REALIDADE

Eu lembro bem, ontem corri uma maratona juvenil pelas ruas da minha cidade, mergulhei num ribeirão, nadei numa piscina de clube, corri atrás de bola, disputei campeonato de futebol, dancei, beijei algumas bocas, fui rei num castelo de ilusão, varri casa, tirei o pó da saudade; de repente a luz apagou, e acordei tossindo a realidade, olhei ao redor a bola estava murcha, a chuteira sem trava, não havia mais campo, nem plateia, o sol e a lua permaneciam , quem não brilhava eram os flashes da minha apoteose. O meu corpo dorido revelava a falência do tempo. Quis argumentar, mas as rajadas de vento levavam os murmúrios para os caminhos do esquecimento. Faltava-me ar para rebelar-me contra não sei o que. Acho que a realidade me tossiu, e num acesso colocou-me fora do sistema, contudo, rebelde como sou ainda estou aqui.

 

Autor Andrade Jorge, Acadêmico da Academia Saltense de Letras, Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro

07/12/2022

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