T E M P O S    D E    M U D A N Ç A

A importância da obra literária de Aluísio Azevedo é notória, uma vez que o autor é um dos responsáveis pela introdução e difusão do estilo naturalista no Brasil, e marca uma mudança filosófica no movimento artístico em geral. O estilo naturalista é, segundo alguns especialistas, o mais elevado grau de manifestação do movimento realista. Relembrando a evolução histórica da literatura, temos em oposição ao naturalismo o estilo romancista. Nele ressalta-se o efeito psicológico marcante do universo idealizado e subjetivo por parte dos personagens e que determina todo o curso da obra. Para o naturalismo, porém, o objeto literário é a observação e reprodução direta da natureza do personagem. O homem, tido nos romances como um ser inerte às suas necessidades físicas em detrimento das psicológicas renasce como um ser animalesco e ligado intimamente a natureza, totalmente submisso a ela e aos seus instintos. Surge então um texto sem rodeios ou interpretações, simples, mas de riqueza inigualáveis nas descrições dos personagens, locais e situações.

Observem que o que lhes trago é um relato histórico-artístico-cultural e isso é imutável. Várias linhas de pesquisa acadêmicas ligadas ao tema da CTS – Ciência, Tecnologia e Sociedade convergem na aceitação do momento histórico como uma variável desencadeadora de tais eventos. De forma comparativa, no nosso tempo histórico temos o advento da tecnologia de comunicação e mídias sociais. Este momento está posto e sendo vivido. Caberá a história analisar seus motivadores e efeitos. E isto já está acontecendo, como ocorreu com o naturalismo em seu momento.

Nesse contexto, ou seja, para adentrar na compreensão do contexto histórico da obra de Aluísio de Azevedo, selecionei trechos de uma coluna do Jornal do Recife de 1890, chamada de Artes e Letras e escrita por Oliveira Lima. Nos recortes é possível notar a preocupação do jornalista em mostrar a evolução literária e a valorização do novo estilo. A grafia original foi preservada.

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COLUNA: ARTES E LETRAS

 

 

 

Oliveira Lima, Jornal do Recife, 13 de Fevereiro de 1890

 

Evolução da Litterarura Brazileira

A expressão mais acabada do romantismo, considerado como paixão espontânea sobre o sentimento hierático da tradição clássica, encontramo-la no romance. Elle representa verdadeiro triumpho da vida doméstica sobre a vida pública, do individuo sobre o estado, característico da civilização moderna admiravelmente definido por Guizot e Augusto Comte constituindo a realização perfeita da individualização litteraria de um pais pela íntima harmonia de seus costumes e sentimentos humanos.

[…]

Mas ao lado da vida fluminense, vida fútil da corte, existe a vida provinciana, onde pulsa mais vigorosamente o rude sentir do povo. José de Alencar não foi estranho a esse mundo, pois elle próprio era um provinciano transplantado; vi-o, porém, em um momento de humour,  quando a vida política beliscaram o seu optimismo de homem feliz. A crítica nota com razão a tristeza satyrica que enche o seu excêntrico Gaúcho, refugiado na solidão immensa das pampas em perpetua e cruel revolta contra a sociedade.

[…]

O naturalismo desponta, no exame dos costumes provincianos para alcançar a nota palpitante da realidade anterior, e do estudo da acção da vida social sobre os instinctos physiologicos. São estas em gérmen e o defeito do novo romance moderno a partir da primeira tentativa de Celso de Magalhães. O poder descriptivo attinge em Aluísio Azevedo e José do Patrocínio efeitos sorprehendentes, mas os personagens, muitos delles excellentemente traçados agitam-se sobre a única influencia de agentes de ordem physicologica, como o temperamento a hereditariedade e a raça, sendo nulla a analyse das paixões e das modificações psychicas por efeito de fatores sociaes.

 

Para acessar ao texto integral clique AQUI.

 

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Fabio Cesar de Melo.
3 anos atrás

Aluísio é mesmo genial! Muito bom os aspectos que a publicação enfatizou a respeito do Naturalismo. Me fez refletir muito quando fala sobre a tecnologia da comunicação e as redes sociais como aspectos que marcam e elucidam o nosso tempo presente. Obrigado.

André Palhardi
3 anos atrás

Olá Fábio. Agradeço seu comentário e interesse. O ponto principal é que nem sempre nos damos conta de que vivemos o momento histórico. Somos parte dele e ele de nós.