ao sucesso.

AUTOR: KAuvray
TÍTULO “O menino torto”
ANO – 2017

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