Jornalista e cronista há mais de 17 anos, o titular da Cadeira 29 da Academia Saltense de Letras interrompeu a atividade pela dificuldade causada por perdas de amigos e por um problema de saúde que o acometeu

 

O jornalista e escritor Jorge Duarte Rodrigues

“Neste ano, escrevi pouco. Seis meses de editorial do jornal Taperá, um breve histórico do meu irmão Hélio Rodrigues, falecido em 2018, para o vol. 2 da revista “Esperança na Dor”; dois textos de despedida aos amigos Valter Lenzi e João Dowa Pittori e uma crônica para a coletânea da Academia Saltense de Letras. Sinto falta. Preciso de mais literatura. Como dizia Manoel de Barros: ‘As palavras me escondem sem cuidado/aonde eu não estou as palavras me acham/quero que a palavra sirva na boca dos passarinhos/só uso a palavra para compor meus silêncios’”.

O lamento pela distância da escrita vem do jornalista e cronista há mais de 17 anos, titular da Cadeira 29, patrono Pablo Neruda, da Academia Saltense de Letras, Jorge Duarte Rodrigues, que aniversaria nesta quinta-feira (26 de outubro) e que vem enfrentando um momento difícil com as perdas de amigos e com problemas com a saúde, que o fizeram interromper a produção do livro de crônicas “Proesias”, cujo lançamento seria no final de 2022.

“Tive de interromper a seleção que vinha fazendo e os preparativos para o livro depois da morte do Valter Lenzi em dezembro, um amigo de 45 anos com quem sempre tive uma relação de irmão. Como trabalhávamos juntos no Taperá, assumi as funções dele e não sobrou mais tempo para nada. Depois perdemos o Dowa, que foi quem descobriu o Valter. Como se não bastasse isso, sofri um infarto há três meses e ainda me recupero. Mas vou voltar à escrita já, já. Isto tem sido a minha vida e eu gosto muito”.

 

Relação antiga

Com acadêmicos, amigos e a namorada em um momento de descontração

A relação com a literatura começou ainda na infância incentivado pelo pai e ganhou efeito definitivo a partir do presente da professora Célia Biston, do antigo primário, o livro “O Soldadinho de Chumbo”, o primeiro conto de fadas de Hans Christian Andersen, publicado pela primeira vez em 1838, que retrata a história de um boneco de apenas uma perna que se apaixona por uma bailarina, também boneca, e que acaba ficando sem ela no final da história.

“Cresci numa casa simples, rodeado de revistas cristãs, histórias de santos, Breviário Romano, Bíblia Sagrada, jornal Diário de SP, lidos avidamente pelo pai, letrado até o 4º ano do Primário pelo “Tancredo do Amaral”. Eu lia tudo o que meu pai trazia para casa, o que não foi suficiente para me tornar um católico fervoroso e praticante igual a ele, mas me deixou perdidamente apaixonado pela literatura, que começou com o Soldadinho de Chumbo”, conta.

Ele chegou a ser supervisor-adjunto do Banco do Commércio e Indústria, ajustador mecânico formado pelo Senai na Eucatex e auxiliar administrativo na Granja Icaraí, mas não conseguiu ficar longe da literatura, pois se tornou proprietário da Distribuidora de Revistas da Editora Abril e da Livraria Bethânia, atividade que durou 27 anos, e em 2005 foi para o jornal Taperá, onde foi revisor, repórter e é editor de Cultura e cronista já há 17 anos ininterruptos.

 

Obras prontas e a fazer

Com Valter Lenzi, uma das perdas de 2022: relação de 45 anos

Autor da biografia do amigo Valter Lenzi “60 anos de Jornalismo”, publicada em 2018, Jorge Duarte Rodrigues também fez a apresentação do livro “Devaneio – Crônicas e Poemas”, dos acadêmicos Lázaro José Piunti e Virgínia Soares Liberalesso, e produziu ainda um dos depoimentos que compõem a biografia do médico e deputado saltense Archimedes Lammoglia, que foi lançada por Lenzi e que homenageou o político tradicional da cidade.

Com a morte de Valter Lenzi, o escritor se tornou curador de três livros que o amigo deixou prontos para serem publicados. O primeiro deles, deverá ser lançado em abril de 2024, intitulado “História dos Cinemas na Terra de Anselmo Duarte”, que foi escrito por Lenzi baseado em registros cinematográficos colhidos por Antônio Marcos de Almeida e com o acompanhamento do secretário de Cultura, Oséas Singh Jr. Os outros dois ainda vão demorar mais.

Fruto de um trabalho de pesquisa de vários anos, o livro “Vias Públicas Saltenses e Logradouros Públicos Municipais” trará um histórico completo das vias da cidade. A outra obra é o volume três da série de biografias elaboradas por Lenzi e cujos volumes 1 e 2 foram lançados em vida ainda. Intitulado “Quem Foi Quem – Saltenses Que Merecem Ser Lembrados” traz várias histórias da vida de saltenses ou pessoas que escolheram Salto para viver.

 

Carreira premiada

Com a filha Camila e o genro Lennon

Entre os principais prêmios como escritor está o de ter ficado entre os 20 melhores cronistas do Prêmio de Literatura da Universidade Federal Fluminense, de Niterói (RJ), que, ao lado das 20 melhores poesias e 20 melhores contos, compôs a Antologia do Cinquentenário da Universidade. Outra premiação importante foi o primeiro lugar no Festival de Poemas de Cerquilho, do qual participaram 220 escritores de 19 Estados brasileiros e um do Japão.

Jorge Duarte Rodrigues orgulha-se de ter sido indicado para integrar a Academia Saltense de Letras por Valter Lenzi e ele, Jorge, ter indicado a poetisa Virgínia Soares Liberalesso e o seu neto Paulo de Tarso Liberalesso Filho e depois, no final de 2022, ter indicado, ao lado de Valter Lenzi, o empresário João Marcos Andrietta como Membro Honorário da entidade. Andrietta está acamado há 13 anos e sofre da Esclerose Lateral Amiotrófica.

Mesmo assim, o empresário escreveu quatro livros usando apenas o toque com os lábios em um mouse adaptado para digitar. O mais importante deles conta o passo a passo de como adoeceu, como vive com a doença e como espera a cura, intitulado “Momento de Viver”. João Marcos escreveu também “Reflexões das Cartas de Frederico Ozanam”, “Servir com simplicidade” e “Sinal de vida”, além dos volumes 1 e 2 da revista “Esperança na Dor”.

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